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A Ativação da Garganta, Jalāṇḍhārabandha

O jalāṇḍhārabandha ou "fecho" da garganta é um dos quatro bandhas ou "travas" internas usadas em certas práticas de āsana, prāṇāyāma, mudrā e meditação para conduzir o fluxo da força vital através do corpo.

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jalāṇḍhārabandha ou “fecho” da garganta é um dos quatro bandhas ou “travas” internas usadas em certas práticas de Haṭhayoga como āsanaprāṇāyāmamudrā e meditação para conduzir o fluxo da força vital através do corpo sutil.

Os outros três bandhas são mūla, ativação da região do períneo, uḍḍīyana, recolhimento do baixo ventre, e jihva, a ativação da língua, que fica voltada para cima e para trás. 

A ativação da garganta pode ser associada a essas outras três, a duas delas (geralmente mūla e uḍḍīyanabandha) ou ainda pode ser feita isoladamente. Quando os quatro bandhas são feitos em conjunto, recebem o nome de mahābandha ou grande ativação.

Quando fazemos mūla, uḍḍīyana e jalāṇḍhārabandha associados, essas três ativações recebem o nome comum de bandhatraya ou ativação tríplice. 

jalāṇḍhārabandha é usado, dentre outras, na inversão sobre os ombros, sarvāṅgāsana, nas mudrās (“selos” energéticos) viparītakarāṇīmudrāyogamudrāmahāmudrā e outras, além dos momentos de retenção com pulmões cheios e/ou vazios nos prāṇāyāmas e na meditação no viśuddhacakra, o centro vital a garganta.

No seu livro Light on Yoga, o professor B.K.S. Iyengar afirma que o jalāṇḍhāra é o primeiro bandha que o praticante deve conhecer e dominar para poder praticar os prāṇāyāmas de maneira eficiente. 

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Jalāṇḍhārabandha: a técnica

Para começar, sente por favor numa posição confortável, com as costas eretas e as pernas cruzadas, ou sobre os calcanhares, se você achar melhor. 

Mantenha as mãos sobre os joelhos, com os indicadores e polegares de cada uma em contato entre si, e as palmas voltadas para cima ou para baixo, conforme lhe for mais confortável.

Inspire vagarosa e profundamente, até encher cerca de 80% da capacidade máxima dos seus pulmões e, a seguir, retenha a respiração. Ao mesmo tempo, faça também uma tração da coluna vertebral.

Incline a cabeça para a frente e aproxime o queixo da parte alta do esterno. Simultaneamente, eleve também o esterno em direção ao queixo, de maneira a aproximar esses dois pontos. Mantenha a coluna tracionada.

Porém, lembre por favor que você não precisa tocar com o queixo no esterno, caso isso não aconteça naturalmente. Você não precisa forçar o pescoço para que o jalāṇḍhārabandha seja eficiente.

Chegado nesse ponto, faça o movimento de deglutir saliva. Relaxe e alongue a musculatura da parte posterior do pescoço. Suavize a expressão do rosto e mantenha as pálpebras suavemente fechadas, sem forçar.

Ative, sem fazer força excessiva, a musculatura anterior do pescoço, na altura da garganta. Evite tensionar esses músculos. Mantenha os ombros afastados das orelhas. Procure manter uma tração suave da região cervical ao mesmo tempo em que faz a inclinação da cabeça à frente. 

Desfrute desse momento de quietude. Retenha a respiração pelo tempo que for confortável e, em seguida, eleve novamente o queixo e termine a inalação antes de liberar a respiração.

Repita esse processo por mais quatro vezes, da mesma maneira, para sentir o efeito desta poderosa técnica. 

Erros habituais

Evite esses dois erros para obter o máximo dessa técnica:

Forçar o queixo para baixo

Essa postura envolve abaixar o queixo e elevar o esterno. Certifique-se de fazer as duas coisas ao mesmo tempo e evite forçar o queixo em direção ao esterno, já que isso pode provocar tensões desnecessárias na região da garganta.

Exagerar na retenção do ar

Inspire com a cabeça erguida. Mantenha a postura (e a respiração) apenas enquanto for capaz. Levante a cabeça e inspire antes de retornar à postura.

Engajando a ativação da garganta junto com o mūla e o uḍḍīyana

Agora vamos ver uma forma adequada de engajar o bandhatraya, a contração tríplice, na qual combinamos o jalāṇḍhārabandha com as ativações do ventre e do períneo.

Para praticar a ativação da garganta em conjunto com os outros dois bandhas, faça o seguinte: em primeiro lugar, eleve o assoalho pélvico, ativando o mūlabandha.

Naturalmente, esse recolhimento da musculatura do períneo irá fazer com que o abdômen se ative e, por sua vez, se eleve em direção à caixa torácica.

Aí você engajou espontaneamente o uḍḍīyana. Finalmente, o queixo desce em direção ao esterno, em jalāṇḍhārabandha. Assim você faz o bandhatraya, a ativação tríplice.

Com o tempo e prática você conseguirá manter essas três ações por períodos cada vez mais prolongados. Porém, nunca force, por favor. Lembre que você não precisa forçar sobre algo que já é forte, como é o caso dos bandhas.

Precauções

Como a ativação do jalāṇḍhāra envolve reter a respiração, ela não deve ser feita por pessoas com hipertensão, glaucoma, problemas cardíacos ou limitações pulmonares.

Igualmente, vai com cuidado caso você tenha alguma condição na região cervical, como uma hérnia anterior ou se estiver com torcicolo. Também evite prolongar as retenções caso sinta tontura. 

Efeitos

A ativação da garganta produz um suave porém eficiente alongamento da parte alta da cadeia muscular posterior, atrás do pescoço. Essa área costuma estar tensa, devido à postura em que olhamos para as telas dos nossos computadores ou telefones.

Caso você sinta esse tipo de desconforto, e para terminar de eliminar tensões nesta área, você pode rodar suavemente a cabeça para os lados ou girar os ombros em movimentos circulares para frente e para trás algumas vezes, sempre associando movimento e respiração da maneira que o seu bom-senso ache adequada.

Desde o ponto de vista sutil, o jalāṇḍhārabandha ajuda a ativar as qualidades associadas ao viśuddhacakra, o centro de força da garganta. Essas qualidades são uma comunicação fluida, criatividade e liberdade de autoexpressão.

Desde o ponto de vista fisiológico, praticar jalāṇḍhārabandha ajuda a ativar as glândulas do pescoço, tireóide e paratiróides. A glândula tireóide tem uma enorme e importante série de funções: favorece o bom funcionamento do batimento cardíaco, o intestino, o ciclo menstrual, a fertilidade, a temperatura corporal e, ainda, regula funções cognitivas como a memória e a concentração.

Já as paratiróides, que são quatro, estão associadas à produção do hormônio que controla a quantidade de cálcio presente no sangue. É por esse motivo que esta técnica é especialmente benéfica em caso de disfunções nessas glândulas, bem como durante e após a menopausa, já que ela ajuda o sistema endócrino a fazer o seu trabalho.

॥ हरिः ॐ ॥

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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