As tradições vivas crescem e mudam de geração para geração. Basta dar uma olhada na história do Yoga para ver isto claramente. Conseqüentemente, cada vez que uma tradição é importada e muda de contexto, alguma coisa também muda nela. Infelizmente, mudança quase nunca significa melhoria. É virtualmente impossível manter a tradição intacta, porque o Yoga não é uma múmia: é algo vivo, dialético, mutante e que interage com o tempo e as pessoas.
Quando o Yoga sai do seu lugar de origem e se adapta ao gosto ocidental, corre o perigo de acabar reduzido a um artigo de consumo. Há ocidentais que, havendo aprendido com mestres indianos, criam adaptações, versões diluídas da tradição para tornar o produto mais palatável e, conseqüentemente, mais vendável.
Ou seja, deixa-se de lado a “morte do ego” ? para usar a expressão mais crua com que podemos definir o Yoga ? e acaba-se por transformá-lo numa técnica de manutenção da saúde.
Deixa-se de lado a transcendência, para centrar-se no fortalecimento da individualidade. É o que o lama Trungpa Rinpoche chamou de “materialismo espiritual”. Nada mais longe do objetivo original.
Entretanto, há ainda aqueles que, havendo estudado apenas por livros, nunca tiveram ou nunca se deram a oportunidade de estar em contato com a tradição viva. Esses yogis não conseguem jamais progredir, pois não entendem o presente contido nela. Às vezes, até ostentam atitudes arrogantes em relação à tradição.
Dessa forma, idéias e práticas são adaptadas, descontextualizadas e vendidas como técnicas de auto-realização. Técnicas que são como fast food: parece que satisfazem, mas em verdade ofuscam a fome verdadeira que motiva a busca espiritual.
Infelizmente, constatamos que muita gente não entende o Yoga, que acaba sendo usado de forma utilitária para preencher necessidades, buscando benefícios pessoais, ou satisfazer desejos, expectativas e fantasias.
Há pessoas que simplesmente não o compreendem: acreditam que ele seja algo que não é. Outros o tomam por uma espécie de esporte acrobático, exótico e excêntrico. Também há aqueles que se contentam com uma pequena porção dele, preferindo criar um culto em torno de um determinado guru, mas sem perceber a profundidade de seus ensinamentos.
Diz um provérbio budista que “quando o sábio aponta para a lua, o tolo olha para o dedo“. Raros são os praticantes que fazem um estudo em profundidade dos shastras e da tradição. Aqueles que querem levar o Yoga realmente a sério são geralmente execrados, tidos como “radicais” ou criticados por serem demasiado “hindus”.
O perigo de receber fast food espiritual achando que se está recebendo Yoga se contorna usando o bom senso, pesquisando e indagando sobre com quem o professor aprendeu e a que tradição ele pertence. É importante saber quem é o mestre do mestre e qual é sua linhagem (sampradaya).
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Conexão espiritual diária e cotidiana de purificação do corpo e mente a busca pela luz e a ratidão do ser interio
Marco da vivência e a paz dentro e fora do tapete
Sou iniciante, estou lendo seus artigos pela primeira vez, é a primeira vez leio sobre Yoga, e percebo que sempre pratiquei Yoga durante a minha vida toda. Acredito que tenho bastante conciência das coisas, e não tenho essa conciência em certos momentos apenas, sinto isso o dia inteiro, sinto que faço parte de algo maior, o meu ego se dilui nessa imencidão. Gostaria de saber se é necessário um mestre, ou é possível estudar e praticar por conta própria.
Gostaria de aprofundar a compreensão sobre a importância citada no último parágrafo como abaixo:
“É importante saber quem é o mestre do mestre e qual é sua linhagem (sampradaya)”.
Grato pelo compartilhar!