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Apropriação Cultural do Yoga: Entre o Apreço e o Respeito 

O Yoga, com suas raízes milenares na filosofia e cultura indiana, se tornou um fenômeno global nos últimos anos. Essa popularização, embora positiva em muitos aspectos, também levanta questões importantes sobre o tema da apropriação cultural.

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Apropriação cultural do Yoga

O Yoga, com suas raízes milenares na filosofia e na cultura indianas, tornou-se um fenômeno global nos últimos anos. Essa popularização, embora positiva em muitos aspectos, também levanta questões importantes sobre o tema da apropriação cultural.

Apropriação cultural se refere ao uso de elementos de uma cultura por pessoas de outra cultura, de uma maneira peculiar em que são ignorados ou desrespeitados os significados originais desses elementos. O termo apropriação cultural tem, muitas vezes, conotações negativas.

“A apropriação cultural ocorre quando tomamos para nós aquilo que originalmente pertencia ao mundo e ao dia a dia de outras pessoas, mas sem que haja um interesse em ouvir, dialogar e aprender com essas mesmas pessoas sobre os usos e costumes relacionados às coisas que despertam o nosso interesse”. Messias Basques, doutor em Antropologia pelo Museu Nacional da UFRJ.

No caso do Yoga, algumas práticas corriqueiras podem resultar problemáticas:

  • Abuso de estereótipos indianos: Reduzir o Yoga a imagens superficiais de pessoas de turbante, elefantes e mantras, fazendo um pastiche indigesto de elementos “orientais” e ignorando a riqueza e a profundidade da sua filosofia e tradição.
  • Falta de contexto: Ensinar Yoga sem mencionar suas origens, seu significado psicológico e espiritual, tratando-o apenas como uma ginástica com incenso ou uma simples técnica de relaxamento.
  • Exclusão de vozes indianas: Professores brancos e ocidentais dominam muitas vezes a cena do Yoga, enquanto vozes indianas autênticas são deixadas de lado ou marginalizadas. Um exemplo claro acontece quando celebridades ocidentais parecem saber mais do que os professores originais da Índia. 
  • Lucro com a tradição: Empresas e indivíduos se apropriam do Yoga para fins lucrativos, sem reverter quaisquer benefícios para as comunidades que o originaram ou para quaisquer outras comunidades locais.

É importante lembrar que o Yoga não é apenas um conjunto de exercícios físicos, mas sim uma visão libertadora que integra abordagens físicas, vitais, emocionais e mentais. Ao praticar Yoga, devemos honrar a sua história, filosofia e valores.

Algumas ações podem contribuir para uma prática mais consciente e respeitosa:

  • Buscar conhecimento: estudar a história e a abordagem filosófica do Yoga, buscando fontes autênticas e evitando os disparates e as distorções que por vezes aparecem na boca de professores famosos.
  • Apoiar professores indianos: valorizar e frequentar aulas de professores indianos ou aqueles que tiverem uma conexão profunda com a tradição, evitando as abordagens mais superficiais. 
  • Praticar com consciência: evitar estereótipos e apropriações indevidas, buscando entender o significado dos elementos que utilizamos.
  • Promover a diversidade: apoiar iniciativas que amplifiquem vozes indianas e de minorias no mundo do Yoga.
  • Agradecer e retribuir: reconhecer a origem indiana do Yoga (notadamente, nas matrizes espirituais do hinduísmo, do budismo e do jainismo) e buscar maneiras de contribuir para a preservação dessa tradição.

Ao praticarmos Yoga com consciência e respeito, honramos suas raízes e contribuímos para uma troca cultural autêntica e enriquecedora. Lembremos que o Yoga é um patrimônio cultural valioso que deve ser preservado e compartilhado com responsabilidade.

Boas práticas!

॥ हरिः ॐ ॥ 

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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2 respostas para “Apropriação Cultural do Yoga: Entre o Apreço e o Respeito ”

  1. Oii time do Yoga.pro.br. (nem precisam publicar este comentário caso não esteja nas diretrizes, é somente um recado para o time mesmo)

    Amo os conteúdos, me ajuda muito a me aprofundar nos estudos e práticas diárias de yoga!
    Mas não posso deixar de notar a quantidade de imagens geradas com Inteligência Artificial usadas recentemente nos artigos. Esse tipo de prática precariza demais os trabalhadores de ilustração e não é muito bacana, além das falhas claras nas imagens (olhos fora do lugar e mãos tortas, fundos sem precisão, etc)
    Tem tanta imagem de Yoga que é de uso livre e que podem ser usadas para ilustrar os artigos que não sei se justifica tanto usar ilustração de IA…
    Enfim, só um toque de alguém que convive com muitos ilustradores e designers que vem constantemente tendo seus serviços precarizados por conta de inteligência artificial e que esse tipo de prática não é muito ética já que essas ferramentas roubam as artes de artistas reais.

    Valeu!! Vida longa ao Yoga.pro.br
    Namastê

    1. Olá Luiza,

      Tudo bem? Muito obrigado pela mensagem.

      Você tem toda a razão nas suas colocações, mas o tema não termina no trabalho dos nossos amigos ilustradores e artistas (também sou gravador, e faço xilogravura e linogravura e consigo colocar-me na pele de um artista que viva do seu talento e da sua arte).

      Decidi começar a usar a IA para as ilustrações dos artigos aqui pois, por outro lado, já recebi ameaças de processos judiciais por parte de supostos detentores de direitos de imagens associadas ao Yoga e não quero mais que essas situações se repitam.

      Concretamente, ameaças de vendedores de livros promovidos pelo movimento Hare Kṛṣṇa. Também tive problemas legais (em duas ocasiões bem recentes) com o suposto “dono” (brasileiro) de certos mantras védicos como o Tvameva, que tentou proibir-me de cantar e publicar minhas gravações no YouTube.

      O detalhe: mantras de 1500 anos atrás não pagam ou não deveriam pagar, direitos de autor. Mas explicar que focinho de porco não é tomada leva tempo e energia. Defender-se desse tipo de injustiça é desgastante.

      Criar minhas próprias imagens, ainda que seja através da IA, simplifica esse tema e minimiza o risco de ameaças e processos. Esse é o motivo pelo qual as uso.

      Ainda tem a questão das músicas feitas pela inteligência artificial no estilo de compositores bem específicos, o plágio que a IA faz de escritores, poetas e roteiristas de cinema e teatro e tantas outras áreas do conhecimento humano. Sem contar com o drama dos nossos amigos tradutores, que talvez sejam o grupo profissional mais fortemente afetado pela IA. Simplesmente, eles perderam de vez a profissão à qual dedicaram as suas vidas.

      No entanto, essa é a nossa nova realidade. Este mesmo site aqui, o yoga.pro.br, está tão condenado quanto os artistas: a busca generativa da IA do Google pega a informação contida em todos os textos deste e de todos os demais sites sobre qualquer assunto e já não dirige a pesquisa aos autores desses textos, mas faz um pastiche indigesto e muitas vezes equivocado, com os conteúdos que a IA pega de todos nós.

      Também temos a situação atual na qual aplicativos promovidos por poderosas corporações substituem os professores de Yoga por aulas virtuais dentro dos nossos telefones e tablets.

      Não há volta atrás nesses temas. Eles não dependem da nossa vontade ou capacidade de mudar as coisas. Temos que aceitar os tempos que vivemos e adaptar-nos da melhor maneira possível.

      Para já, o yoga.pro.br está ainda em pé, apesar do alto custo que tem para nós. Mas não sabemos o que o futuro irá trazer para nós. Só nos cabe tentar viver a vida de Yoga da maneira mais equânime possível.

      Tudo de bom!

      ॥ हरिः ॐ ॥

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