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Maithuṇā, Liturgia Sexual

Fala-se e se escreve sobre 'Yoga do Sexo', e aventureiramente algumas pessoas, por ignorância ou malandrice, definem Tantra como 'Yoga do Sexo'

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Fala-se e se escreve sobre ‘Yoga do Sexo’, e aventureiramente algumas pessoas, por ignorância ou malandrice, definem Tantra como ‘Yoga do Sexo’.

Em geral, aqueles que, já engajados numa vida erótica irresponsável, aspiram encontrar nas veneradas escrituras uma absolvição religiosa para o que já vêm fazendo e não desejam parar.

Para quê tal homologação?! Se querem continuar onde estão, que continuem, mas não tentem fazer o sagrado abençoar o profano. Sugiro que se esclareçam.

Estudem, por exemplo, a tese da psiquiatra Elizabeth Haich publicada no livro Energia Sexual e Yoga-Tantra: A Canalização da Força Criadora Divina*.

liturgia sexual

Os que estudam os Mestres e as escrituras tântricas se deslumbram com a beleza e a santidade dos muitos rituais externos prescritos.

Poderão também encontrar, em algumas fontes da ‘mão esquerda’, claras referências ao maithuṇā, que é a união sexual ritualística de um casal de sādhakas (aspirantes espirituais), a imitar com seus corpos o ‘coito cósmico’ com o qual o casal Śiva-Śakti gera os universos.

O maithuna é a união sexual alçada à sua maior sublimidade e pureza, quando cada cônjuge, no desfrute da bem-aventurança, se une, em castidade, no ser do outro e, se transcendendo, unificados no genuíno amor, se fundem jubilosamente na Unidade de Deus.

A Liturgia Sexual

A proposta é sábia, austera e linda. O devoto representa Śiva, e sua esposa (legítima), a Śakti, a Mãe Divina, Pārvatī. A fim de assegurar tão rara magnificência espiritual, o casal, por longo tempo, se engaja em austera disciplina espiritual.

Pureza e santidade são absolutamente indispensáveis. Sem elas, maithuna não passa de normal fornicação. Por motivos técnicos e litúrgicos, a união não deve culminar na ejaculação natural, pois isso derrubaria a dignidade, a pureza e a significação cósmica do ato.

Ora, isso é imensamente difícil e sem dúvida impossível a quem não seja dotado de um grau elevadíssimo de autocontrole, pureza espiritual e santidade. A energia seminal retida é então canalizada para um nível divinizante mais sutil.

Maithuṇā, quando degradado por ignorância e desejos libertinos, indiscutivelmente nada tem a ver com espiritualização.

Os que gostariam de praticar o famigerado ‘Yoga do Sexo’ – uma criação esdrúxula – que renunciem à imprudente e mal inspirada tentativa; que deixem a libertadora experiência da Unidade a quem possa. E, a rigor, raríssimos podem.


* Editado por mim mesmo na Editora Nova Era.


॥ हरिः ॐ ॥

Extraído do livro Iniciação ao Yoga.
Digitado por Cristiano Bezerra.
Leia aqui mais textos deste brilhante autor.
Visite aqui o site do Professor Hermógenes.

॥ हरिः ॐ ॥

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5 respostas para “Maithuṇā, Liturgia Sexual”

  1. Olá. Tenho numa amiga fazendo terapia tântrica há mais de um ano. Recentemente foi introduzido o mathuna pelo terapeuta, com o qual minha amiga passou a ter penetração, inclusive sem o uso de preservativos (por opção dela). Ela faz o tratamento pq, com 40 anos, acredita que nunca teve um orgasmo, provavelmente pelos padrões religiosos muito rígidos dentro dos quais foi criada. Ela ama a terapia, e diz que já a ajudou mto em vários aspectos. Porém, questiono: a técnica mathuna (se assim pode ser chamada de técnica) pode ser usada em terapia.

  2. Sou iniciante na prática de yoga, por isso me desculpe se a pergunta parecer demasiado ingênua, mas gostaria de saber se a prática do Maithuna não seria, a longo-médio prazo, prejudicial ao orgasmo masculino, com atrofia de suas estruturas. Entendo por controle, o domínio (não a repressão), então para aqueles que possuem dificuldade de ejacular (por atitudes repressivas), a prática do Maithuna seria aconselhável? Ou até benéfica?
    Desde já agradeço!

  3. Daniel, por acaso você poderia passar essas fontes médicas?

    Vi um artigo de uma doutora sobre técnicas sexuais taoístas (que também evitam a ejaculação) que dizia justamente o contrário.

    Parece-me mesmo que na verdade há muito pouca coisa confiável sobre esse assunto.

    1. Existe uma diferença substancial entre a abordagem taoista e o tantra original indiano. Enquanto no taoismo o foco é o controle e a retenção da energia sexual gerada, que tende a ser expelida por meio da ejaculação, no tantra original se trabalha a elevação da energia para os chakras superiores, sublimando a mesma sem se tranformar em desejo de ejaculação que deva ser controlado.

  4. Segundo muitas pesquisas e opiniões médicas, percebe-se que a prática sexual sem a ejaculação seminal causa a atrofia das glândulas, ou seja, quando a pessoa não quiser mais praticar esse tipo de ritual não poderá mais voltar à vida comum e corrente, e ainda pode ter o risco de não poder mais ter filhos. O que podem me responder sobre isso?

    Obrigado.

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