Ouvimos dizer, e às vezes repetimos um pouco sem pensar, que há muitas “formas” de Yoga: Bhakti, Jñāna, Karma, Haṭha, Rāja, Tantra e outros.
Assim, o Yoga do Conhecimento seria adequado para pessoas com uma disposição natural para o estudo, enquanto que o Yoga da Ação seria conveniente para pessoas pragmáticas.
O Yoga “físico” estaria indicado para pessoas inquietas ou “dinâmicas”, enquanto que o Yoga “real” seria para gente mais introspectiva, etc.
Esta maneira de classificar e listar “métodos” é abritrária e equivocada. Não obstante, está muito presente na literatura atual de Yoga.
Em verdade, não existen métodos diferentes, mas etapas distintas dentro de um único caminho, que é o processo de crescimento de cada ser humano.
Assim, os assim chamados “métodos” são apenas momentos ou fases dentro desse processo maior que podemos chamar vida de Yoga. Somente existe um Yoga. A esse respeito, diz o Ṛgveda:
“Ó homem que procuras a verdade e a sabedoria,
abre os braços e deixa que o conhecimento
chegue a ti de todas as partes. A verdade é uma e
os sábios irão ensiná-la de diferentes maneiras”.
Por exemplo, na Haṭhayoga Pradīpikā um guia clássico para a prática do Haṭha Yoga de aproximadamente 500 anos atrás, não fica clara a fronteira, se existe uma, entre Haṭha e Rāja Yoga, embora o texto inicie afirmando que o primeiro, “como uma escada”, nos conduz ao segundo.
No entanto, da leitura atenta desse guia, é evidente que ambos, Haṭha e Rāja, são parte do mesmo processo.
Por outro lado, os aparentemente distintos métodos descritos na Bhagavadgītā, Jñāna, Karma e Bhakti Yoga, são em verdade etapas dentro do caminho único.
O conhecimento me ajuda a ver as coisas como são, o Yoga da Ação a agir cultivando as atitudes adequadas e o Yoga devocional a lidar de maneira ideal com os frutos das ações, dedicando-os a Īśvara.
Nessa ordem de coisas há uma forma de Yoga que ocupa um lugar especial: o Bhakti Yoga, ou Yoga devocional.
Este é, claramente, um dos aspectos menos compreendidos e que mais produz distorções no Yoga, já que é o ponto no qual, aparentemente, o Yoga mais se aproxima das religiões.
Essa proximidade dá lugar a maneiras diferentes de olhar para essa peculiar relação que é a relação Yoga-religião.
Aversão a Deus
Nasci numa família em que nunca ouve instrução religiosa de nenhum tipo e, desde a infância, olhei com muita desconfiança para as religiões.
Quando criança, tinha pânico de monjas e nunca consegui entrar numa igreja, tamanho o pavor que esses lugares me provocavam.
Lembro também que havia em casa dos meus pais uma Bíblia com litografias do gravador francês Gustave Doré mostrando o suplício dos pecadores no inferno que só faziam aumentar minha desconfiança, medo e aversão.
Em direção à educação “espiritual”, o mais longe que os meus pais ousavam ir, era no sentido de nos inculcar valores humanos, como o senso de justiça, a decência e a honestidade.
Assim, quando nas minhas primeiras leituras sobre Yoga, no fim da adolescência, soube que o Yoga continha uma dimensão ou um aspecto devocional e imediatamente, aquele velho condicionamento e aquela velha desconfiança, me fizeram ficar na defensiva em relação ao bhakti.
Eu era um “humanista laico” e não ia admitir de mim mesmo uma atitude de fraqueza ou humilhação que me colocasse de joelhos perante um altar.
Meu bom-senso não conseguia aceitar a veneração cega ou a simples ideia de ter fé em algo que não estava vendo à minha frente.
Continuei praticando apoiado na ideia de que outras leituras ou versões do Yoga não exigiam essa fé cega e ao mesmo tempo solicitavam um grande esforço pessoal, tanto no plano físico como no mental.
As formas “técnicas” de Haṭha Yoga foram o maior incentivo para a continuidade das minhas práticas naqueles anos.
Se não houvesse essa possibilidade de abordagem através do esforço pessoal, provavelmente eu teria desistido do Yoga, pois meu intelecto simplesmente não aceitava a ideia de Deus, explicada da forma que fosse.
Na época achava que quem aceitasse a existência de Deus sem a apresentação das provas necesárias, que aliás, nunca apareciam, seria necessariamente alguém irracional e fraco de espírito.
Meu divertimento era provocar os missionários que encontrava na rua esgrimindo a Teoria da Evolução de Darwin e passava bons momentos rindo das explanações que eles davam para tentar rebater o darwinismo. Fazia o mesmo em encontros com devotos do movimento Hare Kṛṣṇa.
Apesar do tanto de insatisfação que sentia em relação ao que as pessoas tinham para dizer sobre devoção às formas divinas, independentemente dos nomes que tivessem, também sentia bastante muita curiosidade para conhecer essas visões.
Com os anos de estudo e prática aprendi a apreciar os arquétipos dos chamados devas, ou deuses hindus, que preferia ver como representações simbólicas dos inúmeros aspectos Daquele que é Uno, a quem me contentava com chamar, no melhor dos casos, o Absoluto.
Com isso, comecei a cantar mantras, mas sempre mantendo aquela velha atitude de rigidez em relação à ideia do divino, bem como em relação ao criacionismo, a teoria que busca explanações diferentes daquelas dadas pela ciência para explicar a criação do cosmos e a existência humana.
Bhakti para desconfiados
A ruptura desse desconforto sobreveio na minha primeira visita ao Swāmi Dayānanda Āśram, em Rishikesh, Índia, há mais de 20 anos.
Lá, senti totalmente saciada a minha sede de conhecimento, respondidas satisfatoriamente minhas perguntas e dúvidas em relação ao Yoga e ao papel das práticas.
Porém, também percebi que os estudantes participavam com muito entusiasmo e a mesma atitude confiante das atividades no pequeno templo de Gaṅgādareśvara, a forma de Śiva como aquele que sustenta o Ganges, que fica de frente para o rio.
Abhiśekam, a aspersão de água benta na escultura de rocha negra, pūjā, a adoração com água, mel, fogo e outros elementos, e a recitação de stotrams faziam parte do cotidiano do lindo templo.
Essas práticas deixavam meu coração bem leve, mas ao mesmo tempo ficava com a pulga atrás da orelha e a sensação de que estava “fazendo concessões” à fé cega que tanto abominava.
Numa visita que fiz ao Āśram um tempo depois, Swāmijī explicou a maneira em que funciona o processo da devoção e, a partir daí, tudo ficou mais claro e aquela incômoda pulga desapareceu para sempre.
Baseado na lembrança dessa instrução, vou tentar colocar esse aspecto do ensinamento no papel, já que ele permanece frequentemente bastante obscuro e, quem sabe, este texto possa ajudar outras pessoas que estejam passando por uma situação similar.
Para tanto, achei que seria uma boa ideia usar um mahāvākyam, uma das grandes afirmações da visão védica, oriunda da Kenopaniṣad, um breve texto de 25 frases que está associado ao Sāma Veda.
Mas, antes disso, pensemos um pouco na veneração nos tempos modernos, já que o bhakti está presente na sociedade de consumo, de uma maneira muito insidiosa e dissimulada.
Ainda, antes de entrar no tema, teremos que fazer algumas explicações necessárias sobre a diferença entre a consciência e o conhecedor.
Que deuses veneramos?
É impossível não venerar. Na sociedade atual todo o mundo venera alguma coisa.
Pessoas veneram dinheiro, poder, beleza, inteligência. Pessoas veneram griffes, bens de consumo, ídolos da música, dos esportes ou do cinema.
Pessoas veneram times de futebol, bandeiras ou partidos políticos. Aquele que venera o dinheiro fica sempre com a sensação de que não tem o suficiente.
Desse sentimento de carência surge a vontade de acumular cada vez mais, num processo que pode se tornar doentio.
Quem venera a beleza ou a juventude irá se achar sempre feio ou imperfeito, e nunca terá sossego. O sofrimento futuro da pessoa é garantido, principalmente quando os sinais de velhice começam a aparecer.
Aquele que adora o poder será sempre um escravo dele, e irá sempre sentir-se fraco, por achar que não tem suficiente, ou por perceber que há (ou houve no passado) pessoas com mais poder.
Quem venera a inteligência irá sempre se achar burro no fundo, e tentará esconder essa burrice dos demais usando um discurso erudito ou desnecessariamente complexo para dizer coisas simples.
Assim, podemos dizer que a sociedade de consumo está baseada na veneração desse tipo de objeto, que parece haver substituído os símbolos e arquétipos usados antigamente pelas religiões.
O problema destas formas de adoração da sociedade moderna não é a adoração em si, nem está nos objetos dessa adoração, mas no fato de que elas são sempre inconscientes.
Quem adora, não sabe ou não admite que adora, e tenta mostrar aquilo que deseja ou tem como algo natural ou necessário.
Porém, acontece que o devoto desses objetos gravita em direção a eles de maneira totalmente inconsciente, e aqui reside a insidia que mencionamos acima: esses objetos se tornam agentes de domínio tirânico sobre a pessoa, e garantia certa de infelicidade.
Portanto, se o ato de venerar é não apenas natural, mas intrínseco ao ser humano, é necessário escolher bem os deuses que serão objeto da nossa adoração. Quais são esses deuses, então?
Consciência, conhecedor e conhecido
Mudando um pouco de assunto, precisamos agora pontualizar algumas questões em relação ao status do conhecedor e o daquilo que é conhecido para melhor compreendermos a relação entre o devoto e o objeto da devoção.
Digamos que eu esteja tendo uma percepção visual e fecho os olhos. Não deixo de existir por isso, embora o conhecedor que eu sou deixe de usar momentaneamente o instrumento de conhecimento que é o olhar.
Ao fechar os olhos, não me torno não-existente. Continuo sendo, embora com os sentidos suspensos. Deixo de lado a capacidade de conhecer, mas continuo existindo como consciência.
Esse “continuo existindo enquanto consciência” é o que chamamos de conhecimento, ou princípio conhecedor.
É por isso que dizemos que não há diferença entre Brahman e Brahmavidyā, entre o Ser e o conhecimento do Ser.
Assim, o pramātā, o conhecedor, em sua natureza original, é a Pura Consciência.
Agora, repare que o conhecedor desfruta do seu estado de conhecedor, apenas quando há um objeto para ser conhecido.
Vejamos isto com um exemplo: um professor só é professor quando tem alunos que queiram fazer aula com ele.
Enquanto ele está dando a aula, ele é o professor. Quando os alunos vão embora, ele continua existindo enquanto pessoa mas sem o status de professor.
O professor só existe pela graça dos seus alunos. Sem alunos não há professor.
Quando os estudantes deixam a sala, o professor continua existindo, desprovido da sua função de ensinar.
Similarmente, Ātma tem dois status diferentes, um natual e um circunstancial:
1) o status intrínseco a Ātma é chamado cit, consciência,
2) o status incidental de Ātma é chamado pramātā, conhecedor.
Ātma é consciência, e “desfruta” do status do conhecedor através das experiências.
É por isso que todas as experiências são experiências de Ātma: acordado ou sonhando eu sou o conhecedor.
Dormindo, sou a consciência, pois não estou tendo experiências ou pensamentos de nenhum tipo.
É para isto que aponta o mahāvākyam da Kenopaniṣad que mencionamos anteriormente e que se repete nos últimos cinco mantras do primeiro capítulo desta obra.
Ela diz tad eva brahma tvaṁ viddhi nedaṁ yad idam upāsate: “Você é este Brahman, e não aquele que as pessoas veneram”.
Para melhor compreendermos este mahāvākyam, precisariamos, seguindo a sugestão de Swāmi Dayānanda, fazer uma pequena reconstituição de texto ao traduzir este verso, acrescentando três palavras no final:
“Você é este Brahman, e não aquele que as pessoas veneram [como um objeto]”.
Agora, como se vincula a afirmação inicial deste mahāvākyam, “Você é este Brahman” com a porção final do mantra, “e não aquele que as pessoas veneram”?
O Ilimitado não pode ser venerado
Qual é a diferença entre uma vítima do consumo que adora griffes e um devoto ajoelhado frente ao altar? Essencialmente, depende da atitude.
A priori, se a atitude for a mesma, não há diferença entre o fashion victim e o devoto cego: ambos se prostram perante seus objetos de desejo; ambos buscam se completar ou acabar com a sensação de vazio ficando próximos do objeto escolhido.
A veneração de alguma das múltiplas formas de Brahman como um objeto é tão equivocada como possa ser a tentativa de conhecer Brahman como um objeto.
Brahman é o sujeito que observa e, portanto, não poderá nunca ser um objeto observado. Assim, Śiva não é um objeto, Sarasvatī não é um objeto, Gaṇeśa não é um objeto.
Quando você faz uma prostração frente a um altar, você não está reverenciando nada diferente daquilo que você é.
Bhakti dual, bhakti não-dual
O devoto adora seus deuses, mas qual é o lugar que ocupam esses deuses na prática de Yoga?
Noutras palavras, quem é “aquele que as pessoas veneram”? Por que fazemos pūjās para Kṛṣṇa, Gaṇeśa, Sarasvatī?
Como interpretar essas pūjās à luz da Upaniṣad? Rāma, Śiva, Lakṣmī, são Brahman ou não? Depende de como você interpretar estes nāmarūpas, estes nomes e formas.
Quando você se refere a Rāma, por exemplo, você se refere à mūrti, à escultura que está vendo à sua frente, a um objeto do seu conhecimento ou ao princípio da Pura Consciência?
Rāma não é um objeto que você adora. Senão, ele seria apenas o objeto de uma experiência, um prameya, portanto.
Assim, o Rāma que você experiencia não é Brahman. O Kṛṣṇa que você experiencia não é Brahman. O Gaṇeśa que você experiencia não é Brahman.
Seja o que for que você tenha adorado, esse objeto da sua adoração, seja qual for, não é Brahman.
Em todos os casos, esse objeto é um prameya, algo conhecido, e não o pramātā, o conhecedor, que é a realidade última.
Então, por que existem esses devattās? Os devas tem a função de nos indicar Brahman. Eles são lakṣaṇas, são indicadores para Brahman, como as placas de uma estrada.
A placa na estrada não é o lugar onde você quer chegar, mas indica a direção na qual esse lugar se encontra.
As escadas não são o andar de cima da casa, mas sem elas você não chega lá.
Você não pode dispensar as escadas para chegar no andar superior, assim como não deve dispensar as placas na estada que lhe indicam o caminho.
Então, essa adoração que chamamos Bhaktiyoga tem a função de nos preparar para a compreensão de Brahman.
Sem os devas, que são mithyāḥ, portanto, não chegamos em satya, no real. Kṛṣṇa, Śiva, Sarasvatī, só serão realmente adorados e compreendidos quando conhecidos como o Eu, como o pramātā que possibilita os prameyas, o conhecedor que possibilita as cognições.
Assim, no estágio inicial, Gaṇeśa, Śiva, Lakṣmī, são objetos do nosso conhecimento. No estágio final, eles são o sujeito que conhece.
No estágio inicial, o bhakti é conhecido como dvaitabhakti, devoção dual (eu ≠ ele). No final, o bhakti é conhecido como advaitabhakti, devoção não-dual (eu = ele).
Somente no advaita bhakti Īśvara é real. Nas outras formas preliminares, Īśvara é mithyāḥ, é falso, sem importar o quão impressionantes possam ser seus darśanas, suas visões ou êxtases meditativos.
Essas visões não tem nada a ver com a Realidade de Brahman.
A realidade é Brahman e a verdade é que Brahman não pode ser visto. Assim, você pode tirar seu cavalinho da chuva em relação a buscar uma experiência de Brahman.
Para bem e para mal, você já é esse Brahman que possa estar buscando nas experiências, sejam sagradas, sejam profanas.
Você não pode negar isso, mesmo que queira, pois essa é a sua natureza real. Boas práticas. Bom bhakti para você.
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Muito bom, Pedro, me esclareceu muito, como sempre.
Obrigada, mais uma vez, e grande abraço pra vocês.
gratidao percorre o caminlho na esperança que todos chegue a iluminação que guia
gratidao wagner xavier
Uma visão nada piegas, extraordinário! Obrigada pela perspectiva de puro conhecimento e reflexão!
interessante o artigo,mas como o yoga é uma experiência pessoal e que depois se compartilha,sinto falta da aceitação das experiências compartilhadas por aqueles que se realizaram em bhakti yoga, e só reafirma que yoga é pessoal e muitos poucos podem fechar as afirmações como verdades absolutas.Acompanho seu trabalho e suas palavras são muito importantes para mim,mas nesse artigo que já tem alguns anos parece-me ainda que bhakti não se revelou ,mas seguimos buscando pois no final é individual mesmo
Thelma, desculpe se eu parecer arrogante em meu comentário – acredite, a ideia é apenas levá-la a um questionamento. Enfim, pelo que você diz, acredito que talvez você mesma é que ainda não tenha experienciado Bhakti. O que ele diz no texto, é que a real experiência de Bhakti se dá quando chegamos à percepção de que todos esses deuses e deusas não são nada menos que representações de nós mesmos, e que por esse motivo, não há como nem porque adorá-los. Essa realização a que você se refere, eu suponho que seja o sentimento de amor e extase que experimentamos quando nos colocamos de coração aberto nas práticas devocionais. Mas isso é o mesmo que acontece dentro das religiões, num momento de orações, cânticos e adorações, pois essas práticas mexem profundamente com nossas emoções, pela vibração elevadíssima das energias que emanam. Porém, ter essas experiências não significa que de fato houve a realização da unicidade com o todo, de compreender e sentir que você é o próprio Brahman. Eu já fui muito religiosa e tive muitas experiências desse tipo tanto quando frequentava a igreja, como em kirtans de yoga, meditações etc. São todas maravilhosas e nos enchem de paz e amor. Mas te GARANTO uma coisa. NADA disso se compara à experiência de se perceber como Brahman. E o dia que isso acontecer a você, caso não tenha acontecido ainda, pode ter certeza que a mensagem desse texto será para você tão clara como água. Grande abraço.
Como chegar a essa meta?Gostaria muito de alcançar a realização de Deus.Tem alguma dica , algum verdadeiro mestre que conheça?
Me tornei Ateu após me dedicar em algumas religiões e pela militancia em questões sociais do dia-a-dia. Analiso a religião como ideologia criada pelo ser humano com a finalidade de obter privilegio para explorar, violentar, enganar, omitir, manter poder politico, pessoal e de uma pequena minoria “iluminada” se não “escolhida”.
Estorquindo espiritualmente, patrimonialmente, intelectualmente, emotivamente. Usando da ignorancia, medo, passividade de um povo, impondo rituais impraticaveis mesmo pelos que a criaram e por ai vai.
A espiritualidade não é uma questão de deus para o homem, não foi deus que se revelou primeiro é uma questão natural do ser humano, foi o ser humano que criou os primeiros mitos para tentar explicar sua existencia.
Onde havia dúvidas acerca dos mistérios da vida e da morte, dos fenomenos do dia a dia, preenchia-se com mitos, lendas, alegorias… E quem forjava essa pseudo resolução conseguia destaque confirmando assim a vontade “divina” revelada ao ser humano privilegiado, diferente dos seus, o primeiro entre seus pares e superior aos outros.
Tenho estudado as escrituras clássicas do Yoga, tanto quanto possivel em espanhol, ingles e portugues, mas em relação ao Bhakti ainda preciso resignificar não apenas para mim, mas amadurecer para refletir com meus alunos. Entendo Iswara como a natureza perfeita humana, o ser humano em sua potencialidade desenvolvida ao maximo.
Não acreditando em reencarnação, não vejo importancia em ser absorvido pela “divindade” nessa vida e fugir ou ser retirado da humildade e funcionalidade pra humanidade que o Karma Yoga proporciona e muito menos em “outras vidas”.
O principio de reencarnação que eu entendo é o material genetico que se transcreve, replica e muta para manutenção da humanidade. Mas existem pessoas que afirmam ter experiencias de vidas passadas? Ai isso é outra história. Não estamos ligados todos a uma única fonte? Consciencia Coletiva?
Não poderia um yogui em Samadi vislumbra-la? O que me garante que as experiencias que tive de vidas passadas são realmente minhas ou adquiridas desse coletivo? O Yoga possui o objetivo de romper com as questões de passado ou futuro, pouco importa a reencarnação.
Na verdade, muitos yoguis usam essa desculpa para “Tamascisar” ou “Rajacisar” suas vidas, o Satva que é bom, nada. Fora as questões do “mestre” espiritual que se manifesta para dar instruções, nem vou comentar.
Existem homens e mulheres que estudaram, experienciaram anos de yoga e é nosso dever ouvir o que tem a dizer e discernir, praticar, experienciar e confirmar ou não o que é dito.
Por isso pratico hatha yoga para ter longevidade,boa saúde física e mental, raja pra me livrar de condicionamentos, Karma pra servir nos altos ideais humanos e Jnãnã pra compreender as verdades contidas na natureza.
Houve uma época numa sociedade comum onde todos podiam se relacionar com a natureza e investigar suas leis, sem privilegios e suas consequencias nefastas. Afinal? Não somos todos iguais?
Espero ver um yoga futuro possivel, acessivel e resignificado conduzindo o ser humano a uma verdadeira libertação, livre de condicionamentos, ideologias, preconceitos, ignorancia, de si mesmo, de seus pares e que o ser humano possa compartilhar o melhor de si com todos e vivermos a tão almejada paz como uma só familia, se yoga não é isso? O que é então?
Obrigado por oportunizar essa reflexão pessoal prof Pedro,
Abraço
Om Shanti
Olá, gostaria de conversar mais contigo, me identifiquei com sua experiência. Você tem e-mail?
Caro Pedro.
Não acho que esteja tão clara suas colocações em relação a Bhakti. Conhecer Bhakti requer praticar Bhakti dentro de um processo fidedigno de Bhakti-yoga. De qualquer forma, o texto mostra profundo estudo.
Namaskar!
Alô, amigo! A título de exemplificação, só para ilustrar a universalidade do que você diz, relato duas experiências minhas: em criança, muçulmano de família devota, em Túnis, perguntei ao meu avô porque faziamos salat, se Deus era onipotente e certamente não precisava disso. Meu avô respondeu que era para que nós não nos esquecêssemos nem da distância que havia entre nós e Deus, nem que, na verdade, não havia distância alguma. Mais tarde, aluno do São Bento, aqui no Rio, sempre curioso, perguntei a Dom Cipriano porque os católicos assistiam missa, comungavam… E ele me disse que era para que se assemelhassem àquilo que faziam. Minha conclusão, aos 10 anos foi que tudo é caminho, mas as diferentes formas de devoção são atalhos muito convenientes… Um ótimo 2013 para todos!
Fico muito feliz em saber que a interpretação que faço do caminho da devoção se encontra em conformidade com seres de tamanho discernimento.
Gosto de pensar nos devas e nos gurus como espelhos. Ao observarmos um espelho, vemos uma realidade projetada por nossa mente. Vemos refletido nele alguém com nome, idade, sexo, origem, história, pensamentos, sentimentos…
Observando cuidadosamente o espelho, percebemos que se pudéssemos dizer que há alguma percepção inerente ao espelho, constataríamos que para o espelho só há luz.
Porém, ao dizer que o espelho só percebe luz ainda estaríamos refletindo nele nossa mente e não atingindo a realidade em si. Indo além, chegamos ao ponto em que não há mais diferenciação, pois não há o que se diferenciar, nem ferramentas de diferenciação.
Não há luz, nem espelho, nem observador.
Namastê.
Exatamente sinto isso, nascida num lar ateu e comuna, graças ao “deva Karl Marx”, nunca adorei nada relacionado as religiões e também fui sempre desconfiada. Mas é um assunto que me atrai e tenho curiosidade sobre as religiões como forma de estudo. Eu gosto das imagens Hindus, meu carro está todo enfeitado e isso me alegra e agrada. Mas sei que não é isso que “give me salvation”.
Meu livro de bolsa, pois não cabe no bolso é “PROBLEM IS YOU, SOLUTION IS YOU” do Swami Dayananda. Que senso de humor, que simplicidade , que óbvio difícil de resolver, mas esclarece um monte de coisas num livro tão fininho e com letras grandes. E aqui no yoga.pro muita LUZ brilha!
Merci Pedrô!
Ola! Aonde encontro este livro? Tem traducao para portugues?
Exatamente sinto isso, nascida num lar ateu e comuna, graças ao “deva Karl Marx”, nunca adorei nada relacionado as religiões e também fui sempre desconfiada.
Mas é um assunto que me atrai e tenho curiosidade sobre as religiões como forma de estudo. Eu gosto das imagens Hindus, meu carro está todo enfeitado e isso me alegra e agrada.
Mas sei que não é isso que “give me salvation”. Meu livro de bolsa, pois não cabe no bolso é “PROBLEM IS YOU, SOLUTION IS YOU” do Swami Dayananda.
Que senso de humor, que simplicidade , que óbvio difícil de resolver, mas esclarece um monte de coisas num livro tão fininho e com letras grandes. E aqui no yoga.pro muita LUZ brilha!
Merci Pedrô!
É impressionante como eu encontro textos que iluminam várias dúvidas minhas. Durante minha adolescência, tive fases em que mudava de religiões com muita frequência. A última religião que estudei / pratiquei foi o budismo.
Devido a desentendimentos que tive com alguns praticantes (hoje tenho a maturidade de dizer que eu também tive minha parcela de culpa), acabei abandonando o budismo e mantive durante alguns anos a mesma atitude que o Pedro, uma atidude de aversão a religiões institucionalizadas.
Recentemente (há cerca de 01 ano), tive um período de depressão profunda, causada por estresse, síndrome do pânico e que foi agravada pelo falecimento do meu pai. O que me salvou foi o livro do meu ‘guruji’, prof. Hermógenes, “Yoga para Nervosos”.
O estudo do Yoga e do Vedanta (escuto os áudios do Miguel Homem no site do Dharmabindu) salvaram minha vida e me deram um novo conceito de religião. Hoje em dia percebo que, sendo um caminho espiritual autêntico, é possível desenvolver diversas virtudes como paciência, compaixão e capacidade de perdoar.
Em relação a isso, o yoga e as religões são excelentes ferramentas.
Namaste Pedro! Tinhas razão, ñ importa por quantas upanishades passamos; mas sim quantas passam em nós e sem duvida que a Kena Upanishad tira a pulga da orelha e muitas outras coisas 😉 Tum he bhaja re Rama, Tum he japa re Rama, Om Sri Ram jay Ram japa re Rama! Excelente artigo, obrigado. Abraço!!
Ótimo artigo e reflexão,Pedroji!
Me faz pensar no seguinte: É o degrau (muito dificilmente comensurado!) de devoção que determina a qualidade do devoto… Falando nessa diferenciação entre dvaita/advaita bhakti , novamente fica estabelecido um paradigma dual ou racional em relação a um estado que situa-se além do patamar de conceitos ordinários ou mesmo escriturais.
A idéia de Para-Bhakti me parece mais adequada, enquanto sugere um estado que transcende as visões “contraditórias” dentro das muitas escolas do Vedanta. Sem mencionar a relação especial com Bhagavan, presente na sampradaya(Vaishnava) de Ramanuja Acharya, na qual Ishwara possui um significado secundário.
Por exemplo: ao relacionar-se com o aspecto mais íntimo de Bhagavan, Brahman revela-se em ambos aspectos – pessoal e impessoal – dependendo da natureza do sadhaka. Com a ressalva que o devoto em geral prefere “provar o açúcar” ao invés de “tornar-se o açúcar”.
A mesma relação é observada dentro das escolas Shaiva (Trika e Shaiva Siddhanta) onde Shiva(enquanto Deus) equivale a Brahman, sem a veemente negação “neti-neti” tão característica do Kevala Advaita Vedanta de Shankaracharya ,na qual o “arquétipo” de Shiva deveria ser descartado. Idem para os Shaktas em relação a Mãe Divina (Devi Ma).
Tento dizer que ao considerarmos a experiência de “advaita bhakti” superior a da sua irmã “dvaita bhakti”, talvez estejamos menosprezando o fator mais importante do Bhakti Yoga em si, que é o amor supremo e a entrega – sharanam – exaltada a Deus,não importando as formas com as quais este é expressado – shanta bhava, dasa bhava etc. que são por sua vez meros veículos para Prema Rasa Bhakti, a experiência extática devocional. Por isso me parece delicado abordar Bhakti com um uma atitude Jñani…
Embora ambas estejam em rumo a uma convergência final, o curso natural de cada uma ainda é homogêneo, caracterizando os diferentes tipos de personalidade com seus devidos pacotes “sub-aversivos” – raga-dvesha “de fábrica”.
Você deve conhecer a história de Ramakrishna Paramahansa,que após todas as suas experiências devocionais intensas, submeteu-se ao Guru Totapuri no intuito de transcendê-las definitivamente.
Nesse quesito,Totapuri teve de cravar um pedaço de vidro entre as suas sobrancelhas, para que ele ficasse absorto no mais puro estado de Nirvikalpa Samadhi – tendo assim a plena experiência de Brahman!
Mas este mesmo Ramakrishna, em seu leito de partida, disse ao seu discípulo Narendra(Vivekananda): “Neste corpo estão Rama e Krishna, porém não na sua concepção (advaita) vedântica”. Enfim,que possamos experimentar qualquer um destes nobres estados com devoção genuína e humildade em nossos corações…
Um abraço;
Om Shanti
Gopala.
Pedro,
Por que você nunca menciona a Kundalini Yoga, ao mencionar diversas linhas de yoga?
De qualquer modo, simpatizei com a idéia de etapas distintas no caminho do yoga.
Ab.
Pedroji!
Excelente artigo! melhor explicação que já vi sobre a função da devoção. Me lembro que fiquei com a pulga atrás da orelha também no Ashram. Não muito chegado a dogmas, tive a alegria de ouvir as explicações do Swamiji e comecei a entender melhor a questão. Mas esse artigo realmente põe mais pingos nos is. Obrigado e Namatê!