Ética, Pratique

Yamas, os Valores Fundamentais na Prática de Āsanas

Os yamas são formados por cinco valores essenciais, conhecidos como os códigos de ética e de conduta do praticante de Yoga

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Yogasūtra  de Patañjali é geralmente visto como a base filosófica do Yoga.

Os Sūtras também oferecem uma estrutura para a prática de āsanaprāṇāyāmamudrā, bandha e meditação, além de transmitirem, de forma clara, como praticar e o por quê da prática dessas diferentes ferramentas.

Os yamas formam o primeiro dos Oito Ramos do Yoga de Patañjali, e servem de fundação para os outros sete. São os valores fundamentais.

Os yamas são formados por cinco valores essenciais, conhecidos como os códigos de ética e de conduta do praticante de Yoga.

A vivência dos cinco yamas na prática de Yoga exerce um papel fundamental no cultivo dos valores essenciais para uma prática saudável e equilibrada como veículo para o auto-conhecimento.

Este artigo tem como objetivo aprofundar o entendimento e a vivência dos yamas na prática de Yoga como um todo, mais especificamente na prática dos āsanas.

valores fundamentais

Quais são os cinco valores fundamentais?

1) Ahiṁsā – não-violência: em relação a si próprio, aos outros e ao mundo.

O cultivo da não-violência em relação a si próprio é essencial para que a não-violência com relação ao mundo possa de fato se tornar uma realidade.

A seguir, citamos alguns exemplos do não cumprimento de ahiṁsā associada à prática de Yoga:

Beneficiar-se da prática dos asanas em relação a um aspecto, enquanto há prejuízo em outro aspecto.

Por exemplo: uma prática vigorosa que alivia o estresse, mas que prejudica as articulações corporais a longo prazo.

Supervalorizar uma das dimensões da prática dos asanas em detrimento de outras. Por exemplo: Focalizar a prática apenas no aspecto físico, sem integrar os outros aspectos do ser.

Este é o primeiro dos cinco valores fundamentais.

2) Satya – verdade: inclui falar a verdade e, mais fundamentalmente, conhecer a verdade mais profunda que permeia toda a criação.

É conhecer a unidade para além de toda diversidade e multiplicidade; fonte única de energia e inteligência como base de toda a manifestação.

Alinhar nossas prioridades e estilos de vida à essa verdade essencial de unidade, é cultivar satya na vida do dia-a-dia.

Com relação à prática de Yoga, satya é o esclarecimento de nossos objetivos e intenções por trás da prática. Esses objetivos são tanto relativos, como absolutos.

Os objetivos relativos podem incluir, por exemplo: alívio do estresse, cura de problemas crônicos de saúde, reequilíbrio hormonal, desenvolvimento de auto-confiança, etc.

Já o objetivo absoluto do Yoga é sempre a liberdade. Portanto, para que a prática de Yoga seja verdadeira, deve-se estar ciente desses objetivos que delineiam o caminho a ser seguido, assim como ajudam a definir e a adequar os meios a serem utilizados.

3) Asteya – não-roubar, cultivo da integridade, obter e usar somente o necessário.

A palavra integridade tem a mesma raiz de integral e integrativo.

A partir do reconhecimento dessa totalidade, plenitude, unidade, como nossa verdadeira natureza, todas as ações que executamos passam a se irradiar a partir desse conhecimento de que fazemos parte do Todo.

Nesse estado de integridade, tomamos do universo, do planeta, das outras pessoas, apenas aquilo que é necessário.

Para ter clareza quanto aquilo que é necessário, aquilo que é suficiente, o que realmente precisamos, devemos entrar em alinhamento com o valor da não-violência, em primeiro lugar, e com o valor da verdade, em segundo.

Com relação à prática de Yoga, asteya significa desenvolver discernimento para utilizar somente as práticas, as ferramentas necessárias para alcançarmos nossos objetivos, tanto os relativos e, principalmente, o objetivo absoluto da liberdade.

Quando passamos a ‘colecionar práticas espirituais’ como posses ou quando nos utilizamos de práticas que têm como objetivo a liberdade espiritual, mas as usamos para auto-promoção, fama ou fortuna, não estamos praticando asteya.

A prática de Yoga não precisa ser acumulada, porque o Yoga é nossa própria natureza. Esse é o terceiro dos valores fundamentais.

4) Brahmacarya – conservação de energia, referindo-se, especificamente, à conservação de energia sexual. Brahma corresponde ao aspecto da trindade hindu responsável pela criação.

Brahmacarya é o reconhecimento de que nossa energia de vida é preciosa, um presente, uma bênção, estando conseqüentemente relacionado à conservação dessa energia preciosa e à sua canalização para a jornada do auto-conhecimento.

Com relação à prática de Yoga, brahmacarya significa conservar e canalizar a energia vital de forma que não se gaste mais do que o necessário, e assim se obtenha os benefícios máximos.

A prática de Yoga que cultiva brahmacharya é aquela que nos proporciona mais energia do que despendemos.

Quanto à prática dos āsanas, por exemplo, aprendemos a relaxar os músculos que não são necessários para manter as posturas, utilizando somente aqueles que sustentam os alinhamentos corporais adequados para que a energia vital possa se expandir.

5. Aparigraha – não-cobiçar, não-possessividade, não-apego.

À medida que passamos a compreender que tudo no universo é compartilhado em algum nível, que não somos separados das pessoas, da natureza, do mundo, a identificação com a propriedade pessoal começa a ser amenizada.

Com relação à prática de Yoga, aparigraha é o dissolver a idéia de ‘minha prática’, ‘minhas posturas’, ‘meus benefícios’, é o cultivo do valor da prática para o Todo, o entendimento de que a prática de Yoga é universal por natureza.

Dessa forma, estamos sempre praticando com todo o universo e entregando os benefícios para todo o universo, que somos nós.

Ao compreendermos o sentido de aparigraha, percebemos que há somente um yogin, uma só prática de Yoga. Esses são os cinco valores fundamentais do Yoga.


॥ हरिः ॐ ॥

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॥ हरिः ॐ ॥

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4 respostas para “Yamas, os Valores Fundamentais na Prática de Āsanas”

  1. Como é polêmica essa interpretação dos Yamas… cada um vê de um jeito. Nesse caso concordei apenas com a interpretação do quinto Yama. O resto achei que pode confundir a cabeça de alguns. Com todo respeito, mas é que me incomoda esse assunto, que tem o rótulo de base de todos os outros passos do Yoga, ser tão polêmico. Jay! Que a verdade nos clareie!

  2. Gostaria de comprar o livro Guia de Meditação, de Pedro Kupfer. Como faço?

  3. Eu sei que isso não é uma seção de perguntas e respostas, mas queria então deixar uma sugestão de tema: aparigraha no relacionamento amoroso. Prático Yoga há dois anos e venho me dedicando bastante, mas quando o assunto é relacionamento toda minha vida se desequilibra!

    Fica ai minha sugestão, obrigado! Queria também parabenizá-los e dizer que o site é otimo! Namaste.

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