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O outro e o conhecimento de si mesmo

Nos Aforismos do Yoga a ignorância existencial, avidya ou atma-avidya, está definida como a falta de compreensão sobre si mesmo, sobre o que somos, sobre nossa verdadeira essência, o Ser. Assim, está escrito no sutra II:5: 'Ignorância é considerar o impermanente como permanente, o impuro como puro, o doloroso como agradável e o não-Eu como Eu

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Nos Aforismos do Yoga do sábio Patañjali, a ignorância existencial, chamada avidya ou atma-avidya, está definida como a falta de compreensão sobre si mesmo, sobre o que somos, sobre nossa verdadeira essência, o Ser. Assim está escrito no sutra II:5: ‘Ignorância é considerar o inpermanente como permanente, o impuro como puro, o doloroso como agradável e o não-Eu como Eu.’

Esquecemos-nos do que realmente somos porque nos identificamos excessivamente com nossos corpos, pensamentos, julgamentos, sentimentos e também com os papéis que assumimos enquanto pais, mães, filhos, companheiros, etc. Toda essa identificação com os conteúdos do ego e com a paisagem mental encobre, upadhi, aquilo que realmente sou, que é eterno, imutável, absoluto, ilimitado e pura felicidade (ananda).

Segundo o Yoga Sutra (aforismos II:6-9) avidya pode se apresentar de diversas formas: egoísmo (asmita), desejo (ragah), aversão (dvesa) e medo (abhinivesa). Todas essas manifestações são aflições (kleshas) que ofuscam a compreensão do Ser. O Ser pode ser entendido através do conhecimento (jñana) e do discernimento (viveka). Somente com esses dois princípios presentes podemos ir além das experiências limitadas de prazer, aversão, apego e medo.

Com uma mente apoiada no conhecimento e discernimento, sobre aquilo que é real ou não com relação à minha essência, posso aceitar os opostos, a dualidade do nosso mundo e lidar com as aflições, kleshas, as ramificações de avidya, fonte de todo sofrimento e limitação. Quando me proponho a aceitar o mundo e o que está contido nele (pessoas, situações, fatos) como eles são, sem apego e exigência passo a ter uma atitude mais compassiva, mais tolerante e posso perceber que há uma distância entre nossa essência e nossos ‘conteúdos psico-mentais’.

Durante nossas experiências encontramos pessoas que são o resultado, a mistura de seus próprios condicionamentos, desejos, habilidades, virtudes e história de vida. Mas cada indivíduo é a manifestação do Ser, pois o que está em mim está em todos os seres, e mesmo que meu ego aprecie ou não as qualidades e os defeitos que cada um carrega. Se eu compreendo isso, que a Unidade se apresenta nas mais variadas formas, sei o ‘segredo’.

Portanto o Ser existe em mim e no universo ao meu redor e não há nada onde o Ser não esteja. O Ser está em mim e também no outro que vejo. A ignorância é destruída quando entendo, me dou conta desta realidade. A Ishaya Upanishad diz:

Isso é Plenitude, aquilo é Plenitude.
A Plenitude surge da Plenitude é Plena.
Tirando-se a Plenitude da Plenitude,
somente Plenitude permanece.

O Ser pertence e permeia todas as formas e cada pessoa possui características que o expressam, estejam elas visíveis ou não.

Poder participar de um curso de formação, onde compartilhamos nossa vida por um mês com pessoas que não conhecemos é uma oportunidade de nos aproximar desse conhecimento, o conhecimento de si mesmo. Pois o outro é, então, nada mais que um reflexo da minha essência, uma extensão de mim mesmo e nele há tudo o que há para ser conhecido.

Pensando dessa forma a convivência pode ser harmoniosa e enriquecedora porque mesmo se ao olhar o outro o meu ego não se identifique com as qualidades que não aprecio, com um olhar mais compassivo por ver além, ‘ver muito mais que os olhos podem ver… posso ver o Ser em tudo’. (Orações Milenares, “Meditação em Ishvara”, de Swami Dayananda Saraswati).

Entendo que dividir um pedacinho da vida com diferentes pessoas é um aprendizado, para sair do convencional, ‘do padrão samskárico, quebrar os padrões mecânicos na maneira em que reagimos, através da ação consciente’ (apostila do Curso Livre de Formação em Yoga, Pedro Kupfer). Interromper a identificação com aquilo que penso, julgo ou sinto.

Essa oportunidade para mim é a mais profunda essência do yoga. Se sou capaz de adaptar, aceitar, acomodar e respeitar o outro me mantenho dentro do dharma, esta lei universal que se traduz de maneira bem prática em ‘não fazer aos outros o que não quero que seja feito a mim’.

Respeitar o dharma é fazer o que é correto através da ação justa, honesta, compassiva e amorosa e assim, através da atitude yoguica ver além da ignorância e enxergar nossa própria forma, svarupa, nossa essência, o Ser.

Elisa é professora de Yoga em Anápolis – GO. Seu email é ramosveloso@gmail.com.

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7 respostas para “O outro e o conhecimento de si mesmo”

  1. Ainda não sei muito sobre a prática do Yoga, mas pelo que li, me interessei bastante, sou de Anapolis e aos finais de semana costumo meditar no parque ipiranga, se alguém de Anapolis quiser compartilhar desse momento ficarei grato. Geralmente no fim da tarde.

  2. Olá, Elisa, moro em Anápolis e gostaria de saber aonde vc dá aulas aqui em Anápolis, pois estou interessada na prática da yoga, por favor me passe os dados e o telefone do local aonde vc da aulas para que eu possa entrar em contato.
    Obrigada.

    1. Namaskar, Maiza!
      Dou aula em dois locais em Anápolis, Espaço Terapêutico Mente Sã e Espaço de Longevidade Yasmin, ambos no bairro Jundiaí.
      Estou em período de férias, mas retorno no começo de fevereiro. Seguem os telefones para mais informações: 62. 30984540 / 33141415.
      Abraços,
      Elisa.

  3. Eu tb procuro um centro de bem estar para praticar Yoga em Anápolis-Go. Por favor, quem conhecer um lugar realmente afinado com a milenar filosofia indiana, ligue ou mande torpedo 81459110.
    Namastê

  4. Olá.
    Estou a procura de um lugar para praticar o yoga aqui em Anápolis. Você trabalha de que forma, é em algum espaço tipo academia… Gostaria muito de iniciar urgentemente.
    Abraços.

  5. Namastê, Elisa. Que bom poder contactar mais uma vez com essa tua grande mensagem, a união entre todos os seres. Que não exista barreiras entre nós, reconheço em ti o que existe em mim. Obrigado pela vivência, foram momentos exemplares de compaixão, sensibilidade e humildade. Tudo de bom, biscoito! eheh!

  6. Querida Elisa, fiquei muito contente em ler mais uma vez o sue artigo. Realmente é belo e profundo. Desde o nosso primeiro contato, senti que você tem muita sensibilidade e o seu dharma é o Yoga. Foi um prazer conviver e compartilhar contigo sonhos, idéias…Tudo de bOM!!! Namastê!

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