Mokṣa significa liberdade, e é o objetivo do Yoga. Ouça por favor esta história.
Um mestre e seu discípulo estavam morando recolhidos num lugar tranquilo e isolado. Tinham algumas vacas para lhes fornecer leite, que eram cuidadas pelo estudante. De manhã, depois das aulas, ele as levava até o pasto e no fim do dia as conduzia novamente até o estábulo.
Um dia, de noitinha, depois do pôr-do-sol, quando as vacas já estavam no estábulo, ele reparou que as cordas com as quais elas eram amarradas tinham sido perdidas no pasto. Foi, alarmado, falar com o mestre, pois elas poderiam sumir durante a noite se não fossem amarradas.
“Não se preocupe”, disse o professor, “faça de conta que você as amarra, uma a uma, em seus respectivos lugares e elas ficarão quietas até amanhã”. O discípulo coça a cabeça, duvidando, e pergunta: “E depois?”
“Depois veremos”, responde o guru. O rapaz volta ao estábulo, faz de conta a amarra as vacas, e vá dormir. No dia seguinte, volta ao estábulo e repara que todas as vacas estão nos seus lugares. Fica agradavelmente surpreso.
Porém, quando as chama, elas não se movem. Tenta puxá-las, e nada. Aí, ele imagina que o mestre tem algum tipo de mantra mágico imobilizar as vacas. Vai até ele e lhe conta o que está acontecendo.
O guru pergunta: “Mas você as desamarrou? Ontem você fez de conta que as tinha amarrado. Elas estão esperando para ser desamarradas. Volte la e solte-as!”
Mokṣa
A pessoa em mokṣa não mais vê a si mesma como condicionada pela identificação com o corpo físico ou os pensamentos, sujeita à morte, à passagem do tempo. Conhecendo a si mesmo como Brahman, a pessoa se desvencilha da ideia de ser limitada, assim como as vacas se libertam da noção de estarem amarradas.
É só uma noção, lembre disso. É só uma mudança de visão de si mesmo. Não há necessidade de se fazer mais nada, nenhuma ação e precisa para se ter mokṣa. É só se dar conta de que você já é livre.
Se você está pronto para se dar conta disso, e as condições internas e externas assim o possibilitam, se a mente está preparada e purificada, se o pramāṇam, o meio de conhecimento está disponível, se o professor está disponível, mokṣa inevitavelmente acontece.
No sétimo capítulo da Chāṇḍogyopaniṣad aparece o mahāvākyam, a grande afirmação védica tat tvam asi: “você é esse [Ilimitado]”. Dizer que você é Ilimitado, que você é a causa de tudo, pode parecer arrogante. Toda forma de arrogância é uma forma de ignorância.
Porém, não há arrogância alguma em se reconhecer como Brahman, em se reconhecer como satyam, como o verdadeiro. Pelo contrário, o autoconhecimento dá à pessoa tranquilidade e humildade.
Traduzido por Pedro Kupfer a partir de uma palestra de Pūjya Swāmijī em Março de 2011, em Rishikesh, Índia. Mais textos sobre Vedānta aqui.
acho que não é nem arrogância , é medo mesmo, de sermos livres, de sermos tudo que buscamos :). Obrigada Pedro.
A prática, caminho completo para a liberdade!!!
Essa estorinha é “brutal”, como se diz aqui em Portugal.
🙂