Os Vedas afirmam que, para haver crescimento espiritual, é necessário que o conhecimento seja transmitido do mestre ao discípulo. A tradição deve ser passada através do parampará ou seja, o mestre, que aprendeu com seu mestre, revela o conhecimento sagrado a seus estudantes.
Nesta tradição, o mestre é chamado de Guru, aquele que dissipa as trevas e nos ajuda a retirar dos olhos o véu da ignorância sobre quem realmente somos. Dizem que quando estamos prontos, o mestre aparece… Isso faz com que os estudantes se juntem aos pés deste ou daquele mestre, formando o satsangam, a “reunião em boa companhia”, que existe desde que o Yoga existe.
Há milhares de anos aqueles sábios se retiraram em suas cavernas e meditaram incansavelmente para conseguirem codificar o conhecimento do Ser em escrituras e sutras para que não se perdesse e pudesse ser transmitido. Criaram assim o sânscrito, concebido a partir dos sons que eram captados deste profundo silêncio. Os sons da natureza e das divindades.
Depois estes sábios ensinavam a seus alunos, que experimentavam por si mesmos e ensinavam a seus próprios alunos e assim se fez o parampará. Este é um conhecimento que só se aprende através da experiência. A filosofia do Ser não se completa nos bancos da Academia.
Assim, grupos que se identificavam por razões diversas, seguiram este ou aquele guru e o conhecimento védico se espalhou chegando até os dias de hoje e até nós, praticantes do mundo ocidental. Como é tão natural no Ocidente, apropriamo-nos desta cultura milenar e fizemos dela um produto. E como vivemos numa sociedade do espetáculo, alguns gurus tornaram-se celebridades, cultuados como superstars e muitas vezes endeusados como detentores da verdade absoluta e incontestável. Segue-se seus passos como ovelhas atrás do pastor.
No entanto, o verdadeiro mestre não segue a corrente, não esta na mídia nem acumula fortunas, muito menos quer ditar moda a quem quer que seja. Ele vive recluso, dedicado a seus alunos e a suas especulações filosóficas. Porque ele sabe que o conhecimento não se esgota nunca, mas vai se transformando, se aprofundando, como a própria vida. Portanto, a sadhana deve ser diária, o esforço em se manter no caminho da retidão deve ser maior do que a acomodação com o que já se conquistou. O verdadeiro mestre trava lutas diárias com seu ego para não confundir iluminação com sucesso.
E necessário ter muito discernimento para rejeitar os holofotes em troca da luz difusa da caverna e preferir o silêncio aos aplausos, afinal palmas soam como Bach aos ouvidos de qualquer um. Assim, quando escolhemos a sangha a que vamos pertencer, devemos deixar a intuição falar mais alto do que seguir sonambulamente atrás da propaganda mais bem feita ou da embalagem mais atraente.
O verdadeiro mestre vive conforme o que prega. Há coerência em todas as suas escolhas e, ao invés de querer seguidores a seu serviço, inspira os alunos para que se tornem mestres de si mesmos. A única coisa que nos diferencia dos animais é a nossa capacidade de discernimento. Somos adultos e livres para fazermos escolhas que nos tornarão pessoas melhores e transcender os condicionamentos que nos aprisionam nesse samsara que é a vida na terra.
Somos responsáveis por nossas escolhas, assim como por cada um de nossos atos e pensamentos. Tudo é karma. Tudo gera uma reação. Mas se ouvirmos a voz da intuição, se formos movidos pelo amor e pela empatia, saberemos escolher a nossa sangha e poderemos compartilhar da sabedoria de nossos mestres com respeito e discernimento.
Namaste!