Pratique, Yoga na Vida

Īśvara no Yoga: o Yoga da Vida [parte 3]

Os caminhos do karma podem parecer complexos, mas uma coisa é certa: cada fruto de cada ação é entregue pelas leis de Īśvara, que são sempre justas e adequadas. Assim, quando penso nos meios que escolho usar para conquistar os fins que me proponho, preciso levar em consideração o bem comum. Pensar que o fim justifica os meios é a pior maneira possível de olhar para as coisas no caminho da espiritualidade.

· 4 minutos de leitura >

Este é o terceiro e último de uma série de três textos tem como propósito esclarecer alguns pontos importantes em relação a Īśvara, a Inteligência Universal, o que significa Īśvara nas nossas vidas e como se relaciona com o Yoga da Vida, Karma Yoga.

O primeiro texto está aqui: Īśvara no Yoga: Praticar Vida? [parte 1]
O segundo texto está aqui: Īśvara no Yoga: Karma e Dharma [parte 2]

॥ हरिः ॐ ॥

Īśvara na Vida

Īśvara não é somente a causa dos frutos dos karmas, mas é igualmente o próprio dharma. Ele transcende tempo, espaço, lugar e circunstância.

O dharma é uma manifestação dessa imanência de Īśvara, na mente e o coração de todos.

Vivendo cientes disso, não precisamos buscar mais nada. Podemos prescindir de todas as muletas, pois estamos em harmonia com o Todo.

Assim, podemos ter o número de desejos ou ambições que quisermos, mas vivemos em paz com eles.

Um bhikṣu, um monje mendicante ambiciona ter um pote novo. Um empresário quer ser dono de mais uma corporação. Ambos são desejos.

Não a diferença entre eles. O que vale é a maneira em que cada um lida com os desejos e a maneira em que cada um está disposto a agir para realizá-los.

Agindo dhármicamente, observando a atitude de entregar os karmaphalas a Īśvara, ambos estarão agindo da maneira certa.

Se o bhikṣu porventura quiser obter seu pote da maneira errada estará atropelando o dharma. Se o empresário cultivar a atitude errada, estará também atropelando o dharma.

Mas em todo caso cabe lembrar que uma vida de dharma é uma vida na qual não existe aquele ioiô emocional no qual ficamos escravos dos rāgas e dveśas, nossos gostos e aversões.

Assim, faço o que tenho que fazer e evito me tornar escravo dos meus desejos. Aprendo a amar o que faço, ao invés de pretender somente fazer o que quero. Isso é Karma Yoga.

Compreendo que o bem comum se sobrepõe aos meus gostos ou preferêncas pessoais. E que devo me concentrar naquilo que precisa ser feito.

Essa é a diferença entre a ação deliberada, harmonizada com o dharma, e a espontânea, que nem sempre coincide com ele.

O Karma Yoga é para yogis que têm como objetivo a liberdade. Para isso, precisammos de conhecimento, de maneira que possamos nos livrar das garras dos rāgas e dveśas.

Assim, não praticamos Karma Yoga mas vivemos uma vida de Karma Yoga, com as atitudes e os valores corretos.

Īśvara Yoga praticar vida

O fim não justifica os meios

Os caminhos do karma podem parecer complexos, mas uma coisa é certa: cada fruto de cada ação é entregue pelas leis de Īśvara, que são sempre justas e adequadas.

Assim, quando penso nos meios que escolho usar para conquistar os fins que me proponho, preciso levar em consideração o bem comum.

Pensar que o fim justifica os meios é a pior maneira possível de olhar para as coisas no caminho da espiritualidade.

O reconhecimento de que o fim não justifica os meios já torna meus empreendimentos bem-sucedidos pois compreendo o pano de fundo maior sobre o qual opera a lei do karma.

Desta maneira, entra aqui em jogo a definição de Karma Yoga como perfeição na ação que vimos na segunda parte deste texto.

Sendo quem sou, represento diferentes papéis, que têm diferentes roteiros, em relação às diferentes posições que ocupo na sociedade. Em relação ao meu pai e à minha mãe, sou filho.

Em relação aos meus irmãos e irmãs, sou irmão. Em relação ao meu cónjuge, sou esposo ou esposa. Quem é que define esses papéis?

Digamos que você tenha uma pilha de roupa para lavar. Quem é que lhe faz lavar a roupa? Ninguém. Você faz isso sozinho. Ninguém precisa lembrar para você de fazer essas coisas.

Você as faz, pois é responsável. Você não precisa de mandatos para saber o que tem que fazer enquanto pai ou mãe dos seus filhos.

Isso é algo muito característico da cultura védica: aquilo que deve ser feito, o dharma, é Īśvara.

E isso não tem nada a ver com a sociedade, com o político que estiver no poder, nem com a sua família. É Īśvara.

Aquilo que tem que ser feito e o dharma, e o dharma é Īśvara. Assim, através de esse olhar, você pode perceber absolutamente tudo o que você faz, como Īśvara. Isso é Karma Yoga.

Svākarma: faça o que tem que ser feito

No fim da Bhagavadgītā, Kṛṣṇa diz para Arjuna “atendo-se ao seu próprio dever, adorando àquele que é o criador de todos os seres e que tudo permeia, o homem conhece o sucesso” (XVIII-46).

Portanto, fazer seu próprio dever é adorar Īśvara. Fazer svākarma, aquilo que deve ser feito em cada tempo e lugar, é venerar Īśvara.

Então, aquilo que deve ser feito é karmaṣu kauśalam, perfeição na ação. Representar papéis não é simples.

Sempre há um roteiro, um elenco, e às vezes há omissões da parte de outras personagens, ou pessoas fazendo a coisa errada.

Coisas irrelevantes são destacadas e coisas relevantes são esquecidas. E nos focamos em fazer nosso dever. Podemos, se for o caso, suprir as omissões de outrem para que a peça continue.

Se, estando no trânsito, o sinal abre, isso não significa que você possa sair acelerando.

Você deve olhar para os lados antes de acelerar pois às vezes os semáforos falham ou os outros usuários das ruas não dirigem da maneira certa e você precisa compensar isso.

É assim que você se torna um contribuidor para a sociedade.

Svādharma é seu dever, sua própria contribuição para o bem comum, para o dharma. Svākarma é o que você tem que fazer.

Compreendendo que devo me concentrar no meu dever, contribuo positivamente para o bem comum por um lado, e encontro a tranquilidade por outro.

A vida no saṁsāra, no mundo das responsabilidades e funções, está aí para nos dar algum tipo de maturidade. O casamento, por exemplo, nos dá essa maturidade.

Criar os filhos nos traz também a maturidade necessária para compreender a afirmação “eu sou o Todo”, aham Brahma’smi.

Essa preparação é alcançada através de uma vida de Karma Yoga. Daquilo que chamamos o estilo de vida do Karma Yoga.

Karma Yoga secular?

Não há Karma Yoga secular. Não há Karma Yoga sem Īśvara.

Alguns praticantes, ao não compreender Īśvara, tentam dar uma visão secular da vida de Karma Yoga, mas a verdade é que ele não existe sem Īśvara.

A quem é que você vai dedicar os karmaphalas, os frutos das suas ações? Sem Īśvara, não há vida de Karma Yoga.

Um karmayogin é um bhakta, um devoto, e um bhakta é um karmayogi. Lembremos disso. Boas práticas. Boa vida.

॥ हरिः ॐ ॥

Veja a segunda parte deste texto aqui. A primeira parte encontra-se aqui. Baseado nos ensinamentos de Swāmi Dayānanda Saraswati.

Īśvara

॥ हरिः ॐ ॥

Website | + posts

Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos

suryabhedana

Sūryabhedana: a Respiração Solar

Pedro Kupfer em Prāṇāyāma, Pratique
  ·   1 minutos de leitura

O que traz paz ao dia-a-dia?

Pedro Kupfer em Pratique, Yoga na Vida
  ·   2 minutos de leitura

4 respostas para “Īśvara no Yoga: o Yoga da Vida [parte 3]”

  1. VOCE PODE ME AJUDAR A INTERPRETAR O VISHNU PURANA SEM UMA PERSPECTIVA HARE KRISHNA?

  2. Qual a diferença de uma vida de Karma Yoga, que como está aqui apresentada entendo como uma vida que segue valores (universais), e uma vida de Dharma?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *