Kaya sthairyam significa “corpo firme”. É uma técnica meditativa que consiste em cultivar a mais absoluta imobilidade.
Uma vez tomada essa decisão, você não deverá mover-se nem um átimo. A imobilidade absoluta é condição sine que non para esta prática.
Senão, as técnicas não funcionam. Após atingir essa quietude, passa-se à meditação. Temos realmente que transcender o corpo.
Quando se faz como indução para outra técnica, esta prática leva de cinco a vinte minutos.
Aqui apresentamos a versão completa, pois o kaya sthairyam é igualmente uma prática em si mesma.
Kaya sthairyam: a técnica
Sente numa posição confortável. Se for possível, siddhāsana, padmāsana ou vajrāsana. Ajuste a posição de maneira que você não precise mexer nenhuma parte do corpo posteriormente, durante a prática.
A coluna deve estar perfeitamente ereta. A cabeça, o pescoço e os ombros na posição vertical, bem encaixados. Coloque as mãos nos joelhos em jñānamudrā.
Feche os olhos. Inspire profundamente e vocalize durante sete fôlegos o mantra Oṁ: Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ. A prática de kaya sthairyam começa aqui.
Coloque a atenção no seu corpo físico. Concentre-se na posição de meditação. Sinta a espinha, crescendo a partir do chão, sustentando a cabeça.
Fique consciente da posição harmônica e equilibrada dos braços e pernas. Consciência total no corpo. Consciência total. Visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num espelho.
Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado esquerdo. Por trás. Por cima. E depois, de todos os lados ao mesmo tempo.
Esteja consciente do corpo. Imagine que ele é uma árvore. Uma árvore grande e forte. Sinta que você está enraizado no solo. Visualize o seu corpo crescendo a partir do solo.
Suas pernas são as raízes da árvore; o resto do corpo é o tronco. Seu corpo está enraizado ao solo. Crescendo a partir do solo. Tornando-se uno com o solo.
Totalmente imóvel, como uma árvore antiga e forte. Vivencie-se crescendo a partir do solo. Totalmente estável. Totalmente imóvel.
Permaneça consciente de quaisquer sensações físicas: frio, calor, dor, tensão ou formigamento. Direcione a consciência para essas sensações.
Não tente eliminá-las. Permita que elas se transformem num foco para o seu pensamento. Se a sua mente entrar em devaneios, traga-a suave, mas firmemente para as sensações que você está experimentando.
Consciência total em todas as sensações físicas que o seu corpo está experimentando. Consciência total no momento presente.
Agora coloque a consciência na cabeça. Visualize a sua cabeça e mantenha atenção absoluta em todas as sensações dela. Passe para o pescoço.
Visualize o seu pescoço e mantenha atenção absoluta em todas as sensações dele. Seguindo o mesmo processo, coloque agora a atenção no ombro direito.
No ombro esquerdo. No braço direito. No braço esquerdo. Na mão direita. Na mão esquerda.
Permaneça consciente das costas inteiras. Do peito. Do abdômen. Do glúteo direito. Do glúteo esquerdo. Esteja consciente da perna direita. Da perna esquerda. Do pé direito. Do pé esquerdo.
E depois, do corpo inteiro. Permaneça consciente do corpo inteiro, de uma só vez. Intensifique a consciência do corpo no kaya sthairyam.
Tome a resolução de permanecer absolutamente imóvel durante a prática inteira. Repita para si: “permaneço firme e imóvel como uma estátua. Totalmente firme. Totalmente imóvel.”
Mesmo se você sentir o impulso de mexer um dedo da mão ou do pé, coçar, arrumar a roupa ou deglutir saliva, tente superar esse impulso.
Se for coceira, fique consciente de que é coceira. Não a suprima, mas não se mexa. Apenas observe-se.
Se acontecer algum movimento inconsciente, procure torná-lo consciente. Não permita que continue inconsciente.
Se você estiver totalmente consciente do corpo, e de todo e qualquer movimento que possa vir a acontecer, você ficará firme e imóvel, como uma escultura.
Assim, você perceberá uma sensação de levitação astral: o corpo sutil se elevará levemente, acima do corpo.
Atenção absoluta: esteja atento ao corpo físico, à posição de meditação e a mais nada. Atenção total e contínua no seu corpo inteiro.
O seu corpo está perfeitamente estável e imóvel. Perceba o sentimento de firmeza. Esteja consciente do corpo e da sua firmeza.
Esteja consciente do corpo e da sua estabilidade. Seu corpo está absolutamente firme e estável. Esteja consciente da descontração na posição. Esteja consciente do corpo.
Não há movimento nem desconforto. Apenas firmeza, estabilidade e descontração. Kaya sthairyam. Sinta a quietude e estabilidade do corpo.
Gradualmente, o seu corpo fica cada vez mais imóvel. Como uma escultura. Como se seus músculos estivessem congelados.
O corpo fica tão firme e estável que você não consegue mais se mexer, mesmo querendo. Consciência total no corpo.
Consciência da imobilidade, da estabilidade psíquica. Seu corpo está totalmente estável, firme e relaxado.
Quando você atinge este ponto, a consciência do seu corpo começa a esvair-se. Até que a consciência do corpo físico desaparece por completo.
Nesse momento, coloque a atenção na respiração. Fique consciente do ritmo natural da sua respiração. Sem alterá-la ou modificá-la.
Não controle a respiração. Não tente respirar fundo. Apenas observe a sua respiração natural. Atenção absoluta.
Simplesmente, observe a respiração fluindo, o ar e a energia vital entrando e saindo, num fluxo constante e regular.
Acompanhe conscientemente cada movimento da sua respiração. Esteja consciente do fluxo do ar, que entra separadamente pelas narinas e se une no centro do intercílio, formando um triângulo.
Atenção absoluta no triângulo da respiração, entre as narinas e o intercílio. O vértice do triângulo é o ponto do intercílio.
A cada inalação, o ar e a energia vital entram pelas narinas e se unem no vértice do triângulo. A cada expiração, o ar sai pelo ponto do intercílio e se divide nas narinas. Atenção absoluta.
Agora, inclua a repetição mental do mantra Oṁ. Cada vez que o ar entra, e cada vez que o ar sai. Atenção absoluta na respiração, no triângulo que forma o fluxo de ar e prāṇa, e no mantra Oṁ.
Pelos próximos dois minutos recolha-se completamente. Esteja consciente unicamente da sua respiração, do triângulo e do mantra Oṁ, mesmo se eu continuar falando.
Concentração absoluta. Atenção absoluta na sua respiração, no triângulo e no mantra Oṁ. Atenção absoluta.
Ao conseguir abstrair-se por completo, você perceberá que a sua respiração fica cada vez mais imperceptível. Cada vez mais lenta.
E você começa a perceber o estado da pura consciência, que se manifesta quando a mente pára. A respiração é responsável pelas flutuações da mente.
Quando a respiração é realmente sutil, a mente se direciona para um ponto e pára. Quando se atinge o kaya sthairyam, quando não há mais consciência do corpo nem tampouco da respiração; isso é dhāraṇā, a concentração.
Quando isto acontecer, coloque a consciência no chidākāśa, o espaço vazio atrás dos seus olhos fechados. Observe o chidākāśa como se estivesse olhando através de uma parede.
Sua cabeça é como um templo. A testa é a parede frontal. O lado direito da sua cabeça é a parede direita. O lado esquerdo da sua cabeça é a parede esquerda. A parte de trás, a parede traseira. E o topo, a cúpula do templo.
Visualize parte por parte, enquanto ouve estas palavras: parede frontal, parede direita, parede esquerda, parede traseira, pináculo. Imagine-se no interior da sua cabeça.
Olhe mentalmente para os lados enquanto eu falo: frente, direita, esquerda, atrás, acima. Frente, direita, esquerda, atrás, acima. Frente, direita, esquerda, atrás, acima. Frente, direita, esquerda, atrás, acima.
Traga a atenção de volta para o chidākāśa, o espaço vazio atrás dos seus olhos fechados. Atenção total no chidākāśa, a tela mental. Este espaço não é negro.
Há muitos pequenos pontos de luz, formando-se, esvoaçando e esvaindo-se. Cores, formas e sombras. Consciência total no chidākāśa.
Observe e permaneça atento a tudo quanto acontecer aqui. Sem apegar-se, sem interferir. Apenas observe. Atenção absoluta.
Agora volte a consciência para a sua respiração. Concentre-se no ritmo natural da respiração.
Devagar, tome consciência do seu corpo, da posição de meditação. Sinta o peso do corpo no solo. Tome consciência das mãos, descansando sobre os joelhos.
Tome consciência dos braços e pernas. Tome consciência da coluna. Tome consciência da cabeça. Consciência absoluta no corpo inteiro.
Agora, inspire profundamente e vocalize o mantra Oṁ durante três fôlegos: Oṁ, Oṁ, Oṁ. Oṁ śāntiḥ śāntḥ śāntiḥ.
Lentamente, comece a movimentar-se. Abra os olhos, alongue os braços, estenda as pernas, faça uma torção para cada lado
A prática de kaya sthairyam conclui-se aqui. Hariḥ Oṁ.
॥ हरिः ॐ ॥
Como usar este roteiro para fazer kaya sthairyam?
O texto acima pode usar-se como modelo de elocução. Você estuda a técnica e grava a sua própria voz, lendo pausadamente (uma frase a cada quatro segundos, aproximadamente).
Considere respeitar os tempos que aparecem sugeridos entre parêntesis (ou reduzindo-os proporcionalmente).
Outra opção é fazer pequenos grupos de meditação com seus amigos, onde cada um pode usar os textos como orientação para dar a prática para os outros.
Se você for professor de Yoga, poderá igualmente usar essa prática nas suas aulas, tomando o cuidado de escolher a técnica mais adequada para cada pessoa ou grupo.
॥ हरिः ॐ ॥
Conheça outras Meditações do Tantra aqui:
Antar mouna, estágio I
Antar mouna, estágio II
Antar mouna, estágio III
Meditação Sohaṁ – Ajapajapa – Estágio I
Meditação Ajapajapa – Estágio II
Meditação na Respiração Ajapajapa – Estágio III
Saiba mais sobre a Meditação no Yoga:
A Meditação na Tradição do Yoga — Parte I
A Meditação na Tradição do Yoga — Parte II
A Meditação na Tradição do Yoga — Parte III
A Meditação na Tradição do Yoga — Parte IV
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos
Obrigado pela partilha, um abraço no coração.