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8 Desafios Candentes no Mundo do Yoga

Listamos aqui oito questões preocupantes que vemos atualmente na nossa comunidade, e que precisariam ser abordadas com um novo olhar em prol da democratização dessa bela visão do mundo e modo de viver que é o Yoga.

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Apesar dos muitos benefícios que o Yoga oferece, existem algumas preocupações que precisam ser consideradas para garantir uma prática segura, inclusiva e ética para todos.

Listamos aqui oito questões preocupantes que vemos atualmente na nossa comunidade, e que precisariam ser abordadas com um novo olhar em prol da democratização dessa bela visão do mundo e modo de viver que é o Yoga.

1. Desinformação

A abundância de informações online, nem sempre confiáveis, pode levar os praticantes a realizarem posturas inadequadas ou a terem expectativas irreais sobre a prática.

Isso pode levar à decepção e desmotivação, a adotar visões distorcidas da prática e seus objetivos, comprometendo o desenvolvimento pessoal e espiritual ou ainda, a negligenciar a importância de buscar orientação profissional em caso de problemas de saúde física ou mental.

2. Comercialização

A crescente popularidade do Yoga pode levar à exploração comercial da prática, com foco na venda de produtos, serviços e workshops, em detrimento do bem-estar dos praticantes.

Por sua vez, essa situação pode levar à banalização da prática: a ênfase em aspectos físicos e estéticos do Yoga desvia o foco dos seus princípios e valores milenares, reduzindo-a a uma mera atividade física.

Outro aspecto indesejável é a exploração da imagem do Yoga: um discurso superficial e estereotipado pode afastar aqueles que buscam uma experiência autêntica e transformadora.

3. Pressão pelo Desempenho

A busca pela tão ansiada “perfeição” nas posturas, e a comparação com outros praticantes, pode gerar pressão, ansiedade, lesões e frustração, o que vai frontalmente contra ahiṁsā, o princípio da não-violência.

Dentre os perigos da pressão pelo desempenho, podemos citar a perda do amor pela prática em prol da performance ou o esgotamento físico e mental tanto de alunos quanto de professores, o que por sua vez pode conduzir a sofrer ansiedade, fadiga e até lesões.

Igualmente, a segurança dos praticantes pode vir a ser negligenciada: a busca por impressionar os alunos com posturas acrobáticas ou aulas intensas pode levar os professores a negligenciar a segurança de todos.

Finalmente, essa pressão desnecessária cria um ambiente competitivo entre os praticantes: a comparação e a busca por resultados podem gerar um ambiente tóxico na sala de aula, afetando a autoestima e a motivação de alguns praticantes, ao mesmo tempo em que tira o foco no propósito real do Yoga, que é a liberdade.

4. Desrespeito aos Limites

Instrutores de Yoga que pressionam os praticantes para irem além de seus limites físicos ou emocionais podem colocar em risco a saúde e o bem-estar dos indivíduos.

Praticantes que se sentem pressionados ou lesados perdem a confiança nos benefícios do Yoga e acabam por desacreditar o ensinamento libertador e as práticas como um todo.

Além disso, existem evidentes riscos à integridade física das pessoas que praticam sem considerar a importância do respeito aos limites naturais do corpo e seu impacto lesivo nas emoções da pessoa que pratica.

5. Falta de Representatividade

O mundo do Yoga ainda precisa se esforçar para ser mais inclusivo e acolhedor para pessoas de diferentes berços, etnias, gêneros, identidades sexuais e níveis de condicionamento físico.

Essa falta de representatividade se manifesta de diversas maneiras: na carência de professores que representem a diversidade da sociedade nas escolas de Yoga, na dificuldade de engajamento de alunos que não se vêm representados, nas imagens estereotipadas na mídia (“Yoga é para pessoas brancas, magras e de classe alta”), no elevado custo das aulas, na localização das escolas e na falta de acesso para pessoas com limitações físicas.

6. Descuido com a Saúde Mental

Apesar do Yoga ser frequentemente indicado para o bem-estar mental, é importante lembrar que nem todos os professores estão qualificados para lidar com questões psicológicas complexas. Um professor despreparado pode, sem intenção, exacerbar esses problemas.

Dentre outros, podemos mencionar ignorar ou minimizar as preocupações dos alunos, levando-os a se sentirem invalidados e envergonhados, promover técnicas inadequadas que podem causar desconforto físico ou lesões, agravando a ansiedade, ou faltar empatia em relação às dificuldades dos alunos, impedindo-os de se sentirem seguros e acolhidos na prática.

7. Apropriação Cultural

É importante ter cuidado para que a prática do Yoga não seja apropriada culturalmente, o que pode levar à perda de suas raízes e tradições.

Apropriação cultural se refere ao uso de elementos de uma cultura por pessoas de outra cultura, de forma que ignora ou desrespeita o significado original desses elementos.

No caso do Yoga, algumas práticas comuns podem ser problemáticas, como o uso de estereótipos indianos enquanto se deixa de lado a profundidade dos ensinamentos, a falta de contexto adequado e a exclusão de vozes autênticas.

Igualmente, práticas e símbolos espirituais indianos são muitas vezes usados sem entendimento ou respeito pela cultura original.

8. Abusos e Falta de Ética

É fundamental que professores de Yoga conheçam, sigam e ensinem os yamas e niyamas, princípios éticos do Yoga, como não-violência, veracidade, honestidade, respeito, honestidade.

Além disso, devem tomar cuidado com a confidencialidade, o consentimento para receber ajustes e o respeito pela sacralidade do espaço pessoal de cada praticante.

É importante lembrar que essas preocupações não significam que o Yoga tenha práticas perigosas ou prejudiciais. Ao contrário: ele oferece muitos benefícios para a saúde física e mental.

No entanto, é fundamental estar ciente dos riscos potenciais e tomar medidas para garantir uma prática segura, ética e respeitosa.

Ao escolher um professor, é importante buscar profissionais qualificados, experientes e que estejam alinhados com seus valores e objetivos.

Também é importante ouvir o seu corpo, respeitar seus limites e praticar Yoga com atenção e consciência.

Saiba mais aqui: Que Yoga Devo Praticar?
Aqui: Como Escolher um Professor?
E aqui: Vivendo a Ética do Yoga

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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