A palavra Deus não existe em sânscrito com o sentido que lhe damos aqui no Ocidente. Claro que alguém poderá ver deuses nos mantras hindus.
Pessoalmente, prefiro ver os devas, os “deuses” hindus, como formas de energia, representações simbólicas intuitivas das camadas da existência que transcendem o intelecto.
A Brihadáranyaka Upanishad (III:9) deixa isso bem claro neste diálogo:
“Então Vidagdha Shákalya perguntou: – Quantos deuses existem, Yájñavalkya?
O sábio respondeu de acordo com o seguinte nivid (fórmula invocatória):
– Tantos como são mencionados no nivid do hino a todos os deuses, ou seja, 303 mais 3003 ( = 3306).
– Sim – disse Shákalya – mas quantos deuses existem mesmo, Yájñavalkya?
– Trinta e três.
– Sim – disse ele – mas quantos deuses há mesmo, Yájñavalkya?
– Três.
– Sim – disse ele – mas quantos deuses existem mesmo, Yájñavalkya?
– Dois.
– Sim – disse ele – mas quantos deuses há, Yájñavalkya?
– Um e meio.
– Sim – disse ele – mas quantos deuses existem, Yájñavalkya?
– Um.
– Sim – disse ele – mas quais são os 303 e os 3003 deuses?
Yájñavalkya disse: – Esses são apenas seus poderes (mahima). Eles são somente trinta e três.
– E quais são esses trinta e três?
– Oito Vasus, onze Rudras e doze Ádityas fazem trinta e um. Com Indra e Prajapati são trinta e três.
– Quais são os Vasus?
– O fogo, a terra, o vento, o sol, o céu, a lua e as estrelas. Estes são os Vasus pois configuram este excelente (vasu) mundo. Por isso são chamados Vasus.
– Quais são os Rudras?
– Os dez ares vitais do indivíduo, mais a consciência, que é o décimo primeiro. Quando eles partem deste corpo mortal, nos fazem chorar (rudra = chorar, gritar). Por isso é que eles são chamados Rudras.
– Quais são as Ádityas?
– Elas são as doze luas do ano. Elas são as Ádityas, porque carregam o mundo inteiro ao longo do tempo. Como elas andam (yanti) carregando (ádá) o mundo, são chamadas Ádityas.
– Qual é Indra? Qual é Prajapati?
– O trovão é Indra. O sacrifício é Prajapati.
– Qual é o trovão?
– O raio.
– Qual é o sacrifício?
– Os animais sacrificais.
– Quais são os seis deuses?
– O fogo, a terra, o vento, a atmosfera, o sol e o céu. Eles são seis pois o mundo inteiro é esses seis.
– Quais são os três deuses?
– Os três mundos (bhúr, bhuva, sváhá), pois é neles que todos estes deuses existem.
– Quais são os dois deuses?
– O alimento e a respiração.
– Qual é o um e meio?
– Aquele que purifica (o vento).
– Mas aquele que purifica é somente um. Como pode ele ser um e meio?
– Porque nele o mundo inteiro prosperou (adhyardhnot). Então, ele é um e meio (adhyardha).
– Qual é o deus único?
– A respiração. Ela é chamada Brahman, o além.”
A conclusão sobre este diálogo, extraído de uma das mais antigas Upanishads, fica com o amigo leitor.
Pedro nasceu no Uruguai, 56 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Para mim, só existe um Único Deus, que criou tudo e nos deu a respiração! Muito obrigado!