Mais e mais pessoas atualmente dedicam um tempo de suas vidas para praticar o exercício do Yoga. Geralmente, no início, a pessoa tem uma informação vaga e estereotipada sobre algum assunto que leu ou ouviu falar relativo ao Yoga que, por sua vez, despertou a curiosidade e a vontade de saber mais. Aí então, procura um professor para aprender e propõe-se a agendar um tempo de sua rotina diária para estar numa sala ou escola praticando os exercícios recomendados. Com o tempo, o Yoga vai mostrando-se presente também fora da sala, nos outros momentos da vida cotidiana. Para aquele que busca o Yoga, a prática constante é a própria chance do sucesso. Muito depende da habilidade na administração da agenda e dos compromissos, dedicando sempre uma hora do dia para a prática.
Mas como abrir uma brecha constante entre as atividades corriqueiras para dar espaço à prática do Yoga? O tempo é uma dimensão elástica, e não linear como parece no relógio, onde muitas vezes a gente queria que tivesse mais ou menos daquelas mesmas horas de sempre. Realmente não passa de um aspecto psicológico da mente humana, pois o momento real é sempre o presente, e as perspectivas de passado e futuro são apenas abstrações subjetivas.
É engraçado de ver como as pessoas administram o seu tempo, as vezes você vê uma pessoa que não faz muitas coisas mas nunca tem tempo para nada, ao mesmo tempo em que outro não faz nada da vida mas está em todas e sempre tem tempo para tudo.
A sensação de tempo vem da capacidade de perceber que um momento sempre se transforma e dá lugar ao momento seguinte. A mente humana tem a capacidade de observar a ordem dessas transformações e construir uma teia que costura a seqüência dos momentos e confere à ela um dado sentido.
A atenção é o elemento fundamental para perceber o tempo como uma dimensão de transformação que está entre os momentos assim como a respiração situa-se entre os pulmões vazios e cheios.
A distração é um veneno que faz com que nos desliguemos dessa preciosa qualidade do tempo, e nos desloquemos para a ilusão cristalizada do passado ou duvidosa do futuro, ausentando-nos do aqui agora. Enquanto isso, a realidade vai movendo-se de uma forma estranha, misteriosa e imperceptível para o distraído.
É possível abstrair a dimensão do tempo sem sair do presente, sem desconectar. Quando isso ocorre, o tempo vira uma experiência atemporal, daquelas do tipo quando você está fazendo alguma coisa na qual você está intensamente envolvido e concentrado, daí olha para o relógio e diz com empolgação: Puxa! Como passou o tempo e eu nem percebi. O distraído, por sua vez, diz: Que droga, parece que o tempo não passa nunca! Portanto, o estado de Yoga não pode ser medido com precisão através da referência diária do relógio das horas e minutos, ainda que o compromisso com a prática diária enquadre-se dentro de um certo horário.
De modo prático, a pessoa atenciosa tende a administrar uma certa direção consciente para suas ações, de modo que possa fluir através da real dimensão do tempo. Enquanto isso, o distraído está à deriva na correnteza dos acontecimentos, sem saber o que fazer e para onde ir.
Observa-se que grandes obras são constituídas de seqüências de pequenas ações interligadas, que sobrepõe-se umas às outras a cada momento que passa. Portanto, o tempo é uma dimensão que precisa ser construída. A construção do tempo é algo semelhante ao trabalho de encher uma caixa de água furada com apenas um balde. Constantemente tem-se que sair para encher o balde e despejá-lo no reservatório, senão a água da vida escorre pelo ralo.
A prática de Yoga serve para aprender a dinamizar as ações de modo a encher com a água da vida o reservatório do tempo. Quanto mais isso acontece, mais a pessoa atenta e consciente aproveita o que a vida tem para oferecer. O iogue gasta menos tempo e energia para fazer mais coisas durante o dia, repousa mais e dormem menos, e a hora dedicada aos exercícios práticos do Yoga faz render mais o resto do dia.
Quanto mais nos preocupamos com o tempo, mais devagar parece que o tempo passa. Quando fazemos nossas tarefas diárias sem nos preocuparmos com o tempo, nosso dia fica mais leve, mais agradável e prazeroso. Depende da nossa atitude interna. Precisamos mudar um pouco os nossos valores e pensar melhor no que realmente queremos para nós. Não adianta viver sem ter tempo para viver plenamente, tornando exaustivo o nosso dia-a-dia e nunca estando satisfeitos, sempre querendo mais. É preciso encontrar equilíbrio, até o ponto que vale a pena, para não ficarmos em busca de algo achando que aquilo vai nos satisfazer pessoalmente. É apenas um momento, o qual vai passar, e que não passa de uma ilusão. Quando estamos inteiros, ligados no momento presente, sem distrações, permanecemos num estado de equanimidade, sem nos envolvermos com os nossos próprios pensamentos e atitudes, mas apenas observando-os e deixando-os passarem, sem envolvimento com as flutuações da mente, mas apenas conectados com o momento, sem agirmos com a finalidade de chegar a algum lugar, entendendo que já estamos aonde deveríamos estar, e percebendo o que já temos à nossa volta, sabendo que não somos apenas feitos de pele e osso, mas que existe uma essência dentro de cada um de nós. Respeitando os nossos próprios limites, para não causarmos dor, observando nas posturas as qualidades de conforto, estabilidade e não-violência, criamos uma aura de paz que neutraliza sentimentos de inimizade. Não precisamos provar nada para ninguém. Só precisamos ser nós mesmos. Sem verdade, a vida passa a ser inútil. A honestidade tem o poder de fazer com que nossas palavras tenham o poder de se realizar. Geralmente, queremos fazer pouco e obter muito, sendo que é preciso esforço para que haja uma tranformação. Ser exatamente como somos, sem procurar coisas externas para nossa felicidade, aprendendo a esperar e deixar o fluxo natural conduzir, sem criarmos espectativas, preservando a energia, tornando mais saudável o coração, a mente, o corpo, os pensamentos, as palavras e as ações. Aquele cuja mente se tornou pura pela concentração e entrou em si mesmo, sente uma alegria que não se pode descrever por palavras, e que só é inteligível ao instrumento interior, se adaptando a qualquer situação, o que denota esforço, e assim produz calor espiritual, trazendo perfeição ao corpo. Devemos observar aquilo que estamos fazendo, tornando a vida mais rica e profunda. O objetivo não é a compreensão meramente intelectual, mas conhecermos, através da leitura de textos, o que pode ser vivenciado na nossa vida diária, e elevendo a nossa mente e a compreensão, sem nos tornarmos uma biblioteca ambulante. É tornar nossa prática regular um estudo. É também o auto-estudo e a auto-observação durante a prática e na vida. Namaste, Victor.