Quando pensamos em academias de ginástica, vêm à mente aqueles aparelhos para modelar o corpo, música alta, garrafas plásticas com algum energético, transpiração, massa muscular, e o substantivo ‘malhação’.
A busca pela beleza, o corpo perfeito e em conseqüência a boa saúde, tudo isso banhado por uma certa dose de vaidade inerente ao ser humano, faz com que alguns exagerem na prática de exercícios físicos.
Nada contra àqueles que tenham por objetivo dedicar-se ao aumento da massa muscular e/ou à perda de eventuais quilinhos extras; mas, o que não se pode confundir são os meios (no caso do Yoga, a prática física) com o fim (no Yoga, a liberdade). Isto é, o que me é oferecido e como me é oferecido para construir o meu bem estar.
Com a difusão do Yoga na mídia, com a participação de algumas celebridades, a população passou a conhecer um pouco mais dessa arte e escola de filosofia que chamamos Yoga. Suspeitamos, contudo, que a maneira em que o Yoga foi apresentado, possa não ser a mais correta.
Nesse contexto, percebemos que, de uns tempos para cá, embaladas pela propulsão da mídia, academias de ginástica passaram a adotar o Yoga como modalidade desportiva, oferecendo a seus alunos a possibilidade de malhar-se de uma forma mais zen.
Muitas vezes encontramos nestas academias profissionais que interpretam o Yoga de uma maneira que, tradicional, não é. E, o que acabam transmitindo nada mais é do que um quick-fix, exercícios que alongam o corpo, provocam transpiraçãoe queimam calorias, podendo-se comparar a talvez ao mesmo resultado que se obtém ao terminar uma aula de spinning.
Pois bem. Não quero dizer que não existam academias de ginástica que se preocupam seriamente em transmitir o verdadeiro Yoga. Acredito que elas existam, sim. Mas, já ouvi comentários como este: ‘Ah, tem o som alto da sala de musculação que atrapalha … não é a mesma coisa aue se praticar em um espaço de Yoga.’
Diante disto, segue abaixo um estudo comparativo sobre a prática do Yoga que geralmente encontramos em academias de ginástica e a que vemos nos espaços de Yoga atualmente:
Yoga em academias |
Yoga em espaços de Yoga |
O Yoga é tido e visto como um tipo de malhação | O Yoga é considerado filosofia, auto-conhecimento, processo de crescimento |
Muita gente praticando ao mesmo tempo, massificação | As turmas podem ter um número reduzido de praticantes |
Objetiva apenas o trabalho corporal: perda de peso e/ou ganho de boa forma | Objetivo: com a exceção de alguns espaços de carácter comercial, o objetivo sempre é Moksha, a libertação |
É difícil manter um número fixo de praticantes persistentes, devido à grande rotatividade | Apesar de também haver rotatividade há, de modo geral, mais yogis persistentes e interessados em se aprofundar na prática e no estudo |
Habitualmente, zero de divulgação e dedicação ao estudo do Yoga em seus aspectos filosóficos ou sociais | Em muitos espaços incentiva-se o estudo do Yoga, o Vedanta, o Ayurveda e até mesmo o sânscrito |
Modismo passageiro para a grande maioria, tendendo na atualidade a ser substituído pelo Pilates | O Yoga é considerado como modo de vida e seu estudo é indispensável para aqueles que a ele se dedicam |
Geralmente, as turmas não duram muito, nem tem coesão | A união entre os yogis, resultante da é evidente |
Pode ser difícil para o instrutor ajustar e corrigir os ásanas de todos os praticantes | Existe preocupação da parte do instrutor em ajustar e adequar cada postura a cada praticante |
Não há a intenção de transmitir o conhecimento filosófico do Yoga | Há, de modo geral, foco do professor na transmissão do conhecimento milenar |
Não há tempo para meditar | A meditação faz parte da prática |
A tabela acima demonstra claramente as diferenças que existem entre praticar Yoga em uma academia de ginástica e em um espaço de Yoga especialmente destinado a esse fim.
É claro que existem exceções. Sabemos que algumas academias reservam um espaço físico adequado em suas instalações, com instrutores bem preparados para o ensino da arte milenar do Yoga. Na contramão, também existem espaços de Yoga que tratam esta nobe filosofia como se fosse malhação.
Vez por outra, nos deparamos com espaços de Yoga que dão ênfase apenas à qualidade de vida e ao combate ao estresse de quem os procura, esquecendo, porém, que Yoga não é apenas isso. Mas, de qualquer forma, o próximo passo aos que somente se preocupam em aliviar o estresse e buscar qualidade de vida será iniciar-se no estudo do puro Yoga.
Do reverso, existem os que visam apenas o lucro, e/ou a subjugação psicológica dos incautos, como se fossem ervas daninhas em um belo jardim que floresce.
Discernir o joio do trigo caberá a você, praticante-yogi, pois mesmo que transite por lides que não lhe agradem, algo sempre irá aprender. Yoga, Vedanta e Ayurveda caminham juntos. Lembremos que o propósito maior do Yoga é moksha, a libertação, o conhecimento de Si mesmo. Esse objetivo através do processo de crescimento interior.
Harih Om!
Humberto é professor de Yoga em Campinas. Seu email é humbertomeneghin@yahoo.com.br.
Humberto é professor de Yoga em Campinas.
Mantém o excelente blog Yoga em Voga.
Oi, Simone: bem válidos os seus comentários. É legal saber que vc tem uma boa consciência sobre o assunto. Independentemente de o estudo comparativo haver sido exposto em uma tabela gráfica, o que importa é a mensagem, não é mesmo?
Uma observação: Os alunos que procuram uma escola de Yoga, entram lá pura e justamente atrás do Yoga. Os alunos de uma academia, entram, na sua maioria, atrás de malhação, físico, estética, social, etc. Observo que após darem uma chance ao Yoga (pois ainda há na maioria das pessoas aquela idéia de Yoga ser apenas um alongamento e relaxamento Zen), começam com o interesse genuíno no sadhana. Claro, reconheço que não são todos, alguns saem da aula e vão para a aula de step, etc., porém acho que conseguimos alcançar uma boa parcela de pessoas que se não fosse na academia, talvez nunca chegariam a ter essa chance de conhecer o Yoga! Por isso acho válida essa chance que temos, mas também concordo que deve haver um cuidado e atenção nessas aulas, principalmente com professores de Yoga, que por acaso são professores de Ed. Física e não professores de Ed. Física, que por acaso são professores de Yoga! Abraços a todos! Namaste!
Olá Humberto. Assim como a amiga Aninha, também precisava deixar um comentário. Também dou aula em academia e sou aluna em escola de yoga. Faço um trabalho contínuo junto com outros professores. Passamos para frente o que aprendemos, em todas as aulas, para todos os alunos e assim plantamos sementes em cada um deles. Incentivamos a leitura e a busca “extra classe”. Uns vão embora na primeira aula sim, mas os que ficam, ficam porque deixaram essa semente começar a brotar. Também houveram mudanças na estrutura da academia (por pedidos dos alunos) com horários diversos, com sala especial – longe do spinning -, com cintos de paredes, blocos, etc. E fico feliz em saber que vários desses alunos abraçaram o Yoga e hoje em dia são ou estão em processo de tornarem-se professores. E mesmo os que continuam “apenas” indo às aulas, sabemos que muitas coisas mudaram em suas vidas, tentando viver o Yoga. Por isso também friso o que a colega disse, que não importa o local, basta você ter a boa intenção, querer e FAZER com que aconteça. O pré-conceito, julgamento e a “marginalização” desse ou de outro tipo, aqui ou em outro lugar não é o caminho. Desculpe, mas essa tabela me lembra muito o estilo de um tal Mestre que todos conhecemos. Espero que essas manifestações ajudem a mudar a imagem do Yoga fora das escolas específicas. Namaste!!
Obrigado pelos comentários, Aninha, Bruno e Gustavo e parabéns por fazerem a diferença ao transmitirem o Yoga Puro.
Harihi Om Humberto. Para além de lecionar em escola de yoga, eu também dei aula de yoga em várias academias e senti que algumas pessoas vão apenas em busca de um relaxamento, um stretching, ou um descanso após as aulas de spinning, mas para além dessas pessoas, estão futuros adhikaris, aqueles que buscam moksha, a libertação. Apenas acontece que já que estão inscritas numa academia que lhes permite dedicar algum tempo à cultura física e mental a aula de Yoga é como a cereja em cima do bolo. E logo se criam vínculos e amizades, e a aula de academia passa a ser igual a uma aula de Yoga numa escola. Aconselho a todos os professores de academias que não reneguem o Yoga apenas para o patamar físico e que aconselhem a leitura e o estudo do Yoga fora das paredes da academia ou da escola. Forte abraço, namaste!
Olá Humberto, Eu também trabalho dando aulas em academias no Rio de Janeiro. E como a Anninha disse, cabe a nós mostrar o verdadeiro yoga para estes alunos. É claro que praticar num espaço voltado para o yoga é bem melhor. Mas já que temos este espaço, podemos utilizá-lo da melhor forma. Eu tenho turmas muito interessadas em aprofundar a prática de yoga como maneira de viver, dentro de academias. Pessoas que estão bem interessadas e que pedem até por aulas teóricas. As vezes nem dou aula de ásanas pois os alunos querem ouvir um pouquinho mais sobre o que é a vida de yoga. Por outro lado, conheço espaços de yoga aqui na minha cidade que atraem um perfil de praticante que está mais interessado na estética, no ar condicionado e na sauna do que na prática em si. Culpa de professores que não sabem passar o verdadeiro “espirito da coisa”. Então, não importa onde praticamos, mas a atitude com a qual praticamos. Que possamos juntos sempre passar estes ensinamentos para aqueles que nos procuram! Grande abraço!
Hari Om Humberto! Tenho que me manifestar pois dou aula em 3 academias, e isso já faz 7 anos. E falo com absoluta convicção que sou e tento ser a cada dia uma dessas exceções. Meus alunos sabem que se querem malhar devem se direcionar a outra aula, pois ali, estou para ensinar Yoga. Sim, o Yoga filosofia de vida, além da sala de aula. Não quero só que os alunos trabalhem o corpo nos ásanas, quero que eles se transformem como seres-humanos, em todo potencial que tem, mental e física, espiritual e fora da sala. A idéia geral é que numa academia não seria possível isso, mas tudo depende da atitude do professor, dos alunos. Ao longo dos anos desenvolvi um lindo trabalho com meus alunos que motivados pela busca de “algo mais” mobilizaram-se para que o ambiente ficasse ainda mais propício para as aulas. Por isso agora, nessas academias enquanto tem minha aula, não tem mais spinning ao lado e nem música alta na sala ao lado. Pois meus alunos assim quiseram… quiseram ir além, e abraçar o Yoga em sua totalidade. Tudo é possível, só depende de você. Não importa em que ambiente se encontre, o yoga pode acontecer de maneira sincera e sem deturpações, é só querer. Namaste!