O Yoga é um instrumento indutivo do bem comum, pois a partir do indivíduo, conhece-se o todo e age-se a fim de que todos os seres sejam felizes. O bem comum é realizado quando se respeita o outro como a si mesmo. Esta regra básica parece ser simples; todavia cabem algumas considerações.
Para que se saiba o que é desrespeito para uma determinada pessoa, precisa-se levar em conta a sua própria realidade, o meio em que ela vive, sua personalidade, entre outros fatores que podem ser percebidos, desde que você esteja receptivo.
Estar receptivo significa estar atento aos sinais que a vida lhe dá, levando-os a sério, por mais que para a sua realidade não lhe façam sentido, colocar-se no lugar da outra pessoa para encontrar um sentido.
Ora, cada qual tem sua própria verdade, é um indivíduo único, que percebe as coisas à sua maneira, age e reage conforme o que lhe convém, e, por isso, sempre haverá interesses conflitantes.
Nesse sentido:
…O importante está em saber que há graduações no dever e na moralidade; que o dever de um estado de vida em certas circunstâncias não pode ser o de outro. (22)
Não devemos crer que o homem que resiste ao mal está praticando o mal, pois, segundo as circunstâncias em que se acha colocado, pode até ser este o seu dever.(23).
…todas as ações possuem dois extremos iguais: o positivo e o negativo….Um homem não resiste porque é débil e preguiçoso e portanto não resiste porque não pode agir assim, outro sabe que pode dar um golpe irresistível se quiser, e no entanto, não só não o dá, como bendiz seu inimigo. O que não resiste por debilidade peca, e portanto, não pode receber nenhum benefício da não resistência, enquanto que o outro cometeria um pecado se resistisse.
Lemos na Bhagavad Gita, repetidas vezes, que todos devemos trabalhar incessantemente. Toda obra é por sua própria natureza composta de bem e mal. Não podemos realizar obra alguma que não redunde em benefício de algo ou de alguém, nem pode haver coisa alguma que não provoque mal em algum lugar. Em cada ação tem que haver necessariamente partes de bem e de mal, no entanto nos aconselham que atuemos sem parar. Ambos, o bem e o mal, produzirão seus resultados, seu karma.1
Vejo o espelho como uma boa solução para isso, pois se você partir do pressuposto de que aquela conduta que você odiou da outra pessoa pode ser a sua neste exato momento, poderá surgir a compaixão.
Krishna disse: ‘contempla-me, Arjuna. Se eu deixasse de agir um só instante, o universo todo desapareceria. Nada tenho a ganhar na ação, sou o Senhor Único. Por que atuo então? Porque amo o mundo…’
Verifica-se aí a grandiosidade do amor de Krishna, incondicional, superior, que se move em prol de todos, e que nos dá força e exemplo de compaixão, para seguirmos esse caminho do Yoga com firme crença nesse sustentáculo.
O significado de compaixão no dicionário está como o ‘ sentimento de pesar que nos causam os males alheios, comiseração, piedade, dó’, e se encontra elencado entre os dez niyamas do Hatha Yoga Pradipika2, conforme nos traduziu Pedro Kupfer em aula do curso de formação de instrutores de yoga 05-2009, seria a ‘atitude de fazer ações concretas para acabar com o sofrimento dos demais’.
Com efeito, para se agir dessa forma, com compaixão, é preciso entender o sofrimento alheio em sua profundidade, com o coração, não apenas aceitar, mas também se posicionar no mundo, com amor, através de atitudes concretas, ou seja, reais e supridoras de necessidades em seus diferentes graus. E ainda, conhecer-se a si mesmo, pois dentro de nós mesmos temos todo o universo, podendo então reconhecer qualquer coisa que exista.
Conectar-se com o todo é observar-se, compreender-se, lembrar-se.
Nesse sentido:
‘…este conhecimento é inato, nada nos vem do exterior, tudo está no interior. Quando dizemos que um homem ‘conhece’, deveríamos dizer que ele ‘desconhece’, o que um homem ‘aprende’ é em realidade apenas aquilo que ele descobre ao tirar as envolturas de sua alma, a qual é um depósito inesgotável de conhecimentos…’3
É comum acontecer de num determinado momento sermos incapazes de entender uma situação que nos é estranha, e depois, mais tarde, ao vivenciarmos algo parecido, passa-se então a nos fazer total sentido, por isso, é preciso que se leve tal entendimento em conta ao nos relacionarmos com as demais pessoas.
Pergunta-se, porém, como escolher um caminho menos lesivo ao próximo e mais benéfico para o meu ser individualmente considerado?
Pois bem, o seu caminho escolhido deve ser bom para você, o que, consequentemente, será bom para todos, tendo em vista que sua conduta refletirá no todo, num processo de ‘contaminação’ (o espelho).
Anote-se que, se pensarmos a fundo em todas as ações e reações de diversos ângulos, de todas as pessoas que convivemos, será impossível guiarmos nossa própria vida, pois ela é repleta de dualidades infinitas, o que nos deixariam impotentes.
Pois bem, evidencia-se aí a necessidade de escolher um caminho para seguir, bem como a possibilidade de mudar o todo através de sua própria atitude. Mudar a própria conduta é viável, vez que podemos nos perceber e observar a nossa realidade.
Todavia, é certo que tal percepção só acontece se há espaço para isso, o que se consegue pelas técnicas apresentadas pelo yoga, como regras éticas, comportamentais, ásanas, meditação, pranayamas, dentre outras;
Nesse sentido:
‘Podemos encontrar na raiz de toda disciplina moral alguma técnica de purificação mental. Isto é buscado de uma forma muito eficiente no yoga, através de yama, ou abstenção de ações negativas, e niyama, ou observância ou prática da virtude….O yoga, portanto através de sua ética, a qual conduz gradualmente à consciência da unidade ontológica universal, capacita-nos a participar da realidade existencial prática no mais perfeito equilíbrio possível. Isto só é possível porque, com a superação das dualidades materiais, não há mais expectativas absolutas do que é reconhecidamente relativo. Mas por unidade`, não nos referimos a um tipo de unidade estéril, um tipo de vacuidade que elimina homogeneamente todas as diferenças das partes. Pelo contrário, é na pluralidade de todos os seres que a busca de auto-conhecimento e subseqüente rendição a Deus se estrutura dentro de um sistema orgânico de interação e integração social e pessoal…’4
Com o espaço criado pela disciplina mencionada, vem a luz que indica o dharma, o dever de cada ser. Anote-se que o caminho escolhido, a sua verdade, não será melhor, nem pior que outro, mas o SEU escolhido, conforme as suas necessidades e o meio em que vive.
Compreender o caminho, embora seja um grande passo, não é o suficiente, pois para a sua caminhada é necessário a manutenção da chama desta luz, o que requer muito esforço, controle e fé, pois, ao escolher, há fortes renúncias e tendências em sentido contrário (sankaras- condicionamentos).
Nesse sentido:
O desejo produz o karma. Você trabalha e se esforça para adquirir os objetos desejados. O karma produz frutos, tais como o prazer e a dor, e todos temos que colher os frutos desse karma…Devemos ajustar a nossa conduta segundo padrões morais… Trabalhar segundo a vontade divina é certo e agir em oposição a ela é errado. Portanto o estabelecimento de relações harmônicas implica em algum sacrifício dos egos individuais.5
Dessa forma, temos que o espírito, a intenção tudo sustenta, porém a linha que separa e discerne a falsidade da verdade, é extremamente tênue, sendo que você pode ter uma mesma conduta e obter resultados completamente diferentes,
Assim:
A idéia que está por trás é a de que nós somos o que somos em conseqüência do que fazemos, ou, antes, do modo pelo qual o fazemos. Em nossas ações, nós damos expressão ao ser que nós somos (ou que pensamos ser) Em outras palavras, exteriorizamos o nosso ser interior, de modo que as ações são um reflexo da nossa pessoa. Mas elas não são apenas um reflexo. Nossas ações e nosso ser são ligados por uma via de duas mãos. Cada ação tem efeitos sobre nosso ser e determina a estrutura inteira da pessoa que tendemos a ser…..A lei do Karma parece ser o único aspecto imutável do nosso mundo de constante mudança, o samsara.6
Portanto praticar a compaixão pode-se dar em vários níveis, de diferentes formas, e, para tanto, se deve ficar atento, agir conforme o seu entendimento base, deixar fluir com leveza, praticar, aprender com a vida, absorvendo aquilo que lhe faz sentido e jogar o que não lhe presta mais, para que se tenha uma memória compassiva, pois aceitar o erro do outro é aceitar o próprio erro.
Namastê!
Que bela Chama de Luz sobre nossa Consciência estimada Irmã… Suas importantes palavras abrem nossos olhos e despertam nossa Alma para a nossa responsabilidade sobre a nossa própria mudança influenciando na mudança do mundo ao nosso redor.
Para a modificação daquilo que queremos, para a melhora íntima do nosso Ser!
Agradeço esta grande oportunidade de contemplar sua sabedoria e de compartilhar deste conhecimento!
Que possamos todos despertar para estas verdades…
PAZ A TODOS!
Namaste! é sempre bom lembrar…Seguimos! paz a todxs!
Querida Má, agradeço por lembrar-se de mim e enviar este texto lindo, onde mostra o seu crescimento espiritual, ele mostra o quanto voce é iluminada ….Parabéns um grande abraço e que Deus te abençoe. Tia Wanda.
Querida filha,
Fico muito orgulhosa de saber o nível de sensibilidade em que se encontra e feliz porque vc consegue passar paz e luz…Vc está bem …eu estou bem. Lendo seu artigo meu coração entendeu muita coisa… agora precisa colocar em prática…Amo vc…Que Deus te dê sempre serenidade e sabedoria..Sua Mãe.
Adorei o texto Maria. Muito bom mesmo. Aceitando os erros dos outros estamos aceitando nossos próprios erros, assim abrimos o caminho para o nosso auto conhecimento e para evolução do ser, pois passamos a respeitar a verdade que cada um traz no coração.
Beijos
Amo você