Meditação, Pratique

Meditação nos Desejos

Os desejos são parte fundamental da ordem psicológica humana. O problema não é o desejo mas a maneira em que lidamos com ele. Uma coisa é termos desejos, o que é perfeitamente natural. Outra, muito diferente, é sermos governados por eles.

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ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ Hariḥ Oṁ.

Está é a meditação sobre os desejos. Convido você para iniciar a prática agora. Para tanto, sente-se numa postura naturalmente ereta e observe sua respiração por um momento.

Perceba como esta tomada de consciência do fluxo natural da respiração estabiliza e harmoniza os seus pensamentos.

Ter desejos é um privilégio

Desejar é um imenso privilégio do qual os humanos somos dotados. Pense em todas as conquistas e realizações da Humanidade. É tudo fruto do desejo.

A música, a dança, as línguas, os alfabetos, as ciências, são unicamente o fruto do desejo pela autosuperação, do desejo por saúde e longevidade, do desejo de encontrar maneiras de expressão criativa ou achar respostas às grandes questões.

Os desejos são parte fundamental da ordem psicológica humana. O problema não é o desejo mas a maneira em que lidamos com ele.

Uma coisa é termos desejos, o que é perfeitamente natural. Outra, muito diferente, é sermos governados por eles.

Noutras palavras, não há nada de errado em desejar, mas precisamos ter cuidado para não nos tornar escravos dos desejos.

Sem desejos não conseguimos realizar nada. Sem desejos não podemos nem sequer escolher a roupa que vestimos ou a comida que colocaremos no prato.

Portanto, não temos necessidade de negar os desejos, nem de nos sentir culpados por dedicar esforço e energia para realizá-los.

Ainda assim, precisamos igualmente levar em consideração que, por desejáveis que sejam os desejos, eles não são e nunca serão uma fonte de felicidade ou realização pessoal. Isto deve ficar claro: a felicidade não depende da realização dos desejos.

desejos

Por outro lado, os desejos são infindáveis: cada um dá origem a outro. Se tivéssemos que realizar todos os nossos desejos para depois sermos felizes, nunca conseguiriamos ter felicidade.

A plenitude não é o resultado de um desejo, nem uma ação, nem uma experiência, nem o fruto de uma ação.

É simplesmente o reconhecimento de que, presente em cada pensamento, em cada desejo, em cada ação, em cada emoção, há uma luz que ilumina todas essas instâncias. Essa luz é a luz da Consciência que você é.

Há muitas práticas através das quais podemos aplicar esta visão. Uma delas é dedicarmos tempo e esforço em prol do bem-estar dos demais. Assim, aprenderemos a tirar o foco do nosso próprio ego.

Quando nos dedicamos, mesmo que seja por um momento só, a cuidar de reduzir o sofrimento do outro e a reconhecer a Consciência que também é o outro, conseguimos redimensionar de forma realista os nossos desejos. Por sua vez, isso nos permitirá perceber que eles perdem a força.

Dois tipos de desejo

Agora, existem dois tipos de desejo. De um lado, aqueles que estão vinculados com suprir as nossas necessidades básicas, como saúde, nutrição e descanso adequados.

De outro, aquilo que não é essencial para nossa sobrevivência, mas que nos traz prazer, conforto ou satisfação.

Qualquer desejo, seja do tipo que for, deve estar alinhado com o bem comum.

Noutras palavras, precisamos pensar se temos o direito de realizar desejos que possam atropelar o direito dos demais, ou fazê-los sofrer. Se esse for o caso, seria melhor nos abster de realizá-los.

Uma forma bem eficiente de lidar com vontades muito persistentes, ou sobre os quais tenhamos dúvidas, é evitar o primeiro impulso de satisfazê-los.

Ou seja, aprendermos a resistir e contar até dez antes de nos lançar à realização de vontades. Dessa maneira, nesse período poderemos ponderar se estão alinhadas com o bem comum e se de fato precisamos realizá-las.

Então, voltando ao início, lembremos que desejar é o que nos faz humanos. Tomando os desejos como a bênção que são, e apreciando-os objetivamente, evitaremos projetar a nossa felicidade neles, como vimos ao começar.

Demos as boas-vindas ao desejo. Reconheçamos o poder que ele tem sobre nós. E reconheçamos também que não precisamos realizá-lo nem negá-lo para sermos felizes. Assim, viveremos felizes antes do desejo, durante o desejo, e depois dele.

Bom, concluímos aqui. Lentamente, volte a observar a sua respiração natural, e observe por um momento as sensações físicas. Abra os olhos devagar e prepare-se para viver consciente e tranquilo os próximos momentos.

É meu desejo que você consiga uma relação equânime com os seus desejos. Tudo de bom!

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ.

॥ हरिः ॐ ॥

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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2 respostas para “Meditação nos Desejos”

  1. Obrigado pelo texto, muito claro e didático , vai me ajudar nas minhas meditações e também vai me ajudar e explicar o tema a algumas pessoas.

    Abraço,
    Om

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