Começando, Pratique

Caminho de volta

Fui atrás do Yoga após ler um livro chamado A Onda Interior. Este livro é uma biografia da lenda viva do surf Tom Carrol, legítimo representante do power surf, hoje aposentado

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Fui atrás do Yoga após ler um livro chamado A Onda Interior. Este livro é uma biografia da lenda viva do surf Tom Carrol, legítimo representante do power surf, hoje aposentado das competições. Ele relatava que o Yoga tinha operado uma verdadeira transformação em sua vida e que, como atleta, sua performance tinha mais do que dobrado. Opa!, pensei: Yoga, surf. Surf, Yoga…

Naquela época minha motivação foi essa. O que importava para mim era que esse tal de Yoga me ajudasse a surfar mais. Moksha e nirodhah sequer faziam parte de meu vocabulário. Hoje, fazendo uma reflexão sobre tal assunto, me questiono: será mesmo que não foram estas duas palavras as verdadeiras responsáveis pela minha procura? Acredito que nem uma pequena folha caia de uma árvore sem que Algo superior guie esta ação. Existe um motivo.

E, quando ouvi de meu professor que ‘não importa qual a motivação inicial ao se iniciar a prática, o que importa é o que vem depois’, as coisas começaram a se encaixar. Finalmente, pude de fato entender suas palavras e, principalmente, o que estava por trás delas, quando estudando o Yoga Sutra, li que ‘o estado natural do homem é o Yoga’. Percebi, então, que o que aconteceu comigo foi como um ‘retorno’, um anseio de meu verdadeiro Eu à sua origem, à Plenitude.

Nossa essência, em algum tempo, ou melhor dizendo em seu melhor tempo, buscará o conhecimento necessário para se ver livre do samskára, as raízes profundas dos nossos condicionamentos. Até por que nossos medos, neuroses, crenças e condicionamentos não são de forma alguma atemporais. O Ser sim o é. E é pleno e puro em sua essência. Todos os seres, sem exceção, por isso mesmo, somos irmãos. Não importa quanto tempo este processo de volta demore, um dia ele virá à tona pois este é nosso estado natural.

Conforme vamos avançando na prática o conhecimento vai se revelando. Não adianta querer explicar o que é o universo para uma criança de cinco anos. È mais ou menos como dar uma prancha Al Merrick, zerinho, para uma pessoa que está começando a surfar. Tudo em seu devido tempo.

Chega um momento em que conceitos como o que aparece no Satapatha Brahmana: Todos os homens neste mundo nascem moldados por si mesmos, podem ser entendidos e aplicados no dia a dia. Sermos nós mesmos, apenas nós, os responsáveis por tudo que ocorre e ainda acorrerá em nossa existência é o que de mais justo este Ser Supremo, ou seja lá pelo nome que O chamem, criou.

Viver de acordo como os yamas e niyamas é algo que no fundo nos faz bem. Nos dá uma sensação de harmonia com tudo e com todos. São conceitos que dever ser primeiramente entendidos e depois vivenciados. Um dia de cada vez. Comecemos com um deles como nos ensinou Gandhi. E vamos em frente, dando nosso melhor. Logicamente, pisamos na bola vez ou outra, mas que nossos erros involuntários, sejam nossos verdadeiros mestres.

No mais, olhando para o futuro, tomei a decisão de estar sempre trabalhando no sentido de evoluir em meu caminho como yogi. Seja na prática, nos estudos ou na compreensão das realidades da vida. Almejo, sim, ser um yogi 24 horas por dia. Desejo isto a todos e quero levar comigo o maior números de pessoas junto. Quero ficar velhinho praticando, estudando e surfando. Realmente me preparando para a próxima. E que na próxima, possa eu ter a felicidade de nascer yogi, amar e ser amado e, se não for muito pedir, de novo surfista! Namastê!

Jorge é professor de Yoga e Educação Física, especialista em treinamento desportivo. Desenvolve trabalho com surfistas profissionais e amadores, paralelo as aulas de Yoga no Espaço que tem com sua mulher Daniela, na Praia dos Amores, em Itajaí – SC.

A foto de surf foi tirada por Gustavo Prota, na Praia Brava.

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3 respostas para “Caminho de volta”

  1. Muito agradecido Jorge, por suas palavras.

    Hoje fiz minha segunda aula de yoga e ao final perguntei a professora onde poderia encontrar uma literatura sobre o assunto para iniciar minha jornada, e ela me indicou esse site..

    Acessei e comecei a navegar calmamente sem me prender a nenhuma materia ou informação, mas quando li a palavra Surf no seu artigo, parei e o li por completo..

    Como disse e que também acredito, nada ocorre por acaso e minha busca pela yoga se deu por conta da paixão pelo surf e como complemente a tudo que já faço de atividades para me preparem para o surf e para o jogo de tenis.

    Enfim e em resumo, como vivo muito atento as minhas intuições e sinais que a vida nos presenteia para nos ajudar a tomar decisões, isso em qualquer nivel de consciencia, acredito, seu texto, muito bem escrito há mais de 9 anos atrás, foi o sinal que a vida novamente me deu sobre estar no caminho adeaquado as minhas buscas por saude e equilibrio.

    Novamente agradeço e quem sabe qualquer dia pegamos algumas ondas e/ou fazemos uma aula de yoga juntos.

    Grande abraço. Namaste. AlohAmém.

    Fábio

  2. Grande Jorge! Para quem te viu iniciar o caminho do Yoga é motivo de orgulho dizer parabéns amigo. Um super beijo no coração. Ali.

  3. Salve Jorge ! Sensacional esse paralelo que você fez do Surf com Yoga. Texto inspirador. Trago suas palavras e sua amizade no coração. É tudo nosso! Namastê!

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