Quando você vai a uma loja ou supermercado é comum ouvir esta pergunta: “Posso ajudar?” Na maioria das vezes, alguns se sentem invadidos com uma pergunta tão simples como esta, que pode vir escrita na camiseta do vendedor que veio até você; outros, por outro lado, já não se sentem tão incomodados e aproveitam a oportunidade para realmente aceitar a ajuda que é oferecida.
Ajudar o próximo, mesmo que esta ajuda seja derivada da função que um trabalhador exerce, também pode ser considerado Karma Yoga. Via de regra, o Yoga da ação desinteressada, vem acompanhado de uma boa intenção. Uma boa intenção que traz como intuito a ajuda ao próximo, sem nada esperar em troca, independendo de qualquer resultado. No entanto, vale lembrar que toda predisposição à prática do Karma Yoga também tem por princípio que a ação esteja dentro dos parâmetros do bom-senso e da ética, além de, na medida do possível, ser essa prática uma constante na vida daquele que a pratica.
Se esse funcionário de supermercado se predispor a ajudá-lo mais do que lhe cabe, logo iremos notar o nascer de uma valiosa e verdadeira ação que é desprovida de interesse; ação esta que inevitavelmente estará contribuindo para a solução do que se necessita, ao mesmo tempo em que produz o acúmulo de bom karma àquele que o faz, sem que, talvez, tenha qualquer noção disto.
Do contrário, não podemos considerar que o flanelinha que se aproximou quando você foi pegar o carro estacionado em uma vaga, esteja praticando uma ação desinteressada, pois, o que vemos, na maioria das vezes, é que está ali com aquela visível predisposição para exigir um valor monetário que acha ser devido por ter “tomado conta” do veículo. No entanto, se a remuneração que você der não estiver de acordo com a expectativa do flanelinha, este não hesitará em reclamar do mínimo que lhe foi dado. Ou seja, o flanelinha, de modo algum estará dando causa a um bom karma.
A prática desinteressada de qualquer ação durante a nossa existência como humanos, desde a abertura da porta do elevador para alguém entrar antes de você, até parar o carro para que o pedestre passe, vem acompanhada de resultados que somente irão bem refletir em nosso Ser, isto é, tornar-se um depósito positivo em nossa conta kármica. Aliás, agir dentro da civilidade, respeitar o próximo, o patrimônio público e particular e o ecossistema também faz parte de algumas qualidades daquele que bem pratica o Karma Yoga.
Do reverso, de nada adianta querermos intitular de karma Yoga algo que, na verdade, traga um interesse calculado e camuflado por trás, ou seja, se eu fizer isso, mais tarde poderei ter aquilo dessa pessoa e depois exigir isso. Ora, atos como esses não podem de forma alguma resultar em um bom karma para aquele que o pratica, mas sim denotar um ato que a bem da verdade é visivelmente eivado de uma manipulação premeditada, acompanhado de uma impecável intenção de se receber algo em troca pela prática da ação interessada que foi produzida.
No mundo moderno, talvez possamos contar nos dedos aqueles que durante anos tenham praticado boas ações sem nada esperar em troca. Exemplos de karmayogis são poucos, dentre eles podemos citar Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e no Brasil, irmã Dulce e Chico Xavier, que de modo desprendido souberam auxiliar o próximo desinteressadamente. Contudo, além destes, sabemos que existem muitos anônimos que praticam o Karma Yoga na sua mais pura essência.
Para nós que caminhamos nesta existência, praticar Karma Yoga, a primeira vista, pode parecer uma tarefa simples; mas, se formos parar para analisar, poderemos notar que a prática do Karma Yoga, por si só, somente será valida se a nossa disposição em ajudar for indiscutivelmente verdadeira, constante e desprovida de qualquer interesse e resultado.
Dar aulas de Yoga a quem precisa, desinteressadamente, já é um bom caminho para aqueles que em longo prazo, desejem dar os primeiros passos no exercício do Karma Yoga. E, então, depois de algum tempo, será mais do que evidente a amplitude dessas boas e desinteressadas ações que naturalmente irão se expressar e refletir no ponto mais íntimo do Ser. Harih Om!
Humberto é professor de Yoga em Campinas.
Mantém o excelente blog Yoga em Voga.
Estudei uma vez que não existe ação humana, livre e consciente, sem intenção (diferentemente do reflexo ou da coação), a intenção nasce na \\\’mente\\\’ que pondera as causas e conseqüências.
Depois disso, agimos. Ações desinteressadas no sentido de não esperar resultado lucrativo direto ou indireto pra nós mesmos: Karma Yoga ou Seva?
Grande texto, Humberto! :O)
Hari Om!
Olá!
Muito bom o texto, e muito boas também as colocações de todos. Os depoimentos só têm a acrescentar muito ao nosso dia -a -dia. Fico muito grato por toda essa Sabedoria, que de fato é a nossa essência!
Namaste!
Bruno e Ricardo,
Obrigado também a vocês por dividirem seus pontos de vista sobre o tema acima.
A reflexão e a troca de idéias construtivas só nos incentiva a colocar em prática o que aprendemos.
O bom interesse gera bons resultados.
Abraços e Harih Om!
Humberto.
Oi Humberto,
De fato, não há como agir sem receber um resultado pela ação. Tampouco não vivemos sem interesses ou desejos. Até para ajudar os outros é necessário este desejo.
Agora, e se não existissem os outros para serem ajudados? Se não existisse o aluno do professor de yoga? O grande beneficiado, no fim das contas, é aquele quem realiza a ação.
Pois se não houvesse o receptor da ação, você nem teria como agir. É você, de fato quem usufrui do rsultado desta ação…desta boa ação. O interessante é que nós possamos aprender a agir sem nos apegarmos ou esperarmos por um resultado.
Agir pura e simplesmente realizando a nossa responsabilidade, o nosso dever, o nosso dharma. Abraços!
Caro Humberto,
tudo bem?
Desculpe mais uma vez entrar em detalhes sobre seus textos. Não existe ninguém que tenha realizado uma ação sem esperar um resultado ou que faça uma ação desinteressada. Até uma ação involuntária como respirar, fechar e abrir nossas pálpebras e assim por diante produz um resultado.
Se ações involuntárias produzem resultados, então ações voluntárias definitivamente produzem resultados. Minha comunicação com você significa produzir um resultado, o resultado de ser entendido por você. O Senhor Krishna ensinou Arjuna, porque ele esperava que Arjuna entendesse seu ensinamento. Portanto, é errado dizer faça uma ação sem esperar resultados.
Se você disser que a Gita ensina isto, então ou a Gita é errada ou você interpretou mal o ensinamento. Se você destitui a Gita como errada, então você não tem shraddha, mas se você olhar dentro do seu entendimento, então isso é chamada shraddha.
Vamos investigar o que diz a Gita sobre karma yoga. Na ação sozinha há uma escolha, mas definitivamente não com referência ao seu resultado. Isso não é pedir a você que realize a ação sem esperar um resultado. isso quer dizer, esteja preparado para o resultado , porque você não tem controle sobre esse resultado e ele pode vir diferente do que você espera, diferente das suas expectativas. Você acha que Gandhi fazia alguma ação desinteressada?
Gandhi tinha muito interesse. O interesse dele era libertar a Índia. Entenda, é impossivel fazer uma ação “desinteressada”. Até mesmo para levantar o meu braço, eu preciso ter o interesse de levantar o braço, eu espero que meu braço saia do ponto A e vá para o ponto B.
Se uma pessoa faz algum tipo de caridade, ela faz porque aquilo faz bem em primeiro lugar para ela, e de toda forma ela tem o interesse em que a outra pessoa seja ajudada. grande abraço e tudo de bom!
Ricardo.
Oi, Tales:
Muito obrigado por sua colocação que somente veio agregar valor ao texto trazendo uma boa reflexão sobre o tema em si. Realmente, resultados sempre são decorrentes de qualquer ação que se dê causa. Se você colocar uma pedra de gelo ao Sol (ação), irá derreter(resultado).
Dar aulas a título de Karma Yoga, além de se ajudar o próximo, com certeza irá também trazer uma satisfação pessoal ao professor, que é um resultado. No entanto, em relação ao resultado monetário nenhum interesse prevalece.
No final digo que a amplitude das ações somente levará àquele que pratica as boas ações, naturalmente a mais praticá-las, o que como resultado logicamente refletirá no Ser. Abraço a vc Tales e mais uma vez, obrigado pela valiosa reflexão.
Caro Humberto,
Harih Om, tudo bem amigo?
Peço licença para colocar uma pontuação acerca da sua definição de Karma Yoga que achei um tanto contraditória. Como seres humanos, seres significantes, ou seja, seres capazes simbolizar, temos a capacidade de projetar, de criar imagens mentais de lugares, do futuro e do resultado das nossa ações.
Nesse sentido, é impossível fazermos ações sem esperarmos algum resultado. Imagine o professor de Yoga que começa a dar aulas da maneira que suferiu. O que vai motivar esse professor a sair de casa e ir até a uma sala de aula? O vácuo? Acredito que o que vai motivar esse professor a dar aulas dessa maneira é a ajuda ao outro. E essa motivação já é uma expectativa. E essa ajuda ao outro traz ao professor um sentimento muito bom, de ver o aluno tendo benefícios.
Portanto, no fundo o que o motiva também é o ganho que este tem em ajudar. Apesar de falar em ação desinteressada, você mesmo disse que a ação de ajuda cria bom karma. O Vedanta nos fala e nós podemos comprovar na nossa experiência pessoal, que ação sem expectativa é impossível e que essa expectativa está relacionada a um ganho pessoal, mesmo que o ganho seja a satisfação com a felicidade do outro.
Mais uma vez explicito a contradição, apesar de ressaltar Karma Yoga como ação desinteressada, você mesmo termina o texto dando ênfase ao ganho pessoal: “E, então, depois de algum tempo, será mais do que evidente a amplitude dessas boas e desinteressadas ações que naturalmente irão se expressar e refletir no ponto mais íntimo do Ser”.
Grande abraço e tudo de bom!