Devemos viver todas as experiências possíveis antes do Yoga?
Algumas pessoas pensam que devemos viver todos os prazeres possíveis antes de dedicar-nos à espiritualidade. Essa é uma crença bastante espalhada e comum.
Isso acontece porque algumas pessoas que começam essa caminhada acabam fazendo exatamente o contrário do que pregam: deixam-se levar pelas paixões exacerbadas quando supostamente deveriam ser contidos, acumulam imensas fortunas quando deveriam cultivar a simplicidade e coisas do gênero.
Daí, com algum direito as pessoas pensam: “ele fez isso porque não viveu o suficiente número de experiências mundanas antes de dedicar-se à espiritualidade”. Porém, essa ideia é uma falácia. Parece verdade mas não é.
Na medida em que realizamos ações, criamos novas condições para fazer outras novas no futuro próximo. O apego às memórias passadas nos prende nos condicionamentos.
O nosso karma pode ser prazeroso ou doloroso. Mas nós mesmos é que escolhemos, em todo caso, o que fazemos com ele.
É preciso discernir as coisas: em primeiro lugar, há uma situação kármica, que pode ser prazerosa, dolorosa ou uma combinação de ambas.
Porém, sempre podemos escolher se e como, a partir desse setup, vamos continuar alimentando esse círculo ou não. A ignorância existencial é a coisa mais medonha. Mas não precisamos tornar-nos vítimas dela.
Qualquer um pode cair. Qualquer um pode se deixar arrastar pelas fraquezas. Porém, se mantivermos um coração limpo e clareza nos nossos propósitos e intenções, nada poderá nos demover do nosso objetivo.
Então, o que “devemos” fazer?
O primeiro passo é fazer as pazes com o próprio karma. Não se sentir culpado nem vitimizado por ele. Depois, é necessário considerar a importância da renúncia. Renúncia, no sentido de suavizar a ideia de que precisamos viver para satisfazer os sentidos.
Depois, é recomendável desenvolver curiosidade, foco e motivação para compreender o que é melhor para nós e agir em consequência: se vamos vezes e mais vezes nos deixar arrastar pela ânsia de satisfazer os desejos e as experiências sensoriais, ou ainda, se nos mantemos dispostos a crescer através de e para além deles.
Noutras palavras, nos manter focados em cultivar bons hábitos, saudáveis e construtivos. Colocar as prioridades em primeiro lugar, em suma.
Somos ao mesmo tempo vítimas da identificação com o corpo e do nosso desleixo em relação a ele. É por isso que acreditamos que seja necessário priorizar as coisas. Não nos deixemos levar pelo apego.
Não vivamos focados unicamente no prazer sensorial. Isso é perder o tempo. Afinal, viver para satisfazer os sentidos acaba sendo uma autopunição que pagamos muito caro nas diversas formas do sofrimento e da aflição.
॥ हरिः ॐ ॥
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॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Estou aprendendo muito com vocês.
Obrigada a todos por compartilhar e escreverem.
Na verdade quem escolhe o caminho dos prazeres é o condicionamento anterior acumulado, então é necessário a prática do yôga em qualquer tempo, pois o equilíbrio dos chakras é que vai possibilitar a percepção que a felicidade não é a obtenção dos prazeres. A experiencia desses prazeres também vai mostrar que satisfeito um prazer o cérebro logo procura outro, levando à dinâmica alegria seguida de frustração quando um desejo não se torna realidade.Nossa única bússola é a busca da felicidade e só vamos perceber que já somos a felicidade que procuramos quando estivermos equilibrados e vermos que tudo é um. Existe uma fábula do cervo almiscarado que ilustra essa busca. Era uma vez um cervo que farejou um odor delicioso, e saiu correndo atrás desse cheiro, que ora parecia que vinha de um lado, ora do outro e assim corria de um lado para outro até que exausto deitou-se para descansar , enrodilhado, e só aí percebeu que o perfume saia do seu próprio umbigo.