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Evidências que refutam a teoria da invasão ariana

Nas últimas duas décadas, uma enorme quantidade de provas que refutam a teoria da invasão ariana, variadas e convincentes, foram levantadas por cientistas, investigadores e eruditos dos Shastras e de outras fontes literárias, historiadores, arqueólogos, médicos, lingüistas, matemáticos, astrônomos, hidrólogos e geólogos.

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Nas últimas duas décadas, uma enorme quantidade de provas, variadas e convincentes, foram levantadas por cientistas, investigadores e eruditos dos Shastras e de outras fontes literárias, historiadores, arqueólogos, médicos, lingüistas, matemáticos, astrônomos, hidrólogos e geólogos. Nós as classificamos aqui por disciplinas: arqueologia, paleoliteratura, paleolingüística e outras ciências. A seguir apresentamos as argumentações de cada uma delas.

Argumentos arqueológicos

1) A arqueologia processual, método de trabalho empregado pela nova geração de arqueólogos, concebe “uma civilização como o produto de um longo processo de evolução e mudança cultural que envolve longos períodos de tempo e amplas extensões de terra, e não algo que acontece da noite para o dia.” S. P. Gupta, The Indus-Saraswatí Civilization, p. V. O que surge com total clareza deste novo método de trabalho é o surpreendente continuum entre as culturas do Indus-Saraswatí e do Ganges. Essa continuidade evidencia-se na tradição oral, na cosmogonia, na cerâmica, na arquitetura, na linguagem e nos sistemas de pesagem e medição.

2) A recente descoberta da cidade de Mehrgarh, cujas origens remontam ao período entre 8215 e 7215 a.C., revelou o uso de cobre (ayas, em sânscrito), o plantio de cevada e a criação de gado na área, desde muito cedo. Cobre, cevada e gado são alguns dos elementos mais importantes e característicos da cultura vêdica. Isto, junto com o achado de altares domésticos de culto ao fogo em Harappá, Mohenjodaro e outras cidades, refuta os argumentos dos primeiros arqueólogos, que afirmaram a inexistência de elementos vêdicos nas ruínas que exploraram. O preconceito e a visão distorcida da História cega o cientista. Porém, mais uma vez, os fatos falam por si próprios.

3) “No horse, no Aryans” afirmava Sir Mortimer Wheeler. Segundo o modelo da AIT o cavalo era desconhecido para os harappianos, havendo sido introduzido durante a ocupação do norte da Índia pelos invasores, como aconteceu no Oriente Próximo no fim do II milênio a.C. Não obstante, a presença de ossos eqüinos em assentamentos humanos, alguns anteriores ainda à civilização harappiana, indica a domesticação do cavalo e reforça a identificação entre a cultura do vale do Indus e a vêdica, posto que há igualmente inúmeras referências ao cavalo e seu uso no Rig Veda.

4) Escavações recentes na cidade submersa de Dwáraka, datada de 1500 a.C., revelaram mais uma prova da seqüência cultural que preenche a lacuna que foi chamada idade escura da história indiana: o período de mais de 1000 anos que teria começado imediatamente após a “invasão” ariana e estender-se-ia até o inexplicável “surgimento” da cultura da planície gangética e a chegada providencial das hostes de Alexandre Magno (sempre Ocidente nos salvando e “civilizando”…). Dwáraka, que aparece no Mahabhárata como moradia de Krishna, é uma cidade portuária maior que Mohenjodaro, a maior das cidades achadas até o momento. O achado de artefatos de ferro e de um sistema de escrita intermediário entre a do Indus e o brahmí fortalecem esta posição.

5) A queda do mito do “massacre” de Mohenjodaro. Os teóricos que sustentaram esta opinião, nas primeiras décadas do s. XX, são J. Marshall e M. Wheeler. Este último achou mais de trinta esqueletos em diversas partes da cidade, em pequenos grupos de seis ou menos, e concluiu que teria havido um massacre das populações nativas, pois os corpos apareciam desajeitadamente jogados no chão. Se não foram Indra & his boys que produziram o massacre, o que foi mesmo que aconteceu? Em anos recentes, os arqueólogos K. A. Kennedy e G. F. Dales provaram com total certeza que os investigadores acima mencionados erraram ao interpretar a causa das mortes no assim chamado “massacre.” Em verdade, os corpos jaziam em casas, ruelas e escadarias. Porém, dos mais de trinta esqueletos achados, somente dois ou três apresentam marcas de feridas. Mesmo assim, estas não foram fatais, porque as vítimas tiveram um mínimo de três meses para poder curar-se antes de morrer. Numa palavra, não foram mortos lutando. A explicação proposta para a aparição dos corpos em posições incomuns é que se trata de vítimas de súbitas e violentas inundações produzidas pelo aumento do nível das águas do Indus. Essas pessoas, surpreendidas pela inundação, não teriam tido tempo de fugir. Também ficou provado que as referidas vítimas pertenceram a pelo menos três diferentes períodos da história da cidade.

Argumentos paleoliterários

6) O primeiro argumento que a literatura nos fornece é a total ausência de hostilidade ao longo de toda a História entre a Índia do norte (supostamente ocupada à força pelos arianos) e a do sul (terra da ‘resistência’ dravídica), também como a inexistência de afirmações ou registros nos textos vêdicos, purânicos, jainas ou budistas que possam identificar os áryas como invasores. Muito pelo contrário, diversos hinos declaram o amor do povo vêdico pela terra em que habitaram desde sempre. O Rig Veda, datado de antes do ano 4000 a.C., descreve um tipo de clima, geografia, fauna e vegetação que coincidem com os da Índia setentrional. Também não há nenhum registro desta invasão na memória coletiva ou nas tradições dos descendentes dos supostos derrotados, os drávidas.

7) Há ainda a questão dos Puránas (crônicas antigas). Este termo foi originariamente aplicado às lendas cosmogônicas especulativas pré-históricas e, posteriormente, às coleções de tradições antigas. Os Puránas incluem relatos sobre o início da civilização (o domínio do fogo, o dilúvio, as grandes migrações, genealogias de famílias reais que remontam há mais de 5000 anos), instruções sobre o ritual e conhecimentos técnicos (medicina, arquitetura, artes, etc.). As genealogias neles registradas encaixam perfeitamente neste “novo” modelo da história indiana. Registros feitos por viajantes gregos reportam a existência de cronologias reais que datam do V milênio a.C.

8) Um dos paradoxos da teoria da invasão ariana, colocado pelo Dr. David Frawley, diz respeito às heranças deixadas por estas duas culturas, supostamente antagônicas. Como pode a civilização harappiana, que chegou a abrigar mais de 30 milhões de indivíduos, ter progredido tanto materialmente sem deixar o mínimo registro oral ou escrito? Por outro lado, os arianos, supostamente um conjunto de hordas bárbaras, de pastores nômades e guerreiros ‘destruidores de civilizações’ que teria chegado à Índia cavalgando, nos legou os Vedas e as Upanishads, algumas das mais belas obras da história da literatura antiga, nas quais inclusive o Yoga já aparece. O bom senso indica que ambos legados foram deixados pela mesma civilização, na qual coabitavam em harmonia indo-europeus e drávidas, tal como sucede na Índia até hoje. Não estamos querendo justificar com isto algumas atrocidades cometidas sob o regime de castas (aliás, bem posterior à cultura do Indus-Saraswatí) mas deixar claro que o povo vêdico era uma sociedade humana como outra qualquer e que não merece de forma alguma o estigma de crueldade que lhe foi imputado.

9) As extensíssimas literaturas vêdica e purânica não fazem menção a nenhuma destruição massiva. Os conflitos que aparecem nos Vedas dizem respeito ao confronto entre as forças da Natureza, guerras entre o povo vêdico e o iraniano e escaramuças locais entre grupos da mesma cultura pelos recursos da terra. Nada de massacre, nada de holocausto. Esta afirmação, estereotipada e leviana, da existência de um massacre não se sustenta numa leitura isenta e cuidadosa dos textos vêdicos.

10) O professor Colin Renfrew analisa algumas evidências sobre a inexistência desta invasão, extraídas da literatura vêdica: “Muitos autores têm indicado que alguns dos inimigos [dos ários] que se mencionam com maior freqüência são os dashyus. Muitos comentaristas pensam que os dashyus representam a população originária, de fala não vêdica, expulsos da zona pela incursão dos guerreiros ários com suas carruagens de guerra. Na minha opinião, não há nada nos hinos do Rig Veda que demonstre que a população de fala vêdica fosse intrusa na área: esta idéia parte da presunção histórica da ‘chegada’ dos indo-europeus. É induvitavelmente certo que os deuses invocados ajudam os ários destruindo praças de guerra, o que não significa que os ários não tivessem suas próprias fortalezas. Como tampouco se deduz da maior agilidade no campo de batalha propiciada pelo cavalo (que servia clara e primordialmente para puxar as carruagens de guerra) que os que escreveram estes hinos fossem nômades.” Arqueología y Lenguaje, p. 152. E mais adiante, na mesma obra: “No Rig Veda não há fundamento algum que induza a pensar que os ários fossem deficientes em fortins, praças de guerra ou cidadelas. Trabalhos recentes sobre o declínio da civilização do Vale do Indus mostram que não houve uma só e única causa: não existe fundamento algum para culpar hordas invasoras da sua desaparição. Melhor, pode ter se tratado de uma desintegração do sistema, seguida provavelmente de movimentos locais da população. Além do mais, a cronologia que avaliza a teoria dos invasores ários é decididamente discutível.” Op. cit., p. 157.

11) A manipulação dos mitos de qualquer cultura feita por investigadores, historiadores e outros especialistas, tem como único resultado aniquilá-los. Tanto pretender encontrar a ‘base histórica’ quanto transformar um mito num fato real, são estratégias inescrupulosas que ocultam com habilidade o único que deveria prevalecer: a verdade histórica. Em referência à cultura indiana, temos dois exemplos extremos. O primeiro é a batalha entre Indra e o dragão Vrtra no Rig Veda, que foi interpretada de forma tendenciosa, porém, totalmente inconsistente como alegoria do massacre dos drávidas pelos arianos. Já J. Chevalier vê neste episódio a luta entre dois fogos: “o dragão representa aqui a seca que Indra, liberando as águas com seu raio, faz desaparecer: simboliza o princípio de fecundidade, fonte da sua monarquia sobre o mundo. O dragão é o fogo dessecante, o raio o fogo fertilizante.” Diccionario de los Símbolos, p. 873. Vrtra impede que as águas fluam, tanto as das chuvas como a que provêm das montanhas, rios e mananciais. Indra, deus das tempestades, matador do dragão do qual surge o soma, é o imolador que traz a chuva, renova a fecundidade da terra e restabelece a ordem no mundo. O segundo exemplo tem como protagonista a figura de Krishna. Os hindus sempre sustentaram que foi um personagem histórico. Apoiavam sua convicção no Mahabhárata. Porém, os historiadores britânicos subestimaram esta epopéia e todas as demais, com o argumento de que seriam pura ficção. Na década de 1980, o arqueólogo marinho S. R. Rao descobriu Dwáraka e Bet Dwáraka sob o mar, frente às costas do Gujarat (ver argumento 4). Recém então, a evidência arqueológica deu razão à epopéia. Heinrich Schliemann, o arqueólogo diletante que achou a fabulosa cidade de Tróia guiado pela leitura atenta da Ilíada e a Odisséia, tampouco foi levado a sério por seus contemporâneos até que mostrou com sua descoberta que Homero havia registrado fatos históricos e não ficção poética. Tido em princípio como um romântico incurável, acabou sentando as bases da arqueologia moderna. Deve ter servido de inspiração a Rao.

12) Há profusas provas arqueológicas e literárias indicando que, ao contrário do que se acreditava até as primeiras décadas deste século, uma Völkerwanderung ariana – diferente da dos hititas, mitani e kassitas – deu-se por volta do II milênio a.C., desde a Índia em direção ao Irã e Oriente Próximo, o que explicaria a origem comum do sânscrito e das línguas européias. Noutras palavras, os arianos não chegaram à Índia, mas saíram dela nessa época, impelidos pelas causas referidas acima (c.f., In Search of the Cradle of Civilization, p. 155).

Argumentos paleolingüísticos

13) Segundo o Dr. Dinesh Agrawal, “os defensores da AIT argumentam que os habitantes do vale do Indus eram adoradores de Shiva e que, como o culto de Shiva predomina entre os habitantes dravídicos da Índia do sul, da mesma forma, os habitantes do vale do Indus seriam drávidas. Porém, o culto de Shiva não é alheio à cultura vêdica nem está confinado exclusivamente ao sul da Índia.” Esta afirmação sobre o culto de Shiva no sul da Índia é um silogismo tendencioso. No Sanskrit-English Dictionary, de M. Monier-Williams (pp. 1069 e 1053), consta que os nomes Shiva e Shambhu derivam das raízes sânscritas shi (auspicioso, gracioso, benévolo, prestativo, amável) e shama (tranqüilidade, paz) e não das palavras tamis chiva (enrubescer, ficar furioso) e chembu (cobre, metal avermelhado). Os mitos de Shiva remetem ao Himalaya. Os centros shivaístas mais importantes da Índia, Kailash, Abu, Varanasi (Benares), Haridwar e Gangotri estão todos no norte do país. Se os drávidas do sul tivessem tanta ojeriza aos arianos do norte, jamais teriam estabelecido seus lugares de culto na zona ocupada pelos “invasores”. Shiva não é um deus dravídico apenas, e de forma alguma pode considerar-se não vêdico. A identidade entre Indra, Rudra e Shiva é inquestionável.

14) O modelo da invasão baseia-se em hipóteses lingüísticas construídas sobre especulações arqueológicas que nunca foram comprovadas com propriedade. Nenhum Mestre de Yoga indiano significativo reconheceu a sua existência. “A hipótese, inventada para preencher o vazio, de que estas idéias [dos ensinamentos secretos das Upanishads] foram tiradas pelos bárbaros arianos dos drávidas civilizados, é uma conjectura baseada em outras conjecturas. Deve ser realmente questionado se a estória [sic] de uma invasão ariana não é apenas um mito criado pelos filólogos.” Shrí Aurobindo, On the Veda, p. 4.

15) A recentíssima (1996) decifração da escrita do Indus pelo Dr. Nalwar Jha indica que esta língua pertence à família do sânscrito vêdico. O alfabeto brahmí, que possui uma surpreendente semelhança morfológica com os glifos desta escrita, foi o primeiro utilizado para registrar o sânscrito, o que reforça essa relação de continuidade.

Argumentos procedentes de outras disciplinas

16) “O geógrafo grego Estrabão, que morreu aproximadamente uma década antes de Cristo, lembra em sua famosa Geografia (XV:1,19) que, quando Aristóbulo esteve em missão na Índia, viu um país com milhares de cidades e aldeias que haviam sido abandonadas por causa da mudança do curso do Indus em direção ao oceano. A península indiana continua sendo uma zona tectônica muito ativa.” G. Feuerstein, S. Kak e D. Frawley, In Search of the Cradle of Civilization, p. 159. Acreditamos que, se Aristóbulo tivesse achado algum sinal de guerra ou destruição, não teria deixado de mencioná-lo, de onde podemos presumir que não houve invasão.

17) Outra prova dessa ininterrupção cultural é de ordem étnica. A análise dos esqueletos achados nos sítios arqueológicos mostra que os grupos étnicos permanecem os mesmos desde aquela época até nossos dias. As cidades da civilização do Indus-Saraswatí eram pólos cosmopolitas de comércio em que conviviam em relativa harmonia diversos grupos étnicos, que se viam a si próprios como arianos . Não se acharam provas da introdução de uma nova raça na Índia vinda do oeste, nem de que os drávidas tenham sido impelidos a refugiar-se massivamente no sul do sub-continente. “Existe um continuum biológico, com muitas das mesmas variáveis morfométricas encontradas ainda hoje nas populações do Sindh e do Punjab. Isto permite sustentar o conceito de continuidade e não o de deslocamento.” K. A. R. Kennedy.

18) O Sulba Sútra é um tratado em que estão assentadas as bases tecnológicas da civilização vêdico-harappiana. Entre outras coisas, fixa as regras de construção de altares vêdicos, sempre orientados para o leste, feitos de tijolos empilhados segundo formas simbólicas para os rituais vêdicos. Subordinadas ao ritual, aparecem nesta obra a matemática, a arquitetura, a engenharia e a astronomia. O método de construção de obras civis como diques, celeiros, molhes, sistemas de diques e encanamento, piscinas, etc. é a aplicação laica deste conhecimento sagrado. Seria impossível construir aquelas imensas estruturas sem um conhecimento detalhado de geometria. A ciência nasceu a partir do ritual: a arte de construir altares deu origem à arte de construir cidades. Os sítios arqueológicos harappianos contêm inúmeros desses altares domésticos, o que estabelece outro elo consistente entre esta civilização e a cultura vêdica. Num estudo que consumiu mais de vinte anos, o matemático e historiador da ciência A. Siedenberg demonstrou que os sistemas matemáticos egípcio e babilônico foram inspirados no Sulba Sútra. Os textos egípcios baseados nesta obra datam de antes de 2000 a.C., o que prova que o conhecimento de matemática na Índia é bem antigo. Isto reforça ainda o ponto de vista que afirma que o movimento civilizatório se deu desde a Índia para Oriente Próximo e que Mesopotâmia e Egito são tributários da cultura índica, ao contrário do que afirmaram os estudiosos eurocentristas do início do século XX.

19) A análise do calendário e do sistema astronômico vêdico mostra claramente que o mapa do céu, as constelações e eclipses descritos nos Vedas correspondem a épocas anteriores à própria civilização do Vale do Indus. Para dar apenas um exemplo, o Yajur e o Atharva Veda mencionam o equinócio de primavera acontecendo na constelação das Krittikás (Plêiades, antes Touro) e o solstício de verão em Magha (a constelação de Leão, na época), o que nos dá a surpreendente data de 2400 a.C. Como pode explicar-se que os “bárbaros invasores” pudessem fazer sofisticadas observações astronômicas que davam uma descrição precisa do céu quase um milênio antes da sua “chegada” à região?

20) O rio Saraswatí, “largo até o infindável”, possui um enorme protagonismo no Rig Veda. A teoria da invasão ariana sustenta que este povo penetrou no sub-continente pelo oeste, ao redor do ano 1500 a.C. Como é então que registram em seus hinos a presença de um rio que já se havia extinguido pelo menos 500 anos antes? A imensa maioria dos sítios arqueológicos da civilização harappiana encontra-se ao longo do leito seco deste rio. Todas estas evidências e testemunhos irrefutáveis nos dão uma perspectiva da História totalmente diferente à que trazem os livros dos investigadores ocidentais da “velha guarda”.

A AIT manteve-se viva em alguns fechados círculos acadêmicos ocidentais até a década de 1970. Porém, instituições sérias como o CNRF , junto com o investigador Paul-Henri Francfort, foram pioneiras no apoio a ousados projetos originados na Índia. Por aqueles anos, e partindo do nada, o arqueólogo marinho S. R. Rao fundou o Archaeologic Survey of India, cujo objetivo primordial foi achar os restos da cidade submersa de Dwáraka. Após quase trinta anos de pacientes investigações, emerge uma História muito diversa, mostrando-nos uma civilização que soube se manter viva e criadora, apesar das trágicas metamorfoses sofridas.

O único sustento metodológico que todos estes investigadores possuem como comum denominador é haver trabalhado sem preconceitos, com honestidade e ética; algo muito diferente do que aparece nos livros de História até hoje, baseados na visão preconceituosa e tendenciosa dos estudiosos que defenderam o ponto de vista eurocêntrico. A defunção desta teoria deixa viúvas e órfãos, como a teoria hiperdifusionista e outras que ainda defendem uma origem não ariana para a civilização do Indus-Saraswatí.

Estas teorias, tributárias da AIT são estritamente especulativas: nenhuma delas jamais conseguiu trazer provas materiais concretas para fundamentar-se. Hoje em dia, continua se indagando sobre a origem dos indo-europeus em geral, e da cultura do Indus-Saraswatí em particular. Acreditamos que a resposta virá à luz em algum dos numerosos sítios arqueológicos que até hoje continuam sendo investigados em solo indiano.

Os seguintes são alguns dos autores que sustentam a origem não indiana desta cultura: Maurizio Tosi defende a origem turkmênia, Lamberg Kareovski, a origem iraniana, e Louis Flam, a mesopotâmica. As perguntas continuam em pé, mas muitas respostas ainda serão dadas.

Swámi Vivekánanda, um dos mais expressivos Mestres de Yoga dos últimos tempos, riu da futilidade destas especulações ao afirmar nas primeiras décadas do século XX: “Os sonhos dos nossos arqueólogos estão cheios de aborígenes de olhos escuros e de resplandecentes arianos que vieram o Senhor sabe de onde. Segundo alguns, vieram do Tibete Central; outros afirmam que teriam vindo da Ásia Central. Há patriotas ingleses que pensam que os arianos eram ruivos. Outros sustentam a idéia de que eram morenos. Se acontecer do autor ser moreno, ele afirmará que os arianos tinham cabelo negro. Ultimamente houve uma tentativa de provar que os arianos viviam em um lago suíço. Eu não ficaria com remorso se eles [os que criaram a declaração] se afogassem todos lá, com teoria e tudo. Alguns dizem agora que eles viveram no Pólo Norte. Que Deus abençoe os arianos e suas moradias! Quanto à verdade destas teorias, não há palavra alguma em nossas escrituras, nem uma sequer, que prove que os arianos tenham vindo de algum lugar de fora da Índia, e na Índia antiga estava incluído o Afeganistão. Daí conclui-se…

“E a teoria de que a casta dos shudras constituía-se de não arianos, e que eles eram uma multidão, é igualmente ilógica e irracional. Não teria sido possível naqueles dias que um punhado de arianos tivessem se estabelecido e morado lá, submetendo cem mil escravos. Os escravos os teriam devorado, teriam feito chutney com eles em cinco minutos. A única explicação possível está no Mahabhárata, que afirma que no início do Satya Yuga [Idade de Ouro] havia somente uma casta, a dos bráhmanes, que diferenciando suas ocupações foram estratificando-se em diferentes grupos, e essa é a única, verdadeira e racional explicação que foi dada.” The Complete Works of Swami Vivekananda, vol. III, p. 293.

A AIT foi uma ferramenta do colonialismo que serviu naquele momento para justificar a presença inglesa no sub-continente e que ainda hoje representa um grande obstáculo, pois desvalorizou toda a cultura e o passado da Índia numa operação de distração cuidadosamente montada. As motivações mais profundas desta operação de distração, estão no eurocentrismo, que se sentiu ameaçado pela antiguidade de uma cultura que foi berço incontestável da primeira civilização, com a qual não ele possui nenhuma relação.

O historiador das religiões Mircéa Éliade não duvidou em qualificar o Yoga como “cume da espiritualidade indiana”, e, comparando-a com outras formas de espiritualidade, não deixa nunca de apreciar a sua originalidade, suas radicais soluções e sua vontade de servir a toda a Humanidade. Por isso, todos os seres humanos e, em especial, os praticantes de Yoga, que recebemos este legado, temos o dever de não aceitar o erro e a mentira implícitos na AIT. Nossa gratidão pela Mãe Índia passa igualmente pelo compromisso de estudar sua História de acordo com a verdade dos fatos. Se não o fizermos, estaremos atraiçoando-a e pior ainda, atraiçoando também a nós mesmos.

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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subhashita

Subhāshitas, Palavras de Sabedoria

Pedro Kupfer em Conheça, Literatura
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4 respostas para “Evidências que refutam a teoria da invasão ariana”

  1. O artigo está bem desenvolvido, provido principalmente de fontes basilares pertinentes à história das Civilizações da Índia Antiga. No entanto, minha curiosidade reside nas fontes primárias mencionadas, notadamente o Rig Veda, documento muito rico em informações estruturais sobre a sociedade do vale do Indo, mas, pela ausência de um racionalismo que tenda ao exame fenomenológico do mundo, exige uma interpretação aguçada por parte do leitor para entender a narrativa. Então pergunto: quais foram os hinos do Rig Veda (quaisquer dos 10 livros) utilizados nesse artigo para explicar a penetração das populações arya no subcontinente indiano?

  2. os arianos eram barbaros, sujos e extremamente agressivos. A cultura dos europeus e a história da europa não nos deixa duvida. Os arianos desenvolveram sua cultura apartir de outra mais avançada, se eles não tivessem feito isso não existiria India hoje.
    Se não houve invasão como os dravidianos são considerados dalits, e os brancos são bramanes ?
    Os arianos espalharam o racismo pelo mundo, isso se não o inventaram.

  3. os arianos eram barbaros, sujos e extremamente agressivos. A cultura dos europeus e a história da europa não nos deixa duvida. Os arianos desenvolveram sua cultura apartir de outra mais avançada, se eles não tivessem feito isso não existiria India hoje. Se não houve invasão como os dravidianos são considerados dalits, e os brancos são bramanes ? Os arianos espalharam o racismo pelo mundo, isso se não o inventaram.
    =========================
    Lucas,
    Fiquei curioso para saber donde vem a informacao que voce postou aqui sobre os arianos e os drávidas. Hoje, as pesquisas genéticas nao deixam dúvidas: nao existe a divisao arianos/drávidas sobre as quais se baseia essa teoria.
    Namaste.
    Pedro Kupfer.

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