Quando a gente houve falar em karma já pensa logo em desgraça, naquela “cruz” com excesso de peso, que supomos ter que carregar ou aquela “mala sem alça”, ou então, imaginamos logo ser praga de alguém. Sabe aquele conselho de mãe: “esse rapaz não serve para você, minha filha”, aí vira karma. E o pior é que pode ser mesmo.
O que muita gente nem desconfia é que também exista o bom Karma, e ele existe (ainda bem!).
Karma quer dizer ação. O Karma Yoga é uma das escolas do Sistema Yoga (assim como o Tantra, do artigo anterior), é o Yoga da ação. Do agir no mundo, do reto agir, sem se deixar envolver pelas armadilhas da vida e dominando a si mesmo. Trata-se da lei de causa e efeito, ação e reação. Sempre, ao agirmos, inevitavelmente, já estaremos determinando qual será o retorno. E não pode ser só ruim, por isso que karma não é sinônimo de desgraça. Se nossa ação for positiva, a reação também será, mesmo que a princípio não pareça.
Sendo uma lei cósmica, não se baseia nas leis dos homens, mas na energia, nos pensamentos e sentimentos que carregamos conosco e que produzimos a todo instante.
Quando nascemos, segundo a concepção hindu, trazemos uma herança kârmica de outras vidas. São nossos créditos e débitos. E estes, com certeza, irão influenciar em nossa personalidade Dessa forma, nosso karma acumulado se manifestará quando surgirem as condições favoráveis, boas ou más. Como se diz, a oportunidade faz o ladrão. Faz, mas normalmente essa predisposição já está na pessoa, e dependendo das condições psíquicas, sociais, físicas, etc., ela cairá no erro, repetindo ou gerando um karma negativo que pode levar muito tempo para “quitar”. O mesmo ocorre com quem vive na promiscuidade, com os alcoólatras e dependentes de drogas. Por isso é importante termos consciência de que devemos agir e nos comportamos corretamente, não somente para seguir regras, se enquadrar em um sistema, ou bancar o “bom samaritano”. Quanto mais nos purificarmos (físico/ mente/ espírito) e vivermos em harmonia e com coerência, procurando fazer o bem e vibrar positivamente, buscando sempre o aprimoramento, mais karmas bons produziremos e estaremos “limpando” nossos maus karmas e também evitando adquirir outros (negativos).
Por aí podemos concluir que a vida está em nossas mãos, que temos liberdade de escolher que caminho seguir, usando o livre-arbítrio, e é aí que muita gente se “enrosca”. Fica muito mais fácil acreditar naquele Deus punitivo ou que o mundo está contra nós. Que somos levados para o mau caminho. Só que a responsabilidade está em nossas mãos, mesmo que algumas coisas já estejam traçadas em nosso destino e sofrendo grande influência do meio em que vivemos, o que diferencia é a forma como iremos lidar com as situações, que caminho iremos escolher. Este é o grande desafio, estar no mundo e evoluir, em meio a tentações, conflitos, influências boas e más.
No Karma Yoga, as palavras chaves para evitarmos o que for possível, saber passar o que for inevitável e plantar e colher bons frutos são, o discernimento, a equanimidade e a sabedoria na ação.
Vê-se, portanto, que não é nada fácil, vivermos sem nos deixar arrebatar por fatos desagradáveis e nem perder o animo quando se tem má sorte, conforme está escrito no Bhagavad Gítá (livro sagrado hindu que descreve o diálogo entre Krishna, a divindade e Arjuna, o guerreiro): “Aquele que não odeia a ação, nem por ela se apaixona; assim é aquele que pratica a renúncia. Por cima dos pares de opostos, conserva-se calmo e contente, sempre pronto a cumprir a sua tarefa e contudo, sem apegar-se á obra, facilmente se liberta dos vínculos da ilusão”.
E isso tudo nem é o mais difícil ainda, o duro é que mesmo agindo pelo bem, mas já pensando na vantagem que teremos (‘e o que eu ganho com isso?’) não vale. È isso mesmo, além de tudo, devemos agir (reto agir) e não pensar nos frutos que colheremos. Dar e receber são causa e efeito, tem que haver o retorno, a energia tem que fluir, só não podemos agir pensando na recompensa e sim no que tem que ser feito. Por isso devemos ter consciência do que temos para dar, senão fatalmente cobraremos depois aquele “extra”, que demos sem na verdade termos para dar. Um bom exemplo é citado pelo prof. Hermógenes (conhecido professor de Yoga e autor de vários livros) em seu livro “Iniciação ao Yoga” : “a lâmpada acesa não se envaidece supondo que gera luz, não reclama aplausos. Nem a torneira deseja recompensa, pois sabe que não produz água, apenas deixa-a passar”.
Para que tudo isso seja possível acima de tudo temos que estar cientes de nosso papel no mundo (nós não estamos aqui só por turismo, embora alguns pensem que sim) e nos esforçarmos para evoluir o suficiente a ponto de compreender que para alcançarmos a felicidade temos que enxergar um pouco mais além, sabendo que, aquilo que fizermos hoje, inevitavelmente refletirá no futuro. Temos aí o exemplo do que estamos fazendo com a natureza, com nossos patrimônios, com tudo que herdamos, sem falar nos valores e na ética. Se continuarmos nesse passo, para o futuro, só nos restará a destruição, pois aquilo que construirmos poderá nos destruir. O novo tem que surgir para aperfeiçoar o velho, para melhorar, se for para deteriorar tem alguma coisa errada.
A conscientização e a compreensão de si, do outro e do Universo, é ingrediente indispensável nesse processo de causa e efeito.
É como o mar: se observarmos, veremos que as ondas se formam, quebram e recuam para recomeçar e continuamente seguem esse ciclo, com calma, beleza e harmonia e ao mesmo tempo acompanhando a evolução. É assim, simples. Difícil é “cair a ficha”.
E, para encerrar, é bom frisar que a lei dos homens pode falhar, mas a lei do universo jamais falha. É como um bumerangue, vai e volta. Tarda, mas não falha. A gente nem precisa perder tempo e energia rogando praga nos outros. O melhor mesmo é deixar por conta do universo. Nesse reino, o juiz não comete injustiças. Muito menos, rouba.
Muito agradável o texto sobre Yoga e a Lei do Karma.
Uma boa ajuda.
Abraços.