Pratique, Yoga na Vida

O que traz paz ao dia-a-dia?

Acredito que a única coisa que pode nos dar paz, mas paz verdadeira, é sermos capazes de saber quem somos e o que estamos fazendo aqui nesta vida

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Acredito que a única coisa que pode nos dar paz verdadeira é saber quem somos e o que estamos fazendo aqui. O Yoga nos ensina que nós estamos “fabricados” de paz, que a paz é a nossa natureza essencial.

Essa paz, em sânscrito, chama-se śāntaḥ. Não é um sentimento ou uma emoção, não é aquela sensação de tranqüilidade que ora vem, ora vai, e que é substituída pelo seu oposto, o nervosismo ou a tensão.

Śāntaḥ é Paz com maiúscula, contínua e sólida. Essa paz precisa ser conhecida, para ser devidamente apreciada. O caminho para a paz chama-se autoconhecimento.

Quando conheço a mim mesmo como paz, nada que aconteça no mundo das dualidades poderá me tirar do centro. Ou, se alguma situação me tirar do centro, voltou para ele com rapidez e flexibilidade, como o bambu que se enverga com o vento e que volta a ficar em pé quando o este cessa.

Atitudes: atentividade e consciência

Algo fundamental para vivermos em paz é saber qual é a nossa vocação, para compreender em que lugar e de que maneira nos colocamos na sociedade e no mundo. A paz surge naturalmente e sem esforço em mim quando compreendo que estou fazendo aquilo que cabe, da maneira mais justa e harmoniosa.

Se, ao fazer aquilo que nasci para fazer, eu cometer alguma equivocação, isso não vai tirar a minha paz, pois sei que estou fazendo o melhor que posso, com atentividade e consciência. A Bhagavadgītā  nos ensina que é melhor fracassar cumprindo o próprio dever, do que ter sucesso fazendo o dever de outrem.

Isso significa que, independentemente dos resultados das minhas ações, eu fico tranqüilo e em paz. Aprender a amar o que se faz, ao invés de ficar penando para fazer somente aquilo que se quer, também ajuda a ficar dentro desse estado de tranqüilidade.

Práticas: mantra e meditação

Uma prática que gosto de fazer para lembrar da paz que sou é cantar mantras. Os mantras são uma maneira fácil, acessível e rápida de refletir sobre aquilo que somos. Como prática, eles nos dão ampla liberdade de escolha, tanto na forma quanto no tema.

Se não souber cantar mantras, não tem problema: escolha uma boa gravação, da qual você goste, dentre as muitas que temos disponíveis hoje, encontre um lugar tranqüilo, sente ou deite em silêncio e apenas ouça, dando a si mesmo o direito de parar.

Outra prática que acho essencial é um tipo especial de meditação chamado nididhāsana. Essa meditação consiste em fazer uma reflexão sobre aquilo que se sabe sobre si mesmo. E, isso que se sabe, ou deveria saber-se sobre si, é que eu sou paz.

No desespero e estresse do campo de batalha, o príncipe Arjuna pergunta para o deus Kṛṣṇa como recuperar a paz. Ele está tremendamente deprimido e não consegue lutar.

Kṛṣṇa não lhe dá uma receita para praticar algum respiratório ou postura, mas ensina para o príncipe que ele já é a paz que está buscando ao tentar fugir das suas responsabilidades.

Uma vez que Arjuna aprendeu a lição, cabe-lhe praticar o nididhyāsana, ou seja, refletir sobre aquilo que sabe sobre si mesmo, enquanto realiza as ações que deve realizar.

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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5 respostas para “O que traz paz ao dia-a-dia?”

  1. O que nos traz paz no dia-a-dia, é reconhecermos o poder divino em cada um de nós. É ter a percepção contínua, que cada ato que tomamos, tem uma interferência no cosmo. Um sorrisso gera outro sorriso, assim como um tapa gera uma guerra, então plantemos o amor, para colhermos a paz! Apesar das misérias que cada um de nós passa, é dever penso eu, encontrar o seu verdadeiro eu, que seria a verdadeira essência humana e isso é uma tarefa árdua, principalmente, num mundo egoísta e materialista, como vemos hoje. Constantemente, somos bombardeados com idéias, desejos e seres que querem desvirtuar o caminho, daqueles que procuram a verdade. O elo que nos une é um só, ou seja, viemos da mesma fonte, portanto, ao olhar para os olhos do outro, temos o dever de nos enxergarmos também. Se isso fosse,exercido, com a leveza do amor, a Paz reinaria soberana em nossas vidas! Que o Amor, inunda a vida de todos os seres e possamos um dia, vivermos em harmonia e sabedoria. Namastê… Shanti Harih Om!

  2. A maior fortaleza é aquilo que somos. Se a paz não faz parte seremos soldados em constante batalha, prontos para atacar; e que bom ter consciência dessa dualidade (guerra/paz). Você tem a opção de trilhar o caminho intermediário, e isso se chama de liberdade. Escolhemos nossos caminhos, nossas vivências…. Muito bom te ter como mestre. Agradecida.

  3. O que nos traz a paz ao dia é estarmos conscientes do nosso Dharma. Recomendo também um outro artigo do Pedro ” O papel do yogi”, também para a revista Prana Yoga Journal que nos dá um bom exclarecimento sobre atentividade e consciência. Tenho acompanhado as palavras do Pedro e isso tem me trazido a paz. Hari Om!

  4. Maravilhosa e oportuna essa postagem. Veio bem a calhar para o que estava precisando no momento. Obrigado.

  5. Somos fabricados de paz..Não precisa dizer mais nada… Adorei!
    Beijos!

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