Começando, Pratique

Yoga, Caminho para Deus

A hora é chegada. Se você quiser, pode ficar onde está e como está, a perder tempo. Se você quiser, pode continuar inconsciente e sem rumo, sem rota, sem objetivo, perdendo tempo e perdendo-se

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homem
Convite: Caminho para Deus

…muitos são convidados, mas poucos escolhidos.
Mateus, 22:14

A hora é chegada.

Se você quiser, pode ficar onde está e como está, a perder tempo.

Se você quiser, pode continuar inconsciente e sem rumo, sem rota, sem objetivo, perdendo tempo e perdendo-se.

O homem desperto, graças a longas experiências decisivas, já elegeu o seu rumo, e está irreversivelmente a caminho.

A viagem redentora é na direção de dentro, dentro de nós. Ali se encontra o Senhor, o próprio Brahman, o Ser Absoluto.

Yoga é o rompimento de grilhões, de condicionamentos e dependência. É libertação.

Yoga é vitória sobre as trevas. É iluminação.

Yoga é reencontro com o Ser-Verdade. É divinização.

Yoga é esforço, luta e vitória.

É o partir, o caminhar e o chegar.

Há modos diferentes para se vencer as distâncias na estrada para Deus.

Se o que mais nos afasta de Deus e nos vincula ao mundo é o nosso imperfeito amar, a nossa incapacidade para o verdadeiro amor, nosso caminhar tem de ser não contra o mundo, mas a favor de Deus.

Será a universalização e divinização de nosso amor que poderá cortar as amarras de servidão e dar-nos, na unificação com o Deus que amamos, a libertação salvadora. A isso se chama Bhakti Yoga.

Se o que nos tem frustrado a sede de felicidade e nos tem amargurado e retido é nosso agir egoístico e alienante, nosso caminhar consistirá em divinizar nossa atuação no mundo de Deus, e, assim, unir-nos ao Deus do mundo. A isso se chama Karma Yoga.

caminho para deus

Se o que nos empobrece, e nos amesquinha, é a ilusão de sermos anti-Deus, padecendo uma distância frustradora e imensa, nosso caminhar precisa ser no rumo da sabedoria, buscando a “Verdade que liberta”. A isso se chama Jñána Yoga.

De um lado, o mau amor, a má ação e o mau conhecimento nos fazem egoístas e sofredores. De outro, o Yoga, como processo integral de divinização do amar, do atuar e do conhecer, é caminho redentor.

Não é exatamente isso o que o Cristo ensinou, exemplificando?

Ele insistiu: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”.

Ele nos prometeu: “Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará”.

Ele determinou: “Aquilo que quereis que vos façam, fazei vós aos outros”.

Ele nos acordou com benditos açoites de Sua Verdade. Desafiou-nos a “tomar a cruz” e seguí-lo.

Foi-nos exemplo perfeito de discernimento (viveka), de desapego (vairagya), de devoção-amor (bhakti), de ação perfeita (karma), de sabedoria (jñána), de bravura e resignação (tapas) e de auto-entrega ao Pai (Íshwarapranidhána)…

Eis porque peço a Jesus, o Cristo, que me tome como um shela, que seja meu divino Guru.

Vamos, você e eu, realizar o Yoga que o Cristo sempre foi e jamais deixará de ser?

Vamos pedir aos grandes sábios e santos da Índia que nos elucidem sobre o que ainda não percebemos perfeitamente na imortal mensagem cósmica de Jesus?

Vamos pedir a Jesus, que nos dá amor, que nos ajude a entender Krishna, Buddha e todos os outros que também ensinaram?

Vamos romper barreiras, e realizar uma vida ecumênica, no bendito redil do Pastor?

Vamos, amigo, aprender e praticar, até chegarmos ao Nirvana e podermos dizer: “Eu e o Pai somos Um”!

A viagem

Não sigas a via do mal! Não cultives a preguiça do espírito!
Não corras atrás de idéias falsas!
Não sejas dos que se retardam no caminho!
Dhammapāda, 167

A viagem tem de ser consciente.

Viagem inconsciente é aquela que sai em várias direções sem conseguir chegar a nenhuma.

É bom lembrar que o tempo é escasso e, perdido, jamais será recuperado.

A viagem tem de ser voluntária.

Voluntária é aquela em que, lucidamente, elegemos e assumimos: o Rumo, a Meta e o Método.

Não há tempo sobrando!

A hora é chegada.

Se você quiser, pode ficar onde está a perder tempo e ser colhido pela ruína.

Se você quiser, pode continuar inconsciente, sem rumo, sem rota, sem objetivo, perdendo tempo e perdendo-se.

Você está parado? Você está andando sem destino certo? Seu caminhar é saindo, afastando-se, alienando-se, desligando-se, exilando-se, excomungando-se?… Ou você, tendo-se afastado demais, já começou a querer voltar, a religar-se?

É a ignorância que faz as multidões, nos campos fantasmas das ilusões, continuarem estagnadas ou saírem, acicatadas pelo gozo ou pela dor, a se desgastarem em andanças sem caminhos, em trágico e alucinante afastamento.

O homem sábio, graças a longas, profundas e decisivas experiências, já elegeu seu rumo, e está irremediavelmente a caminho.

É sábio por saber porque está caminhando. É sábio porque sabe por onde vai. É sábio por saber onde se encontra, por saber o que ainda é, e por vislumbrar o que virá a ser. É sábio por consciente e voluntariamente caminhar.

Em sua ilusão, o ignorante assim pensa: tenho de aumentar meus bens, melhorar minha posição, conquistar poder, ganhar prestígio… Só assim serei feliz.

Em seu estúpido sonhar, sente-se seguro por sua religião, que é única; por seu partido, que é o melhor; por sua ideologia, que é a mais respeitável; por seu time de futebol, que é o campeão…

E é assim que estanca, ou aprofunda ainda mais sua identificação com o mundo perecível, que ainda mais o consome e exaure, ainda mais o perde e prende.

A fascinação do poder, dos haveres, dos afazeres e das crenças que lhe convêm fecha seus olhos e bloqueia um salvador conhecimento de si mesmo.

Suas fragilidades, suas falibilidades e suas inseguranças ficam disfarçadas pelas fugazes vitórias dos instrumentos de seu egoísmo.

A miséria existencial continua a existir emboscada e, cedo ou tarde, derrubando os biombos dos engodos, se manifesta, maltrata, arrasa… e traz “choro e ranger de dentes”.

Você gosta de histórias? Então, lá vai uma:

Vestindo-se para ir dançar, a alma da jovem já era uma festa, antegozando tudo quanto uma festa promete à imaginação e à expectativa dos jovens.

Nenhuma festa, porém, é somente festa, bem como nenhum luto, somente tristezas.

Na festa, a jovem gozou estimulantes alegrias, mas padeceu frustrações dolorosas…

Dançou e sorriu. Foi preterida e chorou. Música e sexo, fumo e álcool intoxicaram-na, mas não chegaram a disfarçar ou amenizar uma sensação de vazio e inutilidade de tantos decibéis das guitarras, de tantas conversas perversas, de tantos hipócritas e grosseiros galanteios egoísticos.

Para aquela alma sensível, o tédio e as lágrimas acabaram com a diversão, e, simultaneamente, fizeram-na lembrar-se de sua casa, tão tranqüila, tão pura, tão repousante, tão querida…

Para ela acabara a diversão, e fez-se a caminho, para o abrigo do lar.

Para os outros, a diversão continuou, dominando-os, fustigando-os, fatigando-os, mas divertindo-os, fazendo-os esquecer o lar.

Acabei de contar-lhe a história de um despertamento, de uma conversão.

O mundo – samsára, dizem os budistas – é a festa que diverte. Alguns despertam e, enfastiados de diversão, convertem-se. Os discípulos de Cristo falam de arrependimento como condição para “ressurgir dos mortos”.

Você ainda se sente feliz na diversão ou já sente o libertador apelo da conversão?

Conversão é viagem de retorno à “casa”.

Diversão é viagem de alienação, quando a casa é deixada e esquecida à distância e, na distância, fica perdida.

Os que se convertem dizem com o Cristo: “meu Reino não é deste mundo”.

Para um desperto, o que é o Reino?

O Reino é a “casa do Pai”. É o próprio Deus. O Deus que os convertidos procuram reencontrar, e os divertidos, que O abandonaram, esqueceram.

Mas, “onde” está o Reino?

Ainda segundo o Cristo, dentro de nós mesmos.

A viagem redentora é na direção de dentro, dentro de nós. Ali se encontra o Senhor, o próprio Brahman, o Ser Absoluto, não obstante nossa aparente miséria, nossa aparente imperfeição, nossa aparente pequenez, nossas forças miúdas, nossa reduzida visão…

Yoga

“Aquele que se tenha desapegado dos contatos externos encontra a felicidade em Átman; tendo alcançado a união (Yoga) com Brahman, desfruta a bem-aventurança eterna.” Bhagavadgītā, V:21. 

O que tem o Yoga com tudo isso?

Yoga é exatamente a viagem dos que, intoxicados de divertimento, acordados pelas abençoadas pancadas das vicissitudes, saudosos da “casa do Pai”, já decisivamente convertidos, se tornaram aspirantes ao Eterno.

Yoga é o caminho e o caminhar que conduzem a Deus.

Você, ainda estranhando, poderia perguntar: “Como pode uma ginástica fazer tanto?!”.

Yoga não é ginástica. Nenhuma ginástica, só, é Yoga. Há uma ginástica muito inteligente chamada Hatha Yoga que ajuda o caminhante, dando-lhe adequadas condições físicas e mentais para que vença as obstruções e as fadigas do caminhar.

Mas é apenas um aspecto particular de todo um sistema que, alquimicamente, leva a alma a Deus.

É natural que você ainda tenha uma indagação a fazer: “Yoga é religião?”.

É re-ligação, sim. Re-ligação da alma individual com a Alma Universal, do homem finito com o Infinito, do homem imperfeito com a Perfeição, do faminto com o Pão, do sedento com a Água Viva, do alienado com o Reino…

Yoga é aproximação do que está longe. Junção do fragmento disperso. Reintegração do que se vê desintegrado. Por isso, é redenção. Yoga é a vitória sobre as trevas – iluminação.

Yoga é o rompimento de grilhões de condicionamentos e dependências – libertação. É o reencontro com o Ser-Verdade. É deslumbramento e o alcance da Consciência Total. É fruição da Bem-Aventurança. É divinização.

Yoga é esforço, ação e vitória.

É o partir, o caminhar e o chegar.

É esclarecer-se.

É servir.

É amar.

É esclarecer-se, servir e amar até atingir a ansiada “casa”. Até Deus.

Enquanto prática, Yoga é método.

Enquanto sumir-se e consumir-se em Deus, é meta.

O yogi é aquele que já foi festivamente recebido pelo Pai na “comunhão dos santos”, e, no acolhedor abraço da Graça do Pai, que morreu como um eu e ressuscitou como Deus.

Yogin é aquele que, tendo despertado, visto a impermanência e a falência dos valores mundanos, está a caminho, pagando o preço dos desafios, das fadigas, das quedas, de todos os sacrifícios, mas sempre avançando, sempre querendo chegar.

Os gurus ensinam

A austera disciplina (tapas), a pesquisa do Ser (svādhyāya)
e a auto-entrega a Deus (Īśvaraprānidhāna) constituem o Kriyā Yoga.
Kriyā Yoga atenua as dificuldades da mente causadoras do sofrimento e conduz à união com o Divino. Yogasūtra, II:1-2. 

Quanto mais rico o tesouro, mais árdua sua conquista. Tesouro mais caro do que a imersão feliz em Deus não há.

Por isso as advertências dos grandes Mestres da humanidade: “estreita é a porta”, e o caminho, angustiante; “de mil homens, um se põe a caminho, e de mil caminhantes chega apenas um”; “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha…”.

Mesmo assim, temos de caminhar: com a esperança a atrair-nos; com o coração sempre sedento; com a mente lúcida e pura afastando as falácias; com as mãos vazias de efêmeros pertences e pretensos valores.

Os mestres do Yoga dão a seus discípulos as armas para a luta, as instruções para a vitória. Aos aspirantes ao Infinito, aos caminhantes, aos yogins, aos devotos, não devem faltar: viveka; vairagya e mumukshutva.

Insistem sempre em que dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, incessantemente, desperto e mesmo até dormindo, aprimorem o sádhana, isto é, a disciplina (prática), observando: swádhyáya; tapas e íshwarapranidhána.

Viveka

Viveka é a Luz do discernimento, que possibilita ver as coisas como as coisas são, que desmascara aparências, desfaz sofismas, e evita que, sofrendo ou gozando, buscando ou fugindo, sigamos enganados e engajados no mundo.

Não atingem a meta os que confundem: os meios com o Fim; o perecível com o Eterno; o não-ser com o Ser; o finito com o Infinito; os fenômenos com o Nômeno; o mundo (sansara) com o Nirvana; Mammon com Deus; o eu com Ser; as aparências falazes com a Realidade Última.

Viveka nos esclarece sobre o que, em nós mesmos, é autenticidade ou hipocrisia; o que, no caminho, é caminho ou desvio; o que é certo ou errado.

Viveka – dando-nos “olhos de ver e ouvidos de ouvir” – é condição inicial e essencial. Sem discernimento espiritual, continuaríamos a diversão sansárica, e impossível seria a conversão, o arrependimento, o enfastiamento diante da frustração… Sem viveka, pensando que buscamos Deus como o Fim, nós o utilizamos como um simples meio de gratificação do eu.

Sem viveka, o agir no mundo escraviza; o amor não unifica, separa; o saber obscurece; a razão se vende; a caridade corrompe; a humildade apenas humilha; a devoção fanatiza; o desapego cria vínculos; a necessária cultura do corpo se faz em narcisismo…

Viveka afasta a venda dos olhos, deslumbra a mente, e ilumina a própria estrada.

Por isso, repetem os Mestres: “Sem viveka impossível é a realização de Deus”. Embora já empenhada na luta, na estrada, a alma, sem viveka, pode ainda voltar a sentir saudades do mundo que pretensamente abandonou.

Vairāgya

Se você ainda crê que o mundo, com tudo que oferece aos que são do mundo, ainda lhe pode dar felicidade, paz, plenitude, segurança…; se ainda se acha fascinado e entregue ao mundo, longe está de poder caminhar no rumo do Eterno.

“Ninguém pode, ao mesmo tempo, servir a dois senhores”, e os dois senhores são distintos: Deus e Mammon, nirvāṇa e saṁsāra!

Aquele que ainda está sujeito e esperançoso, envolvido e preso, sempre desejará voltar, não para o Reino, mas para o mundo que o chama e ele escuta.

Apego (às coisas, às situações, às pessoas, às ideologias, às seguranças, ao status, a aplausos… tão necessários ao eu) é carga descomunal atada às costas do pseudocaminhante. E ninguém avança quando demasiadamente carregado. O volume dos objetos do apego impossibilita atravessar a porta estreita.

Por isso os Mestres sugerem: “Aliviem-se da carga! Vairāgyaṁ! Renunciem!”.

Há renúncias mais fáceis. É bom começar por elas. Outras, mais difíceis, acontecerão depois, à medida que o discernimento cresce, à medida que a dor nos amadurece e as desilusões nos esclarecem.

A última e mais difícil renúncia é ao eu, ao eu tão indispensável aos que, divertidamente, se entretêm no mundo.

A decisiva e real renúncia ao eu opera o milagre: os olhos se abrem e conseguem ver que a “porta estreita”, a “estrada angustiante”, a distância, a fragmentação já não existem e jamais existiram, e que nada existe senão o Uno sem segundo.

Vairāgyaṁ, sem viveka, desequilibra, corrompe e destrói. Ela não pode ser prematura. Ai daquele que, pensando em ter renunciado ao mundo, por uma série de atitudes e atos externos, continua ligado ao mundo. Ela não pode ser falsa e forçada, pois não tem condições de subsistir.

A renúncia é real e irreversível quando a alma desperta e, natural e espontaneamente, não tem mais qualquer desejo pelos valores antigos. Uma jovem mãe não tem qualquer interesse pelas bonecas de sua infância.

Aos que pretendem renunciar, a advertência dos Mestres: Prudência! Discernimento!

Não é o traje sacerdotal nem a filiação a um grupo renunciante que significam renúncia. Renúncia de aparência é traição a si mesmo. É um meio de fazer-se uma imagem e de impressionar outrem…

Passo a passo, de amadurecimento em amadurecimento, de deslumbramento em deslumbramento, de desilusão em desilusão, a alma vai se desapegando, largando a carga-óbice…

Sem vairāgyaṁ – insistem os Mestres – a distância continua.

Mumukṣutvam

Não atinge a meta o caminhante que não aspira chegar.

Mumukṣutvam é o anseio pela libertação. É a sede que leva o sedento a procurar a “Vida”, o perdido a buscar a “fonte de água viva”, o semi-vivo a procurar a “Vida”, o perdido a buscar o “Caminho”, o faminto, o “Pão”…

Para o aspirante nada mais importa, nada mais é querido, nada mais pretendido… Só a libertação o motiva e move.

Àquele que quer chegar, nenhum obstáculo o detém, nenhuma fadiga o retém, nenhum gostoso desvio o conquista…

Só o Reino o atrai. E ele sente a necessidade de chegar. Para a sua sede, de nada valem as águas que encontra. Para a sua fome, só o “Pão” é nutrição.

Poderes maravilhosos, hierarquia sacerdotal, discípulos e sectários, admiração e adoração de incautos, auréola de santidade, coleção de virtudes, renome, aplausos…, puros “acréscimos”. O que ele quer, total e definitivamente, é o “Reino”.

Para ele, fácil é vairagya. Distinguindo entre os “acréscimos” e o “Reino”, sem esforço, não vê mais valor nos “acréscimos” enganosos e, com decisão, avança invencível e infatigável para o Reino, que se abre para festivamente acolhê-lo.

É por tudo isso que os Mestres repetem: sem viveka, sem vairagya, sem mumukshutva, um cristão não se cristifica, um budista não realiza o budato, um judeu não chega a Jeovah, um maometano não alcança Allah….

Modos e meios

O yogin, dessa maneira, com a mente controlada, une-se ao Átman
e obtém a paz que culmina em Nirvana, a paz que existe em Mim.
Bhagavadgītā, VI:15

Há modos diferentes para se vencer as distâncias na estrada para Deus.

Se o que nos afasta de Deus e nos vincula ao mundo é nosso imperfeito amar ou nossa incapacidade para o verdadeiro amor, nosso caminhar deve primordialmente ser um aperfeiçoamento nosso para a universalização e purificação do amor.

Na medida em que aprendermos a perder nosso eu na delícia de um amor cósmico e imaculado, estamos sendo libertados, curados e salvos pelo amor. E isso se chama Bhakti Yoga.

Se o que nos prende, nos perturba, nos enfraquece e ofusca é nosso agir sem sabedoria e sem amor, teremos de aprimorar nosso trabalho, nossa profissão, nosso comportamento, nosso relacionamento, nossa atuação…

A salvação está em divinizarmos nossos pensamentos, nossos desejos, nossas palavras, nossos atos e omissões, e, assim, através da vida prática dentro do mundo, libertar-nos dele.

O agir que liberta é Karma Yoga

Se o que nos separa de Deus é o grosso e pesado biombo da ilusão, que nos faz ignorar Deus (nossa Essência) e nos compromete com o eu (nossa existência) ávido de prazeres e amedrontado diante da dor, temos de aprimorar nosso saber.

Vencida a infernal opacidade do biombo, desvelada a Verdade-Realidade, que as aparências não deixavam ver, constatamos, em processo redentor, que ?eu e o Pai? não são dois, pois só existe o Pai-Uno.

Jñána Yoga é esse reduzir distâncias nas asas mágicas da Luz.

Amando, servindo e sabendo, o yogin, intimorato e decisivo, reintegra-se, unifica-se e se une ao Todo e diz, como São Paulo: “Já não sou eu. É o Cristo que vive em mim”.

Amar, adorar, trabalhar, servir, estudar, meditar e viver, cada instante e onde estiver, uma disciplina yogin é cumprir o sádhana.

Sádhaka é o yogin cumprindo seu papel no mundo, que é valorizar a oportunidade de existir, empregando, consciente e voluntariamente, o ?talento? confiado, o dom da existência, para tornar-se Essência.

E isso está a seu alcance, e é seu dever (dharma). O amado Jesus, Mestre incomparável, recomendou-nos, a todos nós (sādhakas): “Sede perfeitos, como o Pai do Céu é perfeito”.

Os meios de que dispõe o sádhaka são: seu corpo, sua sensibilidade, sua mente.

A caminhada é árdua. Os obstáculos são muitos. Os desvios se repetem.

Como pode chegar ao destino um caminhante sem resistência, sem tenacidade, necessitado de conforto, luxúria, repouso e ócio?!…

O corpo deve ser sadio e forte. Os sentidos controlados. A mente pura, ativa, concentrada e limpa.

Sem a prática de tapas, disciplina que purifica e vence conforto, sensualidade e fadiga; sem uma grande dose de resistência contra a dor… que avanços pode o caminhante fazer?!

A sabedoria dos Mestres recomenda: tapas!

A vitória sobre todas as formas de enganos – apetecíveis ou temíveis – e o desvelamento progressivo da Luz-Verdade-Ser-Realidade é um cuidado constante do sádhaka. Onde o Ser-Real? Que é a Verdade?

O afastamento das nuvens que escondem o Sol é uma aspiração e um ato perene do aspirante.

Meditando, contemplando, estudando, perquerindo, buscando, buscando… o sādhaka pratica svādhyāya.

Outro meio que abre ao sádhaka as portas do êxito espiritual é o entregar-se a Deus.

Íshwarapranidhána é viver confiante, irreversivelmente rendido, dado, entregue à Lei, ao Amor e à Sabedoria de Deus.

É o que pode transformar impotência em Onipotência, carência em Plenitude, tristeza em Alegria, limitação em Infinitude…

Amando, servindo e pesquisando, fortalecendo-se, estudando e entregando-se a Deus, o sádhaka avança para a Glória; conquista a Redenção.

Isso é Yoga.

Prece do yogin

Senhor, estou aqui para adorar-Te em todas as imagens; nos santos de todas as religiões; em catedrais, sinagogas, capelas, mosteiros, mesquitas, terreiros; em ladainhas, terços, mantras, pújás, missas, rituais e ofícios; em todos os altares; nas florestas, nas praias, nas ruas, nas casas, nas estradas, nos corações, em sorrisos e lágrimas, em todos, em tudo…

Vem ajudar-me, dando pureza, infinito, eternidade e universalidade a meu amor.

Eis-me aqui Senhor Jesus, Senhor Buddha, Maitreya, Senhor Krishna, Maria de Nazaré, Ramakrishna, Mahoma, São Francisco, Baha?U?lah, Inayat Khan, Shankara, Ramanuja, Ramana, Santa Teresa…

Eis-me aqui todos os Avataras, Rishis, Siddhas, Gurus, Mahatmas, Hierarcas, Santos conhecidos e desconhecidos…

Quero aprender o Amor que liberta.

Aqui estou, Senhor Supremo, para que me ajudes a vencer a frustradora ignorância; a afastar ilusões, enganos e encantos; a afastar-me dos opostos obsedantes; a retirar a venda de meus olhos… Já não me satisfaz o vulgar conhecer intelectual.

Quero vivenciar a Verdade que liberta.

Eis-me aqui, Senhor, como instrumento impessoal. Querendo apenas servir. Lança mão de mim em Teu divino agir.

Quero aprender a empreender o Agir que liberta.

Faz de minha mente, meu Deus, o Teu sacrário.

Que Tua Paz me domine. Que Tua Luz a ilumine.

Diviniza, Senhor, minha mente.

Eis-me Senhor.

Tu és eu. Eu sou Tu.


॥ हरिः ॐ ॥

Extraído do livro Yoga, Caminho para Deus. 
Digitado por Cristiano Bezerra.
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॥ हरिः ॐ ॥

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3 respostas para “Yoga, Caminho para Deus”

  1. Esse texto foi incrívelmente denso e completo. Preciso lê-lo algumas vezes para absorve-lo por completo

  2. Adorei este site. Estou precisando de orientação sobre quais os ásanas que possam curar meus problemas que são: tendinites nos ombros, síndrome do túnel do carpo e artroses nos joelhos e hérnia de disco na lombar. Sei que a minha cura virá através do Yoga. Ajudem-me, por favor!

  3. Estou perdido, me sinto perdido! Esses últimos dias estão sendo muito difíceis pra mim. Não consigo me concentrar no meu objetivo, no motivo pelo qual estou vivo. Não consigo enxergar nada a minha frente. Tudo me parece tão difícil e escuro! O engraçado é que até algum tempo atrás eu achava que gostava dessas sensações de estar melancólico ou até mesmo triste. Mas agora não quero mais ficar triste, não quero mais ficar tanto tempo no escuro, me cansei de brincar de gostar de sofrer. Tá doendo muito. Enfim, eu sempre fui um amante distante do Yoga. Por isso, venho através deste comentário tentar sensibilizar alguém para poder ser libertado dessa tão devastadora solidão espiritual que sinto! Desculpe a grosseiria, mas esse texto é ótimo. Tão bom que me fez dizer tudo isso antes mesmo de falar dele. Causou um bom efeito em mim! Muito obrigado ao autor pelas palavras!!!! Até mais, Giltamar…

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