Meditação, Pratique

Meditação da Expansão: Viśvarūpa Dhyānam

Quando compreendo que sou a consciência que já estava desde antes da mente e do desejo, que permanece durante e que fica depois, que estava desde antes do corpo, que está no corpo agora, e que permanece depois, que estava antes do prāṇa, que está na vitalidade agora, e que fica depois, aquilo que chamo de minhas preocupações se reduz até a insignificância.

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expansão

A forma embrionária da meditação da expansão aparece num dos primeiros e mais antigos śāstras: a Taittirīyopaniṣad (I:6). É chamada viśvarūpa dhyānam em sânscrito.

Nela, aprendemos a expandir para mais além do microcosmos do nosso ego, através da visualização da totalidade da criação.

Dessa maneira, conseguimos transcender a identificação com as pequenas coisas do cotidiano que, via de regra, aumentam desmesuradamente em nosso pensamento até de tornar monstros de sete cabeças.

Esse tipo de perspectiva equivocada nos leva, via de regra, a noções equivocadas que, por sua vez, nos fazem agir de maneira errada e, ainda, a obter resultados indesejáveis a partir dessas ações.

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A meditação da expansão nos ajuda a compreender objetivamente o lugar de cada coisa e o significado dos papéis que representamos na vida.

Durante essa meditação, olhamos para nós mesmos na perspectiva do Todo, e assim passamos a conhecer o nosso lugar na ordem das coisas.

Quando olhamos para o mundo como manifestação de Īśvara, e depois percebemos nossas questões pessoais nessa mesma perspectiva, as preocupações simplesmente ficam muito menores do que nos pareceram no início.

॥ हरिः ॐ ॥

Roteiro da Meditação da Expansão

Faça a meditação da expansão gravando o presente roteiro em voz calma e pausada, e posteriormente ouvindo com os olhos fechados, sentado com as costas eretas e as pernas cruzadas. Boa prática.

॥ हरिः ॐ ॥

Procuro uma posição de conforto para permanecer em atitude relaxada, entendendo que o relaxamento não é algo que eu possa ou deva fazer. Posso fazer coisas desde o relaxamento, mas o relaxamento não é fazer coisas, nem deixar de fazer.

Observo então que o corpo assume naturalmente a posição vertical, sem esforço, e permanece descontraído na firmeza natural do āsana.

Vejo que essa mesma atitude se estende à tranquilidade no meu coração e aos conteúdos da paisagem mental. Por um momento paro e observo a quietude do corpomente.

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Logo, permito que a respiração flua sem nenhuma interferência; sem esforço, sem nenhum tipo de comando ou esforço da mente.

Ao mesmo tempo, percebo o respirar e permito que a atenção se centre na expansão e no recolhimento da respiração natural.

Consciência total na respiração; consciência total na fluidez da expansão e o recolhimento do prāṇa, a força vital.

Assim, passo para a prática chamada viśvarūpa dhyāna, antiga meditação que e aparece na Taittirīya Upaniṣad. Nesta contemplação, mantendo os olhos fechados, observo meu corpomente dentro do espaço desta sala.

Logo, visualizo a sala na cidade: tomo consciência da dimensão da sala em relação ao tamanho da cidade. E também tomo consciência da dimensão do meu corpo em relação ao tamanho da cidade.

Tomo consciência do tamanho da cidade em relação ao país, tomo consciência do tamanho do país em relação ao continente.

Observando desde o corpomente, percebo a dimensão do continente, com todas as montanhas, os rios, as planícies, contendo tudo o que o ser humano fez ao longo da história e tudo aquilo que é objeto criado pela natureza.

Tomo consciência dos dois lados do continente, banhado pelos dois oceanos que são muito maiores que a própria terra.

Visualizo agora o planeta inteiro, abrangendo os outros continentes e o terceiro oceano, que não banha esta terra onde estou agora. E lembro que as águas dos três oceanos se misturam, são em verdade uma só. Observo.

Lembro que este planeta é pequeno em relação ao sistema solar.

Também penso que o sistema solar, com todos seus planetas, asteróides e estrelas, é imenso em relação ao meu corpomente, e ao mesmo tempo muito pequeno se comparado ao tamanho da Via Láctea.

E que esta galáxia onde está meu planeta, por sua vez, é infinitesimalmente pequena em relação ao conjunto das galáxias vizinhas que, por sua vez, somadas, são insignificantes diante do tamanho do universo inteiro.

Então agora olho de volta para o meu corpo na sala, tomando consciência da dimensão da criação total, do universo inteiro.

Quiçá com algum direito, possa surgir em mim um sentimento de insignificância.

Porém, ao perceber a dimensão real do universo, vejo quão pequenos são os meus problemas, quão pequenas são as coisas que ocupam meu pensamento no cotidiano.

Isso, por sua vez, me ajuda a relativizar esses problemas e enxergá-los apenas como o que são: situações tópicas inerentes aos papéis que represento na vida.

Lembro que viśvarūpa, o nome que se dá a essa prática, significa a forma da própria totalidade, a forma do todo. Todas as formas, portanto, estão incluídas na forma única que é o Todo.

Cada forma, existe perfeitamente integrada no ambiente com as formas contíguas: o átomo integrado na molécula a molécula na célula, a célula no tecido, o tecido no órgão, o órgão no organismo, o organismo no ambiente, o ambiente no Todo.

E esta consciência que sou, observa, apreciando esse Todo e cada componente dele. Recordo que essa inteligência ativa, chamada Īśvara, está presente em tudo e todos.

Observo desde a perspectiva da individualidade que sou, na forma dessa consciência que observa, que não está separada e que não é diferente desse Todo.

Assim, olho para as coisas do meu cotidiano agora, aquelas pequenas coisas que preenchem o meu dia a dia, minhas preocupações, minhas obrigações, e penso: qual é o tamanho dessas situações que vivo, comparadas com o tamanho do universo?

Quando compreendo que sou a consciência que já estava desde antes da mente e do desejo, que permanece durante e que fica depois, aquilo que chamo de minhas preocupações se reduz até a insignificância.

Quando compreendo que sou a consciência que já estava desde antes do corpo, que está no corpo agora, e que permanece depois, que estava antes do prāṇa, que está na vitalidade agora, e que fica depois, aquilo que chamo de minhas preocupações se reduz até a insignificância.

Assim, relativizo as coisas do ego, permaneço em paz, e posso estender essa atitude relaxada e focada para todas as experiências para todos os momentos do meu dia-a-dia.

Agora, vamos trazer com calma a atenção para o exterior, através dos sentidos. Vamos também tomar consciência da sensações físicas e externalizar a atenção. A meditação da expansão conclui-se aqui.

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ. Que haja paz em cada um, que haja paz no ambiente, que haja paz entre nós.


॥ हरिः ॐ ॥

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Roteiro transcrito por Patrícia Abreu a partir
de uma prática de meditação guiada pelo Pedro.

॥ हरिः ॐ ॥

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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13 respostas para “Meditação da Expansão: Viśvarūpa Dhyānam”

  1. Um dia estarei por aí com vcs para irmos além. Grata!
    Vera Duarte.

  2. Muito eficiente esta prática!
    Hare Om Tat Sat!
    Saúde e paz!

  3. Só posso agradecer professor. Aí a mente sapeca pergunta se são essas atribullações cotidianas tão relativizadas. Vejo este ego querendo beirar a relativização extrema.
    E aí pode encontrar a negligência ou mais sorrateiramente a confusão de valores. Yamas e niyamas tem solucionado o enigma.
    Com abraços,
    Anacarol.

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