A Sabedoria que Liberta da alienante ignorância diz: Deus é Divino, e eu, humano; Deus é Perfeição, e eu, pecado.
Deus é Luz, e eu, sombra; Deus é Liberdade, e eu, servidão; Deus é Paz, e eu, conflito.
Deus é Unidade, e eu, pedacinhos desarmônicos; Deus é Bem-Aventurança, e eu, sofrimento; Deus é Opulência, e eu, pobreza; Deus é Plenitude, e eu, vazio…
Deus é grande demais. Deus está infinitamente fora de meu alcance…
Os que assim pensam, concluem: Continuarei humano, pecador, sem luz, sem liberdade, sem paz, desintegrado, sofredor, vazio, entediado e frágil.
É assim que a ignorância torna maior o padecimento e a ruína.
O ignorante desastrosamente admite a impossibilidade. Ele não teve ‘ouvidos de ouvir’ quando o Mestre nos estimulou dizendo:
‘Sede perfeitos como o Pai que está nos céus é Perfeito’.
O Yoga que combate a ignorância, Jñānayoga, é a caminhada no saber, na elucidação progressiva, afastando os mil disfarces que escondem o Real, o Uno, o Absoluto.
O jñānin, no seu caminho, conquista Paz, Felicidade, Amor… mediante as vitórias que impõe às trevas, aos enganos…
Para o jñānin é a ilusão (avidyā) que, fazendo de Deus algo separado, faz-nos sofrer e faz-nos fazer sofrer.
É avidyā que separa os homens e nutre os egos conflitantes.
A sabedoria que liberta
Jñānayoga é deslumbramento enquanto dissolve as trevas.
É desengano, enquanto afasta as aparências enganosas.
É desilusão, enquanto nos livra de todas as ilusões – agradáveis e desagradáveis.
É desencanto, enquanto nos salva de frustradores encantamentos.
O jñánin vê-se a si mesmo; vê tudo, todos e o Todo numa Unidade, que não tem segundos. Nada existe fora de Deus, o Uno.
Há muitas existências, mas a Essência é Uma. Existências são aparências; e a Essência Una, o Real.
Nada existe fora ou diferente do Uno.
Nós, embora pareçamos ínfimos, somos o Infinito.
Conseguida a desilusão total, o que resta é a imperecível liberdade, a felicidade absoluta.
Saccidānanda é um dos nomes do Inominável de mil nomes.
Sat é Deus como Ser e Verdade.
Cit é Deus como Consciência Suprema.
Ānanda é Deus como Felicidade Absoluta.
E nós somos Isto – Essa é a mensagem advaita (não-dual) de Śaṅkarācārya, o vedantino.
Só a ignorância nos impede de ver que O somos.
Prece do jñānin
Sei que estás manifesto nas aparências, mas eu Te busco Realidade.
Sei que também no fenômeno Tu estás, mas eu Te quero Nômeno.
Sei que imanente estás no reino das formas, mas ando em busca do Informal.
Sei que no reino dos nomes Te encontras, mas é o Inominável o objeto de minha busca.
Conheço o universo, mas ando Te procurando a Ti, oh! Uno.
Chega a meus sentidos a presença do multiforme, do multissonoro, do multifragrante, do multiperceptível.
Mas bem sei que Te encontras além de todos os múltiplos, pois És o Único.
Sei que estás aqui, ali, além, aquém… Mas é fora dos limites e das dimensões que procuro conhecer-Te.
Sei de muitas definições, das mil que andaram Te atribuindo, mas não é um Deus definível, um Deus de atributos que procuro.
Procuro o Inqualificável, o Indefinível, o Insondável, o Inefável Ser.
Quem És?
Que És?
Ajuda-me, Realidade, a exumar-Te dentre tantas aparências, tantos conceitos, tantas formas e tantos nomes.
Ajuda-me a transmutar o limitado e periférico conhecer em infinito e profundo saber.
Ajuda-me a Realizar o que És.
Ajuda-me a Realizar o que Eu Sou.
Ajuda-me a perder-me, redento, no Infinito Eterno do Ser que Eu Sou e que Tu És.
Salva-me, Presença, da ignorância escravizante…
Eu Te peço, meu Deus, destrói essa distância.
Liberta-me da ilusão que nos afasta.
॥ हरिः ॐ ॥
Extraído do livro Yoga, Caminho para Deus.
Digitado por Cristiano Bezerra
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॥ हरिः ॐ ॥