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O significado do Mantra Om

Essa sílaba única, Om, vem dos Vedas. Como uma palavra sânscrita, significa avati raksati - aquilo que lhe protege, lhe abençoa. Como se dá essa proteção? É um mantra e é um nome do Senhor. O nome do Senhor lhe protege através da repetição do próprio nome. Pelo nome você reconhece o Senhor. E, portanto, é reconhecimento em forma de oração.

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mantra om

Essa sílaba única, Om, vem dos Vedas. Como uma palavra sânscrita, significa avati rakṣati – aquilo que lhe protege, lhe abençoa. Como se dá essa proteção? O mantra Om é um mantra e é um nome do Senhor.

O nome do Senhor lhe protege através da repetição do próprio nome. Pelo nome você reconhece o Senhor. E, portanto, é reconhecimento em forma de oração. Sendo um mantra, ele é repetido, e, portanto, torna-se uma prece.

O Senhor é o protetor e o provedor; aquele que abençoa é o Senhor; o Senhor é na forma de bênção. Repetido o mantra Om, você invoca o Senhor naquela forma específica. Então, dessa maneira, Om lhe protege. Portanto, ele é fiel a seu nome. É o Senhor que lhe protege, e não o som.

Entre o nome e o Senhor há uma ligação (abhidhāna abhidheya sambandha). Um é o nome, o outro é o seu significado. A conexão é que você não pode repetir o nome sem o significado dele, se você o conhece.

Uma vez conhecido o significado, este vem para sua mente, assim como a palavra. Portanto, não são duas ações diferentes. Não ocorre primeiro a palavra e depois de algum tempo o significado.

Se você conhece o significado quando a palavra aparece na sua mente, no mesmo instante o significado está lá. Isso é possível somente quando ambos estão interligados.

Essa conexão é chamada abhidhāna abhidheya sambandha. E, por causa desse sambandha, o nome protege você, e o Senhor também. O Senhor é Um e não-dual. Isso é o que dizem os Vedas.

Om iti idam sarvam yat bhútam yat ca bhavyam bhavisyat iti:
O que existia antes, o que existirá depois e o que existe agora.

Tudo isso, sarvam, é realmente Om. Tudo o que existe é Om. Tudo o que existiu é Om, e também tudo o que existirá depois, no futuro. Passado, presente e futuro, incluindo o tempo e tudo o que existe no tempo – tudo isso é Om.

mantra om

Os componentes do mantra Om

Aquele Om é Brahman. Portanto, o Senhor é não-dual, e esse não-dual é Um. A sílaba é também uma e não-dual, significando que tudo está dentro dela. E tudo está dentro de Om.

Portanto, é também uma contemplação. Pois, apesar de Om ser uma sílaba única, nela existe A, U e M. A mais U é O, um ditongo, e mais M é Om. Tem, portanto, três mátras, ou unidades de tempo. A é um mātra, U é outro e M mais outro. Brahman é sarvam (tudo) e também está na forma de três.

Brahman em estado causal, como sūkṣma prapañca, o mundo sutil, e o sthūla, o mundo físico. O corpo físico é chamado de sthūla, assim como o universo físico.

Dentro desse corpo físico existe outro mundo. É o mundo do nosso prāṇa que mantém este corpo vivo e inclui a mente e os sentidos.

É sutil, pois está dentro desse corpo físico, não visível, mas sua presença não se perde. Portanto, o que mantém esse corpo vivo, sem o qual estaria morto, isso é sūkṣma. Quando sthūla e sūkṣma estão juntos, então existe vida.

Quando sūkṣma não está presente, esse corpo físico fica inerte. Se Brahman, o Senhor, é tudo, então todo o sthūla prapañca, o universo físico que inclui todos os corpos físicos, é o Senhor, e também o sūkṣma prapañca, o mundo sutil, é o Senhor.

Dessa maneira, temos o Senhor nos três níveis: no nível físico, sutil e causal. Na nossa vida diária também temos três estados distintos de experiência: o acordado, o sonho e o sono profundo. No sono profundo o indivíduo está na forma causal.

No sonho você se identifica com o sūkṣma (sutil), sua própria mente. A mente está acordada e existe uma experiência de sonho e um mundo de sonho. E você ainda identifica-se com o corpo físico e tem então o estado acordado. Então temos três estados de experiência e três mundos.

Isso constitui o indivíduo enquanto ser acordado e todo o mundo físico, o ser que sonha e todas as experiências sutis e o causal, no sono profundo. São três e completam tudo o que existe a nível individual e total.

O ser acordado e individual está incluído em Brahman, que é o total. Portanto, o indivíduo acordado e o mundo acordado é Brahman. Seu mundo acordado está incluído no mundo acordado total.

Todo aquele mundo acordado está representado por A. E existe uma razão para isso, falada nos Śāstras (Escrituras). A é a primeira letra (ou som) que é pronunciada quando se abre a boca, e, da mesma maneira, M é a última, quando se fecha a boca. U está entre os dois.

A representa o acordado, do qual depende U. A torna-se U quando os lábios se fazem arredondados. U representa todo o sūkṣma prapañca (mundo sutil), e M representa todo o mundo causal, pois tudo se dissolve em M.

Depois de fechar os lábios, de dizer M, você não pode dizer mais nada. A e U terminam em M, assim como no sono profundo os mundos físicos e sutil dissolvem-se. Portanto, A-U-M, Om e quando se pronuncia Om, tudo se dissolve em M. E, depois, tudo retorna, Om.

A origem do retorno não é em M, mas sim no silêncio. A e U dissolvem-se em M, e em seguida o Om nasce do silêncio. Então, A-U entram em M, e M entra no silêncio. O silêncio não é A, nem U e nem M, mas está também incluído no mantra Om. Ele é chamado de amārra.

O silêncio que existe entre dois Oms é Brahman, em sua forma essencial, do qual depende AumJāgat, o estado acordado; Swapna, o sonho; Suṣupti, o sono profundo; o Sthúla prapañca, o mundo acordado; sūkṣma prapañca, o mundo de sonho; e o Karana avasthá, o estado causal.

Todos os três dependem do silêncio, que é Brahman, que é Caitanya, consciência, Átman, Brahman. E é aquele mesmo que está nesses três. Portanto, todos os três vêm Dele, são sustentados por Ele e retornam para Ele mesmo. Aquele é Brahman.

Portanto, Om iti idam sarvam: o Om é tudo. É uma sílaba e, ao mesmo tempo, contém tudo. É não-dual. Então, o Senhor é tudo. Todas as formas na criação são formas do Senhor. E todas as formas têm um nome. Imaginemos que queiramos dar um nome ao Senhor.

O mantra Om aponta para Īśvara

Que nome deveria ser? Todos os nomes são nomes do Senhor. Então, qual nome que poderíamos dar? Quando digo cadeira, não é mesa; são diferentes. Suponhamos que cadeira é Brahman, e que mesa também seja Brahman. Então, qual o nome que daria ao Senhor? Deveria dar todos os nomes. Então, todos os nomes em qual língua?

O Senhor é Um. Apesar de seu nome ter que incluir todos os nomes, ainda assim existe um nome de sílaba única que podemos dar a Ele. Este é Om. Em qualquer língua, todos os nomes estão somente entre dois sons.

Isto dentro do ponto de vista puramente fonético. Se você abre a sua boca e faz um som, este é A. Não existe outro som que possa ser feito. Um indiano, um chinês, um norueguês, ou até mesmo uma pessoa de alguma tribo, todos dirão A.

Então, feche sua boca e faça um som. Você terá MM. Tente fazer outro som depois de fechar a boca! Portanto, Am. Todas as palavras, em todas as línguas, estão entre A e M.

Entre essas estão muitas letras que tem de ser levadas em conta. Todas as outras letras estão representadas por o que você produz quando arredonda os lábios e diz A. Você terá U. Junte A e U (em sânscrito) e você terá O; adicione M e terá Om.

Todos os nomes, em todas as línguas, conhecidos e desconhecidos, estão incluídos entre A e M. Om iti idam sarvam. Portanto, Om é tudo e Om é também um nome fonético para o Senhor. Om não faz parte de uma língua específica. É fonético, além de qualquer língua.

Portanto, Om é o nome para Brahman que inclui o silêncio também, o nirguna (sem forma) e o turīya (o quarto estado da consciência, que é a pura consciência). Aum é o turīya. Portanto, Om é considerado o mais sagrado e básico entre todos os nomes do Senhor.

Você pode fazer o japa de Om ou contemplar o Om. Om é o mantra do sannyási. Produz tyága vritti, uma tendência a abandonar tudo. É por isso que geralmente as pessoas não cantam somente Om. Sannyāsins têm que cantar Om para não se envolverem. Outros não são incentivados a cantar para que não larguem tudo.

Geralmente, cantamos Om no início e no final de qualquer coisa. Om representa um início auspicioso.

॥ हरिः ॐ ॥


Extraído do Informativo Vidyā Mandir de novembro/dezembro de 1989, do Vidyā Mandir – Centro de Estudos de Vedanta e Sânscrito, Rio de Janeiro, e digitado por Cristiano Bezerra.

Visite o aqui o site do Arsha Vidyā Gurukulam, o ashram de Swami Dayananda Saraswati na Pensilvânia, EUA.

Para conhecer mais a obra de Swāmi Dayānanda, visite o site do Vidyā Mandir – Centro de Estudos de Vedānta e Sânscrito, da professora Gloria Arieira.

॥ हरिः ॐ ॥

Saiba mais:

  1. O Significado do Símbolo Oṁ
  2. Meditação no Mantra Om

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Swāmi Dayānanda Saraswatī (1930-2015) ensinou a sabedoria tradicional do Vedanta por cinco décadas, na Índia e em todo o mundo. Seu sucesso como professor é evidente no sucesso dos seus alunos: mais de 100 deles são agora Swāmis, altamente respeitados como estudiosos e professores.

Dentro da comunidade hindu, ele trabalhou para criar harmonia, fundando o Hindu Dharma Acharya Sabha, onde chefes de diferentes seitas podem se reunir para aprender uns com os outros.

Na comunidade religiosa maior, ele também fez grandes progressos em direção à cooperação, convocando o primeiro Congresso Mundial para a Preservação da Diversidade Religiosa.

No entanto, o trabalho de Swāmi Dayānanda não se limitou à comunidade religiosa. Ele é o fundador e um membro executivo ativo do All India Movement (AIM) for Seva.

Desde 2000, a AIM vem trazendo assistência médica, educação, alimentação e infraestrutura para as pessoas que vivem nas áreas mais remotas da Índia.

Havendo crescido em uma pequena vila rural, ele próprio entendeu os desafios particulares de acessar a ajuda enfrentada por pessoas de fora das cidades. Hoje, o AIM for Seva estima ter ajudado mais de dois milhões de pessoas necessitadas em todo o território indiano.

subhashita

Subhāshitas, Palavras de Sabedoria

Pedro Kupfer em Conheça, Literatura
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Uma resposta para “O significado do Mantra Om”

  1. Lindo esse artigo do Swami Dayananda. Ele clarifica tanto as coisas na mente da gente… Ler um texto dele é praticamente “meditar no texto”, integrar-se… No final, abrem-se portas e vem um ar novo, revigorado… Uma sensação de estar maior e mais livre. Adoro o site de vocês. Está cada vez mais bonito. Parabéns pela boa vontade, pelo bom coração e pela disponibilidade em dividir/unir todo esse material com a gente… Com carinho, Marceli.

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