Não estamos num congresso de informática ou de bio-mecânica. Estamos num congresso de auto conhecimento, num retiro. Esta foi uma das conversas que tivemos num encontro de sete dias para praticar Yoga.
Quem está na chuva, é para se molhar. Em todos os sentidos. Desde banhar-se de lágrimas de compaixão por algum relato, até molhar-se nas águas geladas do inverno de Santa Catarina. É uma praia tão linda que não falarei o nome pra não correr o risco de banalizar uma experiência que merece ser vivida por todas as pessoas. Às vezes, coisas que são lindas acabam banalizadas pelo uso contínuo. Como músicas em trilha de novela…
Um mês qualquer, de um ano qualquer, não importa. O que importa é que pessoas se encontraram em um retiro para estudarem o Ser, para se conhecerem.
Mas de que adianta conhecer o Ser? Para que meditar? Isso não dá dinheiro, nem traz sucesso… Isso é desculpa para desocupados, só quem não trabalha pode ficar uma semana numa praia fazendo Yoga… Estes são alguns comentários que somos obrigados a ouvir. Tudo bem, pode praticar Yoga, mas antes tem que se formar…
Tanta gente deixando seus sonhos de lado para fazerem o que dá dinheiro… Tanta gente infeliz no mundo… Simplesmente porque esqueceram que por trás do ego que estuda, trabalha, casa e tem filhos, existe um Ser, que está a nossa espera, pronto a ser revelado, pleno de sabedoria para nos oferecer.
Mas, para encontrar Deus não é preciso ficar uma semana de retiro numa praia, é só rezar, me dizem.
O que eles não sabem é que o Deus que imaginam estar fora, no alto, distante e impossível de ser visto, está dentro do Ser que somos. Olhamos para cima quando nos referimos a Ele, esquecendo que Ele se esconde dentro de nós e está conosco o tempo todo.
A praia era apenas um templo; o veículo: o Yoga; o condutor: um ser iluminado que surfa nas horas vagas. O objetivo: o Ser, este grão de areia infinito que somos. O insight: um documentário chamado Graça Feroz (Fierce Grace) sobre Ram Dass, um mestre espiritual, discípulo do famoso guru Neemkaroli Baba, que teve um derrame e, diante da morte, teve medo, escolheu ficar.
Na primeira vez que encontrou seu mestre, ouviu de sua boca: ‘Sirva as pessoas‘. Este era seu sadhana. Quando jovem, viveu como outros americanos de classe média alta de sua época, que coincidiu com o movimento hippie e com a divulgação dos ensinamentos da Índia, através do movimento Hare Krsna. Estudou em deu aulas em Harvard, fez experiências com LSD, em busca da mesma resposta que buscamos nessa tarde azul de Santa Catarina: quem somos?
Ao encontrar seu mestre, Ram Dass descobriu que o LSD podia ser um veículo para se chegar a Deus, mas que existem muitos outros.
Descobriu o amor… Este veículo que está a disposição de todos e não causa nenhum dano à sociedade. Que é abundante e gratuito. Infinito e renovável: quanto mais se gasta, mais se tem.
Cada dia que passa, compreendo que esta é a razão para estarmos na Terra. Para servir aos outros, através do amor.
Seres como Neemkaroli Baba e tantos outros gurus são encarnações deste amor para provar-nos que é palpável, possível e está à disposição.
Melhor: que traz felicidade! A tal felicidade que buscamos nos shopping centers metafóricos de nossa experiência terrena.
Ram Dass certamente sofre com as limitações advindas do derrame, mas compreende que tudo aconteceu com um determinado propósito e, ao invés de lamentar-se pelo inevitável, fez da sua experiência um exemplo a ser seguido. Seguiu o conselho do mestre: dedicou a vida a ajudar os outros.
Namastê!
Tereza é yogini, escritora e atriz, e se prepara para ensinar Yoga.
Esses dias li um texto que fala sobre um aspecto interessante levantado aqui: A culpa de quem medita ao invés de estar vivendo o social e até ajudando os outros. Sem me alongar aqui, a forma mais sintética que encontro para expressar esse paradoxo é que a verdadeira essência altrúísta não é tão simples assim de ser praticada só ajudando os outros. É simplesmente a meta do Yoga: superar o próprio ego. Porém, somos educados na sociedade competitiva para trabalhar por resultado e ganhar por desempenho. Resultado: temos muitos gestos egoístas e alguns valiosos gestos altruístos mas corações ainda egocentricos. Para mim o ensino do Yoga é fundamental vir antes de uma escolha profissional, o ideal é que todos nos iluminássemos antes de decidir como vamos cumprir a missão altruísta do real ser, do contrário, estaremos nos afogando e levando outros juntos.
Surge aqui a grande questão: A renúncia de tudo para nos iluminarmos antes de agirmos. Meu Deus dai-nos pura consciência desse desapego.
Harih om! ( Evocado seja todo potencial altruísta de nosso corpo, mente e espírito)
Murillo
Querida amiga,
Sempre bom ouvir suas doces e sinceras palavras. Este documentário me tocou profundamente, e me percebeu e fez aceitar tudo que acontece na vida, e tirar disso o ensinamento que há por trás e perceber que a plenitude está em tudo, em todos os momentos, seja no retiro junto com pessoas que buscam as mesmas coisas, seja no meio do caos em São Paulo. A busca do Ser é constante, e é a maior benção que um ser-humano pode ter, e não uma perda de tempo como a maioria acha. Muitos pensam e falam. Ficar em silêncio? Contemplar o meu Ser? Mas eu estou perdendo tempo sentando aqui em silêncio enquanto tudo acontece e o tempo passa. Para quê?
Acho que o Ram Dass neste documentário dá as melhores das respostas, dá o exemplo de uma vida.
Não vejo a hora de chegar nosso próximo retiro! E comportilhar nossos Fios da União.
Beijocas de quem passou a te adorar,
e em breve estará contigo adorando e fazendo seva a mãe divina e a todos que as forem ver no Rio em sua passagem pelo RJ.