Como viver o Yoga na vida? Esta história nos ensina. Ela fala sobre o ensinamento que o jovem yogi Śuka recebe do rei Janaka, pai da princesa Sītā, heroína do épico Rāmāyāṇa.
A história mostra algo pelo que todos nós passamos em algum momento das nossas vidas em relação ao Yoga: como conjugar a vida trepidante nos dias de hoje com o estado de paz que se precisa para viver em Yoga?
Ao mesmo tempo, a história nos dá uma sugestão para passar através dessa situação e sair vitoriosos.
Naqueles tempos, a civilização hindu estava em seu auge: a glória do país era a glória do povo.
O rei Janaka era muito justo e sábio e seu reino, Mithila, brilhava com esplendor. O povo era muito grato por ter um rei como ele.
Ele administrava o reino com retidão e justiça e ao mesmo tempo era o mecenas dos yogis, sendo considerado igualmente um santo.
Tinha recebido Brahmajñāna do próprio Yājñavālkya. A mais antiga das Upaniṣads, Bṛhadāraṇya, é o diálogo sobre conhecimento transcendental travado entre este rei e o ṛṣi.
Śuka era muito inteligente e queria sempre aprender mais e mais. Seu problema era a falta de humildade. Para dar um jeito na situação, seu pai, Vyāsa, enviou-o à corte de Janaka, para que aprendesse com ele.
Foi muito bem recebido na corte, onde o próprio rei lavou seus pés e lhe deu magníficos aposentos.
Depois de alguns dias vivendo no luxo do palácio, o yogi começou a se perguntar como o rei poderia ser tão sábio no meio desse lugar.
‘A mente do sábio deve procurar a solidão e evitar a pompa, a ostentação e a riqueza’, pensava Shuka.
Um dia, ele se dirigiu ao rei e disse: ‘ó rei, tenho desfrutado da sua hospitalidade, mas estou cansado de tanto luxo. Em verdade, vim procurando o Brahmajñána.’
‘Como você pode ser um brahmajñáni em meio a esta riqueza e pompa? Como você pode manter ao mesmo tempo seus deveres reais e a realização espiritual?’
O rei respondeu: ‘Maharaj, eis aqui um pote cheio de óleo até a borda. Por favor, pegue-o e dê uma volta inteira ao redor do palácio.
‘Porém, mantenha em sua mente que você não deve deixar cair nem sequer um pingo de óleo. Se isso acontecer, você perderá o direito à resposta da sua pergunta’.
O yogi pensou que era uma condição bem estranha, mas mesmo assim começou a fazer o que o rei tinha pedido.
Saiu e começou a fazer a circunvolução do palácio. Num primeiro momento, cruzou-se com um grupo de bailarinas, mas continuou andando com a mente fixa no pote de óleo.
Depois, cruzou-se com um grupo de pessoas fazendo um banquete, bebendo e fazendo algazarra. Continuou andando com o pensamento fixo no pote.
Logo adiante, se cruzou com um bando de jovens brincando e prosseguiu com a mente centrada na tarefa.
Muitas outras situações surgiram ao longo do caminho, mas ele manteve o pensamento centrado em não derramar o óleo.
Ao terminar a volta ao palácio, chegou frente ao rei e disse: ‘eis o seu pote de óleo, ó rei.’
Janaka ficou muito satisfeito com a tarefa de Shuka e perguntou-lhe: “Diga, meu jovem, o que você viu ao dar a volta ao meu palácio? Descreva-me as riquezas e maravilhas que você viu”.
‘Não vi nada, rei, exceto este pote de óleo. Minha atenção estava fixa unicamente nele para evitar que caísse uma única gota’.
‘Essa, reverendo sábio, é a resposta à sua pergunta. Quando um homem vive neste mundo, mas com a mente fixa na verdade, ele não se distrai com os encantos mundanos nem se deixa cair nas armadilhas dos sentidos’.
॥ हरिः ॐ ॥
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॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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