Que toque o sino
Este conto faz parte do Mahabhārata, o grande épico indiano, e fala sobre Sukha Maharāja, um grande sábio no corpo de um garoto de dezesseis anos. Ele era uno com as florestas, as montanhas, os mares e o todo.
Andava nu, totalmente alheio às coisas do corpo. Quando Vyāsa, seu pai, perguntava onde ele estava, as árvores da floresta respondiam, “estou aqui, estou aqui, estou aqui”.
Vyāsa era o conselheiro de um rei muito virtuoso e caridoso. Quando foi coroado, esse rei manifestou o desejo de patrocinar uma imensa bhandara, banquete onde alimentaria milhares de pessoas, como um gesto de bondade que afirmaria sua soberania.
Entretanto, ele quis saber quantas pessoas estava alimentando, e pediu a Vyāsa que criasse alguma forma de fazer essa contagem.
O sábio pendurou um sino na sala do trono, invocando o poder de um mantra sagrado e disse: “quando mil pessoas se alimentarem, este sino tocará uma vez. Você poderá contar o número de vezes que ele toca e saberá quantos milhares comeram.”
O povo participou do banquete e o sino tocou muitas vezes ao longo do dia. O rei estava muito satisfeito. Quando o sol estava se pondo, e todo mundo já tinha ido embora, o lugar estava vazio e silencioso, mas repentinamente, o sino começou a tocar sem parar.
O soberano perguntou a Vyāsa “tem alguma coisa errada com o sino?” O sábio respondeu que não. O rei disse então, “Eis aqui um enorme mistério. Porque, agora que todo mundo foi embora, o sino toca desse jeito?”
“Seja o que for”, disse Vyāsa, “o sino não falha. Procure e veja se tem alguém comendo, ou o que está acontecendo.”
O rei chegou no lugar onde tinha acontecido o banquete e achou o garoto Sukha, todo sujo e despido, a comer os restos junto a uns cães vagabundos. A cada vez que ele comia um grão, o sino tocava. O rei correu até Vyāsa dizendo, “um jovem mendigo está comendo as sobras e a cada vez que ele come um pouco o sino toca, como se milhares de pessoas estivessem alimentando-se. Quem é esse garoto?”
Quando o rei o descreveu, Vyāsa respondeu, “Ele é o meu filho. Ele é o Universo inteiro. Se come um grão de arroz, é como se milhões de pessoas comessem.”
O rei ficou chocado: “não vejo a vantagem de alimentar milhares de pessoas num banquete, se ninguém reparou numa pessoa como essa. Quando ele come, é como se o mundo inteiro estivesse se alimentando. Qual foi então o benefício da minha caridade?”
Envergonhado, disse, “nunca pude imaginar que pudesse existir alguém assim e estou aqui, me gabando estupidamente de haver alimentado alguns milhares.” Depois, se prostrou frente a Sukha, mas o garoto nem ligou, e continuou comendo junto com os cães.
Esta á história de um jovem que conseguiu transcender o ego, acabando por tornar-se no próprio universo. Aquele que trata todo mundo como a si próprio, realmente merece a confiança do mundo. Essa é a essência de toda espiritualidade.
॥ हरिः ॐ ॥
Mais história e mitos do Yoga aqui.
Interessante artigo sobre Yoga e mitologia aqui.
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos
o alimento espiritual e nem todo tem fome Wagner xavier gratidao
o alimento espiritual e nem todo tem fome Wagner xavier
o alimento espiritual e nem todo mundo que
Que ensinamento magnífico!