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Apresentamos à nossa querida família do Yoga mais uma pequena obra para motivar e inspirar o estudo, a prática e o desfrute um livro com uma compilação de mantras védicos, stotras, ślokas e kīrtaṇs.
A música sempre fascinou o ser humano. Há algo de mágico e poderosamente transformador nela. Ao mesmo tempo, ela é inexplicável: sempre foi desafiador para a ciência entender a razão pela qual amamos harmonias, melodias e ritmos.
Desde o ponto de vista biológico, não há alguma razão para gostarmos de ouvir sons: a música não nos nutre nem nos dá qualquer vantagem ou aptidão para sobreviver ou nos reproduzir.
No entanto, ela tem o mesmo efeito no cérebro que algumas atividades essenciais para a sobrevivência, como fazer o amor ou comer.
Quando fazemos nos relacionamos sexualmente ou degustamos um prato saboroso, estimulamos a secreção de dopamina, um poderoso neurotransmissor que é responsável por conduzir informações para as diversas partes do organismo e que, quando liberado, mobiliza sensações de prazer e motivação.
Surpreendentemente, a música tem o mesmo efeito: mobiliza enormes quantidades de prazer e nos traz motivação, foco e/ou relaxamento.
Ao mesmo tempo, ouvir música ativa as mesmas áreas do cérebro que são estimuladas quando sentimos alegria, uma emoção intuitiva que sempre foi fundamental para a nossa sobrevivência, já vez que nos traz bem-estar e satisfação.
Um dos motivos pelos quais gostamos de ouvir um bom som é a chamada predição musical.
Como a música é composta por padrões e sequências de notas que se sucedem de maneira rítmica, quando escutamos (e conhecemos os padrões estéticos de um estilo musical), tentamos antecipar o tempo todo qual será a próxima nota, o próximo compasso.
Quando a nossa predição sobre a melodia que o músico toca se cumpre, temos uma descarga de dopamina. Essa predição musical está baseada nas nossas experiências passadas.
A antecipação explica também porquê tendemos a não gostar de gêneros musicais que não conhecemos: quando não temos os códigos culturais necessários para decifrar uma determinada linguagem musical, o cérebro tende a cansar-se dela. É por isso que, frequentemente, ocidentais dormem ao ouvir música indiana.
Porém, até mesmo aqueles que não têm familiaridade com os mantras frequentemente ficam fascinados com a profunda calma que eles produzem na mente. Isso acontece por conta do efeito dos mantras, ainda que não possamos considerá-los um gênero musical propriamente dito.
Mesmo que os mantras não sejam música nem se encaixem dentro dos cânones estéticos de algum estilo musical familiar para um ocidental, eles usam o som e a voz humana e têm efeitos similares aos da música, além de outros resultados que são exclusivos desses sons sagrados.
Outra coisa: o cérebro humano adora padrões repetitivos. Um dos temas mais recorrentes na arte dos mantras é justamente a repetição, chamada japa. Portanto, não é coincidência uma boa parte da humanidade sentir atração por mantras.
Pesquisas médicas recentes feitas com o uso de tomografias computadorizadas apontam que o pico da secreção de dopamina chega quando a pessoa escuta o chamado refrão de uma música, o que é acompanhado frequentemente por uma sensação excitação ou um arrepio ao longo da coluna vertebral que deve ser familiar para o amigo leitor.
E, como você bem sabe, os refrões se repetem, exatamente como os mantras.
O uso dessas vibrações sonoras, no contexto dos mantras, tem quatro objetivos específicos:
1) pacificar as emoções,
2) acalmar a mente,
3) trazer harmonia para o coração e
4) nos ajudar a compreender e aceitar quem somos.
Desde o ponto de vista cognitivo, os mantras funcionam como ferramentas para a reflexão sobre a nossa própria natureza, pois suas palavras revelam a verdadeira identidade do ser humano.
O que são mantras?
Há muitas formas diferentes de definir os mantras, dependendo da maneira em que olharmos para eles ou da forma em que os classificamos.
Desde o ponto de vista ortodoxo, no contexto da cultura védica, mantras são textos metrificados que aparecem na primeira seção de cada um dos quatro Vedas: Ṛg, Sāma, Yajur e Athārva.
Essas seções iniciais dos Vedas são chamadas Saṁhitās. Afora elas, ainda encontramos nos Vedas outros tipos de textos: os Brahmāṇas, as Āraṇyakas e as Upaniṣads, textos em prosa e/ou verso, que também devem ser considerados mantras.
Os mantras são “traduções” da Consciência Ilimitada, presente em todos os aspectos do universo, que chamamos Īśvara. Nas Upaniṣads, o próprio mantra Oṁ, por exemplo, é considerado uma espécie de símbolo sonoro, de “corpo em forma de som”, de Īśvara, a Consciência.
Literalmente, mantra significa “instrumento do pensamento”. Os sons mântricos são o melhor instrumento para purificar a mente e praticar nididhyāsanam.
Mas cabe lembrar que a repetição de um som não é um fim em si mesmo: ela se faz em função do resultado: estabilidade do pensamento e reflexão sobre a própria identidade.
Se nos observarmos no dia-a-dia iremos reparar que em muitos momentos ficamos sob tensão, com a consciência atenta apenas ao exterior e ainda com um diálogo interior, um ruído constante na mente, como um rádio que não desliga.
Esse ruído de fundo forma a paisagem interior, o substrato das nossas experiências mentais.
Não é possível mudarmos essa paisagem apenas querendo calar a mente no grito: precisamos usar a ferramenta adequada.
Os mantras nos ensinam a separar-nos das experiências e influências externas, nos levam para o silêncio e nos abrem o espaço interior.
Eles predispõem a mente para meditar e nos conectam, através da reflexão sobre os seus significados, com a nossa verdadeira identidade, que é paz, plenitude e felicidade.
॥ हरिः ॐ ॥
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॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Gostei muito de saber deste conhecimento sobre mantra.