O poder estabelecido nos lares, seja qual for sua estrutura e expressão (matriarcal, patriarcal ou patronal), representa o sustentáculo dos padrões comportamentais nos relacionamentos sociais.
Ao escutarmos os relatos das pessoas em relação às suas dificuldades psicológicas e emocionais, normalmente encontramos um fator em comum: a relação conflituosa com os pais ou, mais especificamente, com a autoridade mal exercida por eles. (1)
Conscientes ou não dos registros das situações familiares que temos ‘impressos’ em nossa personalidade, seguimos perpetuando os mesmos equívocos presenciados outrora, estendendo ao mundo a qualidade da convivência que mantínhamos com nossos pais e ‘regurgitando’ na sociedade nossas questões mal resolvidas e pendências emocionais não digeridas. (1 e 1-a)
A busca pela aprovação ? que se inicia na relação com os pais e suas cobranças – permanece influenciando nossas escolhas e ações. Agimos tal qual crianças inseguras, mas agora ‘fantasiadas’ de adultos ‘sérios’, que ainda precisam se provar, necessitando afirmar nossa importância no mundo através do cumprimento de papéis que possam nos assegurar o exercício de algum tipo de poder, seja este financeiro, social, estético, intelectual, maternal, paternal, ou até mesmo ‘espiritual’.(2)
Cada um estabelecendo seu ‘reino’ com as oportunidades e os recursos que possui. Quanto maior o alcance da dominação e o número de ‘súditos’ (admiradores, seguidores, filhos, empregados e afins), melhor é a imagem que fazemos de nós mesmos e maior a exigência por respeito, obediência e reverência alheios.
Esse referencial do poder como regente dos relacionamentos se reflete até mesmo na idéia que concebemos de Deus – divulgada pelo catolicismo por séculos e arraigada no imaginário coletivo ocidental – como a de um pai severo, o ‘todo-poderoso’, que pune os filhos pecadores que não cumprem as suas leis e que nos vigia todo o tempo para que não façamos ‘o mal’.
‘Deus ta vendo menino!’. ‘Deus castiga!’ Quantas vezes não escutamos essas ‘ameaças’ quando crianças sendo pronunciadas por ‘educadores’, corrompendo desde a infância a nossa relação com o divino.(3)
Se Deus, considerado ‘o pai de todos’, é o exemplo do ditador severo, quiçá nós, ‘seus filhos, feitos à sua imagem e semelhança’. No cumprimento de nossas funções paternas e maternas acabamos por repetir esse padrão, apresentando aos filhos seu primeiro referencial de obediência e autoridade.
Mas, afinal, o que é autoridade?
É o fundamento de todos os modelos sociais e suas relações, uma condição especial estabelecida quando alguém tem algum tipo de poder .
‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’. Assim definiu espirituosamente o cangaceiro Virgulino – vulgo Lampião – a relação entre poder e obediência, que define o que comumente é considerado como autoridade.
O medo sempre foi incentivado como meio para obtenção de obediência e manutenção do poder. A autoridade é imposta por uma situação específica, que é manipulada a fim de aproveitar a necessidade e a fragilidade dos que a esta se submetem, seja por questões financeiras, de saúde, emocionais ou psicológicas.
Este tipo de autoridade ‘convencional’, que tem no poder a sua base, está sempre condicionada à manutenção de sua situação privilegiada. Uma vez findo o ‘privilégio’, extingue-se também a autoridade.
Existe porém, um tipo de autoridade ‘verdadeira’, que se estabelece através do conhecimento, carisma e pelos exemplos, atributos que inspiram respeito e reverência nas pessoas. O exercício desse tipo de autoridade se dá de forma natural, como é o caso dos verdadeiros gurus e sábios e de alguns líderes natos.
O sábio vai por um caminho e naturalmente as pessoas querem segui-lo, faz alguma coisa e as pessoas, querem imitar o seu exemplo.
Faz-se mister enfatizar a diferença entre ter autoridade e ser autoritário. As pessoas autoritárias geralmente não dispõem dessa capacidade espontânea de liderança, necessitando fazer uso de algum tipo de força ou mecanismo de coação para fazer valer sua autoridade.
É o caso de alguns pais que impõem obediência aos filhos independente da veracidade de suas concepções e da pertinência de suas ordens e normas, como forma de manter sua soberania familiar.
Fundamentada em uma base frágil, essa relação se desestrutura pelo simples advento da independência financeira ou maturidade emocional dos filhos, o que geralmente coincide com o momento que deixam a casa dos pais.
A amizade (maitri), o companheirismo, o respeito, ou seja, todas as formas de expressões de ahimsa são ‘estruturas’ mais sólidas sobre as quais se pode fundamentar e construir uma relação mais verdadeira e livre, desvencilhada das limitações e do aprisionamento que o apego e a identificação (equivocada) com os papéis proporciona.
Tais valores desintegram essa visão ‘funcional’ das pessoas e relacionamentos, que difere, o amigo, do filho e do empregado por estes ocuparem ‘funções’ diversas e que, portanto, em prol da ‘objetividade’, não devem ser misturadas. Nesse sentido, o que chamam de objetividade, acaba sendo na verdade um desculpismo para o exercício da conveniência.
Como ilustração dessa abordagem, mencionarei o desfecho de uma conversa com uma amiga politizada e socialista (a que mencionei em outro artigo), quando lhe sugeri ser mais gentil na forma de tratar a pessoa que cuidava de sua casa e obtive a seguinte resposta: ‘Não quero que goste de mim, quero que me preste o serviço direito’.
‘Objetivamente’ falando, gostar é um sentimento que combina com o ‘papel-função’ amigo, e não serve para o ‘papel-função empregada’. Para esta cabe ‘fazer o serviço como é mandada’, assim como para os pais cabe prover os recursos necessários à educação e saúde dos filhos e a estes, prestar obediência e aceitar todos os direcionamentos dos pais (‘que sempre sabem o que é melhor para os filhos’).
E assim prossegue a encenação da humanidade. A vida, como uma seqüência de cumprimento de papéis e os relacionamentos, meras atuações nesses papéis.
A amizade é um sentimento que desestrutura a relação de poder, e portanto imprópria nesse contexto, uma vez que iguala as pessoas. A frieza, a impessoalidade e o autoritarismo seriam mais adequados a esse ‘objetivo separatista‘, garantindo assim a sustentação da obediência e do ‘respeito’.
Outro dia, dando uma aula de yoga para crianças, uma delas estava perturbando os demais colegas com uma bola, brincando com ela e ignorando as minhas orientações. Ao final da aula, sentei com todos em uma roda e conversando sobre ahimsa e o significado da palavra respeito, perguntei: ‘Vocês sabem por que devem me respeitar ?’ Eles responderam com perguntas, quase em coro: ‘Porque você é mais velha?’; ‘por que você é adulta?’; ‘porque você é nossa professora?’. Eu lhes respondi: ‘Não. Vocês devem me respeitar porque sou um ser e, porque além disso, eu respeito vocês’. De alguma forma essa colocação tocou meu aluno, que ainda estava brincando com a bola durante a conversa, mas que logo depois veio até mim com a bola nas mãos, dizendo: ‘Toma professora’. Um gesto simples para muitos, mas significativo para ele.
Todo aquele que tem poder sobre alguém ou alguma coisa corre o risco de se considerar proprietário, de enxergar a coisa ou o ser como um bem. ‘Os filhos são nossos bens mais preciosos’, divulga a ‘sabedoria’ popular (que algumas vezes de sábia não tem nada).
Rousseau disse que o sentido de propriedade começou quando o primeiro homem cercou um pedaço de terra e disse: ‘É meu’.
Mas o que é propriedade ?
‘A propriedade é um roubo’, definiu Proudhon.
Não seria um roubo (steya) nos considerarmos donos de alguma coisa? Do que somos realmente donos?
Quando desencarnamos não levamos nossos ‘bens’, nossas ‘propriedades’, nossos amigos e parentes, não levamos nem mesmo nosso corpo físico.
Nosso pranamayakosha (corpo bioenergético), também se dissolverá retornando ao grande manancial de prana.
O que é realmente nosso então, além de nossas ações, seus resultados (que não podemos definir completamente a forma como acontecerão depois que executarmos as ações) e os conhecimentos (aprendizados) que adquirirmos?
Ainda assim, no estágio de consciência em que vivemos (pashu, ‘criaturas aprisionadas’), esquecemo-nos temporariamente de muitas coisas que aprendemos e fizemos em outras vidas, apesar de comporem nosso karmashaya (arcabouço karmico) e inspirarem nossas motivações (vasanas).
Por que consideramos então que alguma coisa possa ser considerada como propriedade ? Pior ainda, por que consideramos ‘nossos’ animais, ‘nossos’ empregados e até ‘nossos’ filhos como propriedade ? Os filhos são seres (atma), e tem a sua própria individualidade psicológica (formada pelos samskaras), construída com bases em suas vivências anteriores.
Somos tutores dos filhos e devemos orientar sua vida atual, ajudando-os à ‘desativar’ os aspectos negativos de sua personalidade – que geralmente se manifestam ainda na mais tenra idade – e incentivar os aspectos positivos que estão latentes. Não somos melhores nem piores que eles. Simplesmente chegamos alguns anos à sua frente nessa vida, anos que são frações de segundos irrisórias diante da eternidade do ser. Mesmo sendo mais ‘velhos’ do que nossos filhos, podemos ter menos experiência, vivência, conhecimento e ser menos esclarecidos que eles. Nosso papel deve ser então o de encaminhar corretamente sua atual encarnação (dehatva), e não o de defini-la com imposições que nem sempre são adequadas ao seu desenvolvimento.
Para sabermos o que é melhor para nossos filhos devemos ter referenciais, conceitos, e conhecimentos adequados, valores que orientem sobre o que é ideal para um ser humano e, em especial, para este ser humano que cuidamos, respeitando as suas limitações.
Conhecimentos que nos esclareçam sobre a realidade, para que possamos através de observação e reflexão, ajudá-los a descobrir e compreender suas necessidades karmicas e o que lhes compete no cumprimento de seu dharma pessoal (svadharma).
Devemos ajudá-los a descobrir qual é sua função no mundo em prol do estabelecimento da ordem natural, sem cobranças excessivas e desmedidas que gerem nos filhos propensões a identificações e dependências equivocadas nessa relação com os ‘papéis’.
É necessário que os esclareçamos desde pequenos sobre o que realmente são, ‘dando nome aos bois’ (Ser, ‘mente’, sentidos e corpo) para que não cresçam ‘tapados’ como nós mesmos crescemos.
Ainda assim, mesmo que tenhamos conhecimento suficiente para saber o que é melhor para os filhos, devemos lembrar que como seres ‘individuais’ que são, possuem livre-arbítrio e, portanto, liberdade para escolher suas ações à medida que crescem e vão se tornando conscientes de si. A velha ‘lei’ de respeitar pai e mãe, prescrita por Moisés, não deve ser interpretada como obediência cega e irracional, e vale na medida em que a recíproca também é verdadeira, ou seja, o mesmo respeito que devem os filhos aos pais, devem estes aos filhos.
Temos a tendência perniciosa de acreditar que a ‘minha’ empregada, o ‘meu’ marido e o’meu’ filho, devem me respeitar por causa de uma posição: ‘patroa’, ‘mãe’, ‘pessoa mais velha’. Temos também a mania de considerar ‘nossos’ os animais, como: o ‘meu’ cachorro, ‘meu’ gato, ‘meu’ passarinho, e nesse raciocínio, compreendemos que a vida de uma vaca, galinha, peixe ou qualquer outro ser vivo, equipara-se a uma ‘coisa’ que podemos comprar e que nos dá portanto o direito de propriedade.
Praticando Yoga no lar
Na Bhagavad Gita, além de todas as lições e noções que podemos aprender a respeito do que somos (atma), são ensinados alguns valores, que se forem aplicados em nossa vida, podem modificar essa forma nociva com que lidamos com as pessoas e outros seres, ‘coisificando’ tudo à nossa volta.
Amanitvam, que pode ser traduzido como humildade, ou como ausência de exigência por reverência alheia, é o primeiro desses valores que deve ser refletido e posto em prática, pois é do ego (ahamkara) que surge essa propensão a valorizar demasiadamente o papel ou a função que exercemos, exigindo assim também que outros dêem o mesmo valor, a mesma importância que damos à nossa pessoa .
Amanitvam nos traz uma objetividade em relação à nossa função no mundo, evitando que super-valorizemos a nossa importância, concluindo assim erroneamente que temos direitos sobre a liberdade alheia. Nos ajudando a evitar o engano de achar que somos especiais no exercício dessas funções, concebendo-as como mais importantes que as funções dos outros, o que nos faz querer impor limites rígidos para nos separar e destacar.
Dimensionando de forma adequada nosso papel na vida, percebemos que este é temporário, transitório e que deve servir para melhorar aquilo que nos cerca, e não para satisfazer nossos caprichos, gostos e para nossa satisfação egoísta. Compreendemos também que esse papel não é aquilo que essencialmente somos, desfazendo assim a identificação excessiva com ele e a rigidez com que o conduzimos, além de diminuir a cobrança exagerada ou equivocada que fazemos aos outros pelo cumprimento de seus próprios papéis.
Com amanitvam, compreendemos que a função que exercemos é apenas cumprimento do dharma, como a de uma formiga que carrega seu grãozinho para a manutenção de um grande formigueiro, o que quer dizer que como Seres, não somos mais importantes do que a ‘empregada’, o filho ou qualquer outra pessoa.
Outro valor adequado é asakti, um tipo de desapego específico em relação às coisas, e que é um antídoto para o sentimento que sustenta a noção de propriedade.
Sakti é o que nos faz crer que temos algo, ao invés de compreendermos que temos apenas o usufruto, e que na verdade fazemos empréstimos da natureza: nosso corpo físico (anamayakosha), o alimento e o prana que o sustentam, os objetos que nos servem na vida, tudo que utilizamos para atravessar a encarnação, são empréstimos que não devem servir para que simplesmente desfrutemos o gozo através dos sentidos, mas que servem para nos sustentar no exercício de nossa contribuição para a ‘economia’ cósmica. Os empréstimos destes recursos serão cobrados mais tarde, em conformidade com o uso que destes fizemos, através da lei de causa e efeito.
Kshanti é um termo que tem uma tradução semelhante a titiksha e que significa tolerância. Mas que não é uma tolerância no sentido de ‘suportar’ e sim no sentido de aceitar, de compreender.
Com kshanti aprendemos a compreender e aceitar as diferenças, as limitações e dificuldades de cada pessoa, desenvolvendo uma capacidade de adaptabilidade na convivência com elas. Aprendemos a gostar delas como elas são, sem sentir a necessidade de querer mudá-las, independentemente se elas nos obedecem, se fazem ‘o serviço direito’ ou se aceitam o que achamos melhor para elas. Dessa forma, paramos de colocar tantas condições para haver uma convivência amigável, o que melhora substancialmente nossas relações com colegas de trabalho, subordinados, patrões, filhos, parentes e amigos.
Por fim, anabhishvangah putradaragrhadishu que significa desapego em relação aos filhos, esposa (ou marido) e às coisas do lar. De forma geral quer dizer ausência de associação exagerada à família, que é o que gera o senso de propriedade, em relação aos entes queridos.
O apego exagerado à família não é um sentimento que se desenvolve a partir de um desejo de explorar, de aproveitar, ou de desfrutar, como é com o apego aos objetos, mas é um sentimento de posse que geralmente nasce de uma afeição egoísta, um tipo de ‘amor’ que sufoca, que tira o espaço e a liberdade do outro. (4)
‘E tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito. Entretanto, vindo sua mãe e seus irmãos e conservando-se do lado de fora, mandaram chamá-lo. Ora o povo se assentara em torno dele e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam. Ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos ? E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu redor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos, pois todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’.
Nessa passagem, Jesus dá um grande exemplo de desapego em relação à família, demonstrando ainda, que dava mais importância ao ‘parentesco espiritual’, que ao material, sendo que o primeiro estabelecia-se na simpatia, fraternidade e na comunhão de idéias, visto que chamou de ‘mãe’ e ‘irmãos’ todos que tinham interesse em cumprir o Dharma (o que foi expresso na idéia de ‘fazer a vontade de Deus’).
Francisco de Assis também foi considerado um rebelde, pois não se submetia à corrupção da igreja católica, além de um ‘delinqüente juvenil’, devido à relação conflituosa que possuía com o pai, tendo este se oposto às suas escolhas e oferecido todo tipo de dificuldades à concretização delas. Certamente porque também tinha certeza ‘que sabia o que era melhor para o filho’.
Sócrates foi condenado a beber cicuta, sob a acusação de corromper a juventude ateniense, levando-a a desobediência e a contestação dos valores vigentes sustentados pelos pais e pelo estado. Na verdade o que fez o filósofo foi incitar os jovens à reflexão sobre si mesmos, e ao exercício do livre pensamento e do auto-questionamento.
Uma consciência que leve à desobediência aos pais, quando seus valores são deteriorados, seria um princípio, uma ponte para a própria desobediência civil, que combate os moldes e imposições dessa sociedade caricata, ‘normótica’, como diria o professor Hermógenes.
Obviamente existem outros valores ? ahimsa (‘benevolência’), aparigraha (‘desprendimento’), asteya (‘honestidade’), anahamkara (ausência de ‘asmita’) – necessários de serem aplicados para aplacar nossa sede de poder e tornar as relações humanas mais felizes, ou ao menos viáveis, principalmente nos lares, que são as pequenas ‘células’ da sociedade.
Quando nossas filhas aprenderem conosco qualquer exemplo, idéia ou sugestão que contrarie o Dharma, esperamos que não pensem duas vezes antes de nos desobedecer ‘passando por cima’ de qualquer pretensa autoridade que não se baseie na ética e na verdade.
Isso fica registrado aqui, neste texto, como um documento com testemunhas, para que elas possam utilizar como prova um dia se precisarem.
Agradecemos à Patrícia e ao Pablo pelos comentários construtivos.
Pablo, somos professores de Yoga em Belo Horizonte e não trabalhamos em nenhuma instituição educacional, apesar de nos interessarmos bastante pelo assunto.
Seguindo esse tema sobre relacionamentos humanos, há outro artigo publicado neste site, é só procurar pelo nome do autor (Cristiane Carvalho). Escrevemos outros textos sobre educação (pais e filhos), mas que ainda não foram publicados. Se você se interessar, pode nos contactar pelo email vinyasavidya@yahoo.com.br, que teremos o prazer em lhe enviar.
Um abraço.
Namastê
Parabéns para as pessoas que escreveram esse artigo, me impressionou muito, porque não se vê esse assunto ser muito trabalhado no Yoga.
O Yoga busca a liberdade, e como tal, não especula tanto a condição onde estamos “presos” em outras pessoas, como na vida familiar.
Li recentemente um texto sobre pais e filhos, de uma professora chamada Elda que tem uma ong, e é muito satisfatorio que comece agora um filosofar sobre a educação dos filhos e dos pais.
Se queremos yogis melhores e cidadãos melhores no futuro, essa é a maior preocupação. E esse artigo foi a melhor elucidação sobre esse tema que já li.
Sou psicanalista, e sigo uma orientação Junguiana, e não sabia que exisitiam nos livros do Yoga conhecimentos que fossem úteis para construir o “esqueleto” de una pedagogia, que ao mesmo tempo fosse embasada na idéia da liberdade, mas sem trazer uma perda dos parâmetros que concebemos como essenciais para educar com ética. Educação entre pais e filhose para pais e filhos. Uma pedagogia da llibertação, e poucos pais seguem uma filosofia como essa, muito poucos. É necessário encontrar linguagens que coinciliem o conhecimento antigo com as necessidades educacionais de hoje.
Esse artigo demonstra, além de uma excepcional sensibilidade para dissecar nossa relação obscura e inconsciente com o poder e com a dificuldade de lidar com ele, mas aparentemente também uma grande experiência, de quem escreveu, na arte de educar pelo amor e pelo exemplo, abdicando se preciso do poder para isso. Uma educação para a liberdade, para a igualdade e para a transcendência dos condicionamentos familiares e sociais.
Acho ainda mais arrojada a proposta de abertura, a dissecação e inversão da relação tradicional familiar, colocada no final do texto como um desafio, onde dois pais colocam para os filhos a possibilidade de seus erros e falhas e a oportunidade destes desobedecerem com autorização para não perpetuar os erros.
Vocês trabalham com ensino em alguma instituição, ou tem mais material como esse publicado? Não encontrei nenhuma outra referência, além do nome, sobre a atividade de vocês.
Pablo.
Cristiane, namastê!
Parabéns!Adorei seu olhar perspicaz!
Tenho a impressão que “a grande massa” das pessoas estacionaram no terceiro chakra… e não é tudo: sem desenvolvê-lo sadiamente, confundindo o Poder Natural com esse Autoritarismo. E, inconscientes, vão repetindo esses modelos.
Outro dia , visitando minhas primas me deparei com essas questões quando ouvi ambas dizendo (quase gritando, vai!) para seus filhos fazerem o que elas haviam pedido senão elas iam “enfiar a mão na cara deles”! E não foi uma vez , nem uma das primas, foram várias vezes e as duas, e percebi que havia um “consenso” em que elas achavam que eram engraçadas por tratarem seus filhos assim.
Esse “consenso”, essa ignorância coletiva amalgamada em certas leis que a sociedade cria para embasar essa autoridade me lembrou um diálogo de Sócrates onde este dizia serem as leis feitas pelos fracos e pela grande massa, que agem no seu próprio interesse, fixando o que é digno de louvor e o que é digno de censura.
Para que?Para assustar aqueles que tem possibilidades de se Superiorizarem (aquém da aquisição do conhecimento mundano advindo duma universidade ou informações inúteis), aqueles que caminham livres e têm a coragem de atuar com o coração, criar, se superar.
E assim estabelecem leis, para que esses que a fizeram não se sintam ultrapassados , mas sim nivelados! Não é genial? Claro que estes que fizeram as leis quiseram matar Sócrates!
Ah!Desde o Iluminismo até os dias atuais acreditam que para uma pedagogia ser boa vem primeiro o conhecimento, a informação,a aquisição de bens materiais. “Penso , logo existo!”
E Sócrates defendia que primeiro vem a educação da virtude, da ética, do Ser! Desvendar o enigma da Esfinge! Como diz meu precioso amigo mitólogo Viktor Salis “o homem obra de arte, ético, amando a vida e preservando-a com dignidade. È mister resgatarmos essa integridade e inteligência emocional na educação atual.
Sou mãe, e meu trabalho de Yoga na vida real me faz ficar bem atenta a essas reações programadas , porque elas vem grudadas nos modelos que apreendi e vejo meu filho também copiando algumas coisas!(boas também…)
É incrível! Agir e não reagir é uma criação e tanto! Atuar propondo novos modelos baseados no amor então… Acho que sua amiga ainda não descobriu essa Unidade que faz da “empregada dela” e dela o mesmo Ser.
Ou ainda: a “empregada” é uma heroína que já tem sua natureza conquistada e a “patroa” não suporta ver tamanha liberdade! (Gosto mais dessa.)
E nesse Palco em que vivemos atuando nosso drama humano (Shiva Sutra) tirar a máscara do personagem quando acaba a cena …só para os desindentificados que teêm a liberdade de escolher cada papel,brincar, mas para os que reagem com cenas prescritas(samskaras, vasanas), desejando que seja feita sua vontade egoista, atuam num papel imposto pela massa.
A pergunta é: que papel queremos desempenhar? Me deparei com essa questão quando observei minha prima “deseducando” seus filhos, pois apesar de não ter contracenado com ela na “graça” que ela achou da dura que deu no menino(fiquei séria!), não apresentei para ela minha opinião a respeito do trato com as crianças.
Gostaria de ter feito esse papel (com humildade e amor, sem impor regra e ponto de vista), mas para mim ainda é um aprendizado atuar/agir concientemente nos momentos certos.
Estou aprendendo. Esse é outro capítulo da humanidade onde ascendemos para o quarto chacra e aprendemos a dar, receber (e não receber também!) amor.
Deixo agora uma sabedoria da magnífica Clarice Lispector:
“O maior desafio do ser humano é tornar-se humano!”
(aí então poderemos gritar: amo, logo existo!)
Grata.
Om namah Shivaya!