O slackline é uma modalidade esportiva que surgiu entre escaladores de rochas, no tempo ocioso que tinham ao esperar as condições ideais para as escaladas. Apareceu como uma forma de treinar o equilíbrio e aumentar o condicionamento físico.
Tudo o que se precisa para praticá-lo e uma corda, esticada entre dois pontos fixos. O desafio é equilibrar-se e caminhar sobre esta fita pelo maior tempo possível.
Os experts dão saltos mortais, andam de costas e fazem posturas invertidas usando apenas a fita como apoio. Andar num slackline nos coloca diante de desafios, literalmente, a cada passo.
Você nunca sabe se no próximo movimento, seu pé vai escorregar, seu joelho fraquejar, o pé pisar meio torto, sua mente escapar por um segundo e você vai se desequilibrar e cair.
Mas é possível evitar a queda usando jogo de cintura, literalmente, pois esta é uma brincadeira que trabalha muito os músculos das costas, do abdômen e do tórax, além de pernas e pés.
Diante do desequilíbrio, usamos o jogo de cintura para recuperarmos o equilíbrio e não cair. Balançamos para um lado e para o outro, ficamos numa pena só, quase desistimos, o tronco vai para um lado, as pernas para outro, mas de repente, o esforço, a persistência, o tapas traz o resultado esperado: não cair!
Seguimos em frente, confiantes, mas atentos ao momento presente porque qualquer energia mal direcionada pode nos derrubar. Fraquejamos por um momento, mas estamos novamente de pé. Novamente unidos. Novamente em Yoga.
Os pedaços que, separados, não conseguem formar um todo, nem se equilibrar, se juntam novamente e, mais uma vez, seguimos de costas eretas em direção ao nosso objetivo: chegar do outro lado. Seguimos inteiros, coesos, integrados.
Sthirasukham. Firmes, mas sem perder a doçura! Até que nossa rebelde mente, dona de muitas verdades, começa a se manifestar, mesmo estando suspensos e equilibrados numa fita que não tem mais do que três centímetros de largura.
Ela, a mente puxa nosso tapete, ou melhor, a fita debaixo dos nossos pés, viajando para lugares paradisíacos, para a onda perfeita, na praia perfeita com o sol perfeito e a pessoa perfeita, ou para a montanha mais alta, do lugar mais incrível, ou até para um filme, uma música,
um poema, uma fotografia.
E novamente, o desequilíbrio. As boas lembranças nos tiram do eixo, do centro, porque são memória, são passado e para estar em equilíbrio, preciso estar presente agora! A respiração nos traz de volta ao presente e a fita, onde devemos nos manter em equilíbrio, lembra?
Seguimos em frente, contentes e coesos por termos domados a sequência infinita de lembranças que ocuparam nossa mente por um minuto e quase nos derrubou. Então ela, a mente, usa de outra artimanha, ardilosa que é, vai para lugares de medo, um tombo, um fracasso, uma briga, uma saudade, uma separação…
Todas as lembranças ruins podem nos jogar no chão porque o desafio na fita, como na vida, é manter o equilíbrio, é se manter de pé e firme, porque conseguimos perceber que não somos os pensamentos nem as emoções que estão dentro de nós o tempo todo, mas somos aquele que é a causa do sentir e do pensar.
E aquele que está por trás de quem sente e pensa, é o presente, é o equilíbrio, é aquele que comanda os pés. E todos os musculos do corpo mais a mente e a atenção focada no presente, fazem com que o corpo atravesse a linha, de forma firme e doce, até o fim, sem cair!
Todos temos a inteligência para atravessar as linhas que aparecerem nas nossa vidas. Precisamos saber é se temos vontade. Nosso dharma, nosso dever, missão neste corpo, neste mundo e nestas condições
é fazer o que devemos fazer.
E o que devemos fazer diante de um jogo é jogar. Penso na fita como na trajetória da nossa vida. Aprendemos a andar e a nos relacionar com as pessoas e o mundo e neste re-lacionar-se, aparecem pedras e atalhos; correntezas e inundações, coragem e medo.
Podemos, diante da fita, e normalmente o fazemos, colocar apenas o primeiro e pé e deixar o peso do corpo para trás e ficar com medo de ir em direção ao desequilíbrio, ou melhor a um outro tipo de equilíbrio.
Diria até que quando nos entregamos ao desconhecido, e no caso, a fita, alcançamos o equilíbrio total, completo, onde mente e corpo devem estar unidos e presentes.
Podemos, diante da fita, como Arjuna no campo de batalha, querer recuar. E podemos até voltar atrás e desistir, porque, diferente de Arjuna, não somos da casta dos guerreiros e nossa profissão não é lutar.
Mas aí não estaríamos fazendo parte do jogo. A fita, a prancha, a montanha, a batalha, são apenas metáforas da guerra maior: aquela que lutamos diariamente contra nós mesmos. E o nosso campo de batalha: a cama, a casa, o trabalho, a cidade, a rotina. Talvez isso seja iluminar-se. Namaste.
Genial comparação, se é que posso dizer isso, pois a vida é isso, uma corda bamba, que desde o começo meio do caminho e fim, pretendemos começar e encontrar o equilíbrio e a iluminação, parabéns pelo texto Tereza, salvei como favorito. Luz!
Namasté!
Sim, Maria Teresa, minha chará!
Porque apesar destes pequenos samadhis que nos mostram como seria fantástico viver o tempo todo presente no momento presente, eu sou cheia de contradições, apegos e medos!
Obrigada pelo comentário! namaste… Igor, obrigada!
Era isso que eu queria fazer: comparar a prontidão do slack line com a nossa vida! Sthiram e sukham: firmeza e doçura!
Obrigada. namaste…
Bruno, sem palavras. :))
Obrigada.
Também sinto assim… e treino na corda da vida, todo dia!
Namastê
Grata por seu texto! uma questão: as vezes no meio da tua trajectória nunca sentiu vontade que alguem pegasse ao colo para descansar um pouquinho..
Um abraço
Namasté
Nossa que reflexão linda ,comparação perfeita com as nossas vidas ,achei exata as comparações entre nossas vidas , se equilibrar e perder o equilíbrio.
Ótimo texto! Até me arrepiei:)