Este é o terceiro estágio da meditação na respiração. Ela é chamada Ajapajapa, ou Sohaṁ.
Tem como objeto o som natural do ar que flui. Inclui visualizações e a prática de kecarīmudrā e ujjayī prāṇāyāma.
Aqui você desperta a consciência dos canais arohan e avārohan, que formam um circuito energético dentro do tronco.
Arohannāḍī sobe pela frente do tronco, do mūlādhāracakra até o binduvisārgacakra, na parte mais alta da cabeça.
Avārohannāḍī desce do bindu até o ājnãcakra e depois pela espinha até o mūlādhāracakra.
Esse circuito do prāṇa lembra a figura de um oito irregular, com o círculo superior menor, contornando a circunferência da cabeça.
O círculo inferior mais amplo, contorna o tronco: desce ao longo da coluna vertebral e ascendeo pela parte anterior do corpo, de volta para a cabeça.
॥ हरिः ॐ ॥
Meditação na Respiração, Estágio III
Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Inspire profundamente e repita o mantra Oṁ por três vezes: Oṁ, Oṁ, Oṁ.
Espinha ereta. Cabeça na vertical. Mãos em jñānamudrā, nos joelhos. Boca e olhos fechados.
Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição.
Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude e estabilidade.
Faça uma rotação da consciência por cada uma das partes do corpo: cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.
Localize e elimine deliberadamente quaisquer tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo.
Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo.
Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.
Consciência total no corpo físico denso: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo.
Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atentividade ou afetar o corpo.
Permaneça absolutamente estável: faça kaya sthairyam. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está imóvel, como uma rocha (1/2 minuto em silêncio).
Uma vez que você fica consciente da quietude e o equilíbrio do corpo físico, a respiração fica totalmente calma.
Ao despertar a consciência do espaço interior, essa consciência nos leva à energia vital.
Para alcançar a experiência do prāṇa se pode empregar a imaginação ou a capacidade de visualização: a menor manifestação da energia já nos adverte que algo importante está movendo-se no interior.
O simples fato de tomar consciência do corpo faz com que aumente o fluxo do prāṇa nele. Quando o prāṇa muda, a experiência do corpo muda e a mente também muda (1/2 minuto em silêncio).
A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração. Permita-se ser respirado pelo ar.
Permaneça como observador imóvel do processo respiratório. Seja testemunha (1 minuto em silêncio).
Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo do ar.
Faça a respiração sussurrante, ujjayī prāṇāyāma, e mantenha khecarīmudrā até o fim da prática.
Associe o mantra so com a inspiração, e o mantra haṁ com a exalação. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so.
A cada exalação, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são uma coisa só. So ao inspirar, ham ao exalar.
Perfeita sincronia (3 minutos em silêncio). Agora, deixe de repetir o mantra e apenas escute o som que a respiração produz.
Ao inspirar, ouça o so. Ao exalar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá até o dia da morte. So ham, so ham. O mantra ressoa em cada uma das suas células.
O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos. Consciência contínua e intensa no mantra da respiração. Consciência total (3 minutos em silêncio).
Tome consciência dos canais arohan e avārohan. Arohan é o canal ascendente, que vai pela frente do tronco desde a base da coluna até a garganta e dela até o binduvisārga, no alto da cabeça.
Avārohan é o canal que desce do bindu visarga ao ājñacakra e dele pela coluna até o cóccix.
Visualize estes canais como um tubo luminoso na forma de um oito irregular (1/2 minuto em silêncio).
Ao inspirar visualize a energia e a consciência ascendendo desde o cakra básico até o binduvisārga, no alto da cabeça.
Ao exalar, visualize que a energia volta para a base da coluna, passando pelo ājñacakra e descendo ao longo da coluna (1/2 minuto em silêncio).
Ao inspirar acompanhe o percurso ascendente do prána com o mantra so. Ao exalar, visualize a energia descendo e ouça o mantra haṁ ecoando no seu interior.
Tome consciência de cada cakra que a energia e o pensamento atravessam (1/2 minuto em silêncio).
Desperte a experiência de arohan: ao inspirar, a consciência e o prána ascendem com o so, do cóccix ao intercílio, passando pela frente do tronco, chegando na garganta e subindo até o binduvisārga.
Ao exalar, a consciência e a energia voltam com o haṁ para o cóccix, descendo pelo interior da coluna. Continue assim (1 minuto em silêncio).
Sinta o mantra ecoando na consciência. Observe o espaço interior onde o mantra ecoa. Observe o intervalo entre o so e o haṁ.
Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio.
Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes.
Nessas pausas, desvincule-se do corpo. Desvincule-se do pensamento. Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece (3 minutos em silêncio).
Fixe-se agora no anāhatacakra, no centro do coração. Respire apenas pelo cakra do coração. Concentre-se nele.
Visualize um ponto claro e luminoso no centro do peito. Respire esse ponto (3 minutos em silêncio). Neste momento, prepare-se para concluir esta meditação.
Encerre esta prática e permita que aos poucos o seu pensamento flua para o exterior, através dos sentidos e as experiências sensoriais.
Tome consciência agora dos conteúdos da mente, das experiências do corpo e dos sons do ambiente onde você está.
Externalize a mente. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, abra os olhos.
A prática da meditação na respiração finaliza aqui. Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ.
॥ हरिः ॐ ॥
Como praticar a meditação na respiração?
O texto acima pode usar-se como modelo de elocução. Você estuda a técnica e grava a sua própria voz, lendo pausadamente (uma frase a cada quatro segundos, aproximadamente).
Considere respeitar os tempos que aparecem sugeridos entre parêntesis (ou reduzindo-os proporcionalmente).
Outra opção é fazer pequenos grupos de meditação com seus amigos, onde cada um pode usar os textos como orientação para dar a prática para os outros.
Se você for professor de Yoga, poderá igualmente usar essa prática da meditação na respiração sohaṁ nas suas aulas, tomando o cuidado de escolher a técnica mais adequada para cada pessoa ou grupo.
॥ हरिः ॐ ॥
Extraído do livro Yoga Prático
Pratique os outros dois estágios
da meditação na respiração:
Ajapajapa, Estágio 1
Ajapajapa, Estágio 2
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos
o yoga nos ajuda a compreender e a enxergar a realidade das coisas Wagner Xavier
Oi,
Sobre estes canais arohan e awarohan, perguntei para varias pessoas e ninguem soube me responder, para que servem estes canais? Nem precisa postar isto, mas eu fico muito agradecido se puder me explicar.
Oi Ederson,
Namaste!
Os canais de energia arohan e awarohan formam um circuito dentro do tronco. Arohan nadi sobe pela frente do tronco, desde o muladhara até o bindu visarga, na parte mais alta da cabeça. Awarohan nadi desce do bindu até o ajña e depois pela espinha até o muladhara. Este circuito prânico tem a forma de um oito irregular. Arohan nadi conduz a energia ascendente. Awarohan nadi, a descendente. Nesta e noutras meditações, elas funcionam como um suporte para a atenção.
Boas práticas!
Pedro.