Ver uma injustiça e calar-se é ser cúmplice dela.
Aqueles que nasceram na segunda metade dos anos 60, devem ter visto o filme Horizonte Perdido, que retratava uma sociedade utópica nas montanhas geladas do Tibet. Nos meus cinco anos de idade, o filme marcou de uma tal forma que quando meus pais me repreendiam por algo que eu havia aprontado, não relutava em resmungar: Vou embora para o Tibet…
Tibet era a minha Pasárgada, e lá eu seria amiga do rei e viveria feliz para sempre, já que o filme mostrava um lugar onde as pessoas não envelheciam nunca. De repente, me pego sentada diante da TV, coisa cada vez mais rara, e ouço a jornalista noticiar a repressão chinesa aos protestos dos tibetanos.
Não pude continuar a assistir sem ser tomada por uma revolta que me silenciou e tirou o sono pelo resto da noite. É aí que entra a empatia, tendência para sentir o que se sentiria se estivesse no lugar da outra pessoa, e a vontade, ou melhor, necessidade de me posicionar. Calar é ser cúmplice: este pensamento zumbiu em meus ouvidos durante toda a noite.
Sou católica por formação, como a maioria dos brasileiros, mas admiro e tento seguir os preceitos da filosofia budista. ‘Minha religião é a da compaixão’, diz o Dalai lama e eu faço minhas as suas palavras…
No momento em que vi as imagens dos protestos na TV, imediatamente pensei no que teria levado monges e monjas, cujo voto espiritual é manter a paz e aliviar o sofrimento de todos os seres sencientes da terra , a protestar nas ruas contra o um governo repressor?
Só pode ser porque chegaram a um limite insustentável, uma vez que a luta e o trabalho do Dalai Lama no exílio é exatamente no sentido de manter a paz e garantir a liberdade em seu país ocupado pelos chineses. Algo que não vem sendo respeitado e ninguém faz nada, porque não interessa a nenhum país ir contra os interesses da China.
O governo chinês diz à imprensa que está apenas reagindo às arruaças com uma repressão moderada… Como assim, repressão moderada? Nenhuma repressão é moderada…
Se o Tibet é, como os chineses reivindicam, território da China, por que então existe um exército de ocupação no território??? Apenas a China tem esta convicção. Na realidade, o Tibet é uma nação independente, sob ocupação ilegal.
A prova disto é que expulsaram do país os jornalistas e turistas estrangeiros que poderiam tornar pública a política de repressão que prende, tortura e mata aqueles que protestam.
A China sempre foi expansionista e tem tradição de grandes massacres, não esqueçamos os massacres de Xangai em 1927, no qual milhares de comunistas foram trucidados pelos soldados do Kuomintang, dando início a uma cruel guerra civil. E não esqueçamos também o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, onde foram mortos milhares de civis.
Há muito mais interesses na ocupação do Tibet do que pode imaginar nossa vã filosofia. Mascarado sob o manto da proteção de um povo que vivia oprimido por uma teocracia feudalista, o interesse da China pelo Tibet é puramente econômico e estratégico em sua política expansionista: o Tibet é o maior produtor de urânio do mundo. Urânio:matéria prima para a fabricação de reatores nucleares.
A China chegou a uma população de 1,3 bilhão de habitantes e o Tibet tem uma área que corresponde ao tamanho da Europa ocidental. Logo, deve-se povoar a região com colonos chineses. E para finalizar, o Tibet ocupa uma posição estratégica. Está situado na fronteira com a Índia.
Alegando tirar o Tibet do ostracismo, os chineses construíram uma malha ferroviária facilitando a comunicação com a China, que na verdade, serve para o transporte de colonos chineses para a área, com o objetivo de ocupar postos de trabalho, que seriam dos tibetanos. Estas estradas de ferro vem destruindo as reservas naturais do planalto tibetano, contribuindo ainda mais para a perda de cultura e da identidade daquele povo.
Os chineses alegam que os protestos recentes foram feitos com o objetivo de boicotar os jogos de Pequim. Que seja! Quem sabe assim este povo sofrido tenha alguma visibilidade na mídia internacional? Afinal, quem pode pensar em jogos quando milhares de pessoas morrem por intolerância religiosa? Fosse de peste, de terremoto, furação ou outro desastre ecológico, ainda poderíamos ficar resignados em nosso impotente silêncio… mas por intolerância?
Então a humanidade proclama para si poderes quase divinos ao criar a vida artificialmente e ainda mata por intolerância?
O governo tibetano no exílio em Dharamsala, na Índia, vem insistentemente tentando manter o diálogo com a China, não no sentido de reivindicar a independência, mas a autonomia. Em 1989, por causa de manifestações como estas, foi instaurada a lei marcial no país e interrompidas as negociações com o Dalai lama. Enquanto isto, os tibetanos viraram mendigos em seu próprio país.
O plano de paz do Dalai reivindica apenas que o Tibet seja designado zona de paz e que os direitos humanos e ambientais sejam respeitados, assim como a liberdade religiosa. Mesmo à distancia, o Dalai lama mantém o povo tibetano coeso e dá voz ao sofrimento da população que, de outra forma, provavelmente teria sido dizimada pelo governo chinês.
A comunidade internacional tem o dever de se intrometer nesta questão, pressionando a China a devolver a liberdade aos tibetanos. Não podemos esquecer que defender o direito de um governo ocupar um país, deve ser entendido como aceitar que seu próprio país seja ocupado por outros. Não esqueçamos nunca da compaixão, da empatia.
Namaste!
Que bom, Tereza, ver seu texto tão bem elaborado, expressando nossos sentimentos yóguicos e empáticos pela situação de um país que vem sendo vilipendiado por décadas.Parece-nos que é pouco o que podemos fazer para modificar essa situação, além de assinar a petição on-line e nos solidarizarmos mentalmente com o Tibet.
Como sabemos, a mente cria o mundo de maya e assim vamos em yoga vibrar para que todas as situações de extrema injustiça nesse planeta possam ser transmutadas por sentimentos mais humanos, já que para se alcançar a divindade temos que fazer uma humanidade bem feita e isso é nossa total responsabilidade – nosso dharma
super namastê
Plenamente, e isso é ser yogi. Refletir, pensar, agir com devoçãop a verdade. Diferente de milhares de companheiros praticantes, vc nos da um exemplo Teresa, o Yoga propoe tbm profunbdas reformas sociais, e pensar o de dentro é estar comprometido com o transformar o de fora, é perceber qdo teu mat te diz: – Vc anda conformado demais, entorpecido, inebriado pelo cheiro dos insensos e se esquece que as ruas, pessoas e egos tambem fedem.
Ahimsa , satya, não são sonhos utopicos, não são somente belos em discursos.São reais a medida em q assumimos o nosso envolvimento com a repressão por parte do governo chines para com o povo tibetano tanto qto com o nosso povo sendo massacrado por fome, de alimentos, de amor de transformação radical.
Não sei, talvez soe muito confuso mas, realmente se pratica Yoga hoje em dia? Dêem-me uma luz…
Olá Tereza,
Meus parabéns pelo ótimo texto e, além disso, pela atitude de apresentar aos leitores um pouco do cenário da geopolítica mundial e principalmente por mostrar o que é a prática do Yoga. Pode se dizer que, de um modo ou de outro, a China não só está perdendo suas raízes culturais como também está desrepeitando a memória de seus sábios: Confúcio, Lao Tsé e até mesmo Sun Tzu (“O objetivo da guerra é a paz” “O General supremo é aquele que vence mil batalhas sem lutar sequer 1 vez”). Entendemos o caminho que o Dalai Lama quer seguir (semelhante à Gandhi) mas também compreendemos o que o povo do Tibet está passando e basta lembrarmos a mesma atitude que Jesus teve perante ao “covil de ladrões” que se encontravam na porta da casa de seu pai. Tereza, meus sinceros agradecimentos pela aula de karma yoga! Namastê!
Está online uma petição para que a Assembleia da República aprove, de acordo com os princípios fundamentais consagrados na Constituição da República Portuguesa, uma moção de censura à sistemática violação dos Direitos Humanos e das Liberdades Política e Religiosa no Tibete, por parte do Governo Chinês. Assine!
http://www.petitiononline.com/Tibete08/petition.html
Namaste!