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Existe a Devoção Não-Dual?

O universo inteiro é a manifestação de uma Realidade chamada Brahman, que é sutil e imperceptível. Essa afirmação não é tão descabida quanto possa parecer, e é apoiada na experiência do sonho que vivemos todas as noites. Quando você sonha, as coisas parecem reais. Mas elas são, em verdade, manifestações do pensamento do sonhador. 

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não-dualidade

Tanto o Tantra da Cachemira quanto o Advaita Vedānta ensinam que apenas Brahman, o Ilimitado não-dual, é real. Se esse é o cerne do ensinamento, para que se fazem preces, pūjās e rituais? A quem essas preces são dirigidas? Com quê propósito? Ainda, cabe a pergunta fundamental: não-dualidade e devoção são compatíveis? Podem coexistir?

O universo inteiro é a manifestação de uma Realidade chamada Brahman, que é sutil e imperceptível. Essa afirmação não é tão descabida quanto possa parecer, e é apoiada na experiência do sonho que vivemos todas as noites. Quando você sonha, as coisas parecem reais. Mas elas são, em verdade, manifestações do pensamento do sonhador. 

A poltrona em que você está sentado agora é feita de madeira, tecido e metal, mas a que você usa no seu sonho é feita de pensamentos. O pensamento é o substrato fundamental sobre o qual todos os objetos do seu sonho têm lugar. 

Quando você está acordado, as coisas parecem reais, mas os ṛṣis da antiguidade ensinaram que tudo o que aqui existe é feito de Brahman. Somente Brahman existe. Somente Brahman é real. O mundo, com as suas miríades de manifestações, depende do Ilimitado. 

Essa visão, chamada Advaita, rejeita a visão do mundo dualista convencional, e a noção de que o universo das coisas e pessoas que você percebe é absolutamente real.

Esse ensinamento radical suscita muitas dúvidas. Por exemplo, se o mundo à sua volta é “irreal”, como é que você se vincula com ele? Como você pode fazer uma refeição ou dirigir um carro que não são “reais”? Devemos inquirir mais profundamente na natureza da não-dualidade. 

Porém, o tema não termina aí: de acordo com essa visão, não apenas as coisas não têm realidade independente, mas até mesmo Īśvara, o Ilimitado manifestado na forma da natureza, com todo o conhecimento e todas as leis naturais, é igualmente uma projeção que não tem existência “real” separada de Brahman.

A Consciência onisciente de cuja existência depende o universo só pode existir na perspectiva da não-dualidade. O grande paradoxo é que os mesmos ṛṣis que nos ensinaram essa visão não-dual, igualmente fizeram (e recomendaram) rituais e preces. 

Até hoje, professores de Yoga, Tantra e Vedānta prescrevem vários tipos de meditação, adoração e práticas devocionais, chamadas upāsanas. Essas práticas, por natureza dualistas, são conhecidas como Bhaktiyoga, ou Yoga devocional. O propósito delas, por contraditório que pareça, é nos ajudar a perceber o Brahman não-dual. 

Porém, o problema é: como é que você pode orar para ou meditar sobre um “Ser Supremo” que não tem existência independente, ou que é “irreal”? Esse é o grande paradoxo.

Essas contradições surgem quando não há uma compreensão completa da visão não-dual. Por causa da natureza tão sutil deste tema, não é raro que estes ensinamentos sejam mal-interpretados ou distorcidos por muitos professores e estudantes.

Forma e Substância

O melhor ponto de partida para esclarecemos este ponto é uma afirmação do célebre mestre do século VIII, Śrī Ādi Śaṅkarācārya, que escreveu no Brahmajñānāvalīmālā (“Guirlanda do Conhecimento do Ilimitado”): 

ब्रह्म सत्यं जगन्मिथ्या जीवो ब्रह्मैव नापरः ।
अनेन वेद्यं सच्छास्त्रमिति वेदान्तडिण्डिमः ॥ २० ॥

brahma satyaṃ jaganmithyā jīvo brahmaiva nāparaḥ |
anena vedyaṃ sacchāstramiti vedāntaḍiṇḍimaḥ || 20 ||

O Ser é Verdade, satyaṁ. O Universo é Relativo, mithyā.
A crença na separação (jīvaḥ) não é mais que o Ser.
Aquele através do qual esta Verdade é conhecida é
o śāstra mais elevado. Assim ruge o Vedānta. || 20 ||

Brahma satyaṃ jaganmithyā: “O Ser é Verdade, satyaṁ. O Universo é Relativo, mithyā”. Brahman é a Realidade, o mundo em que vivemos é chamado mithyā. Mithyā é frequentemente traduzido como irreal, falso ou ilusório, mas nenhuma dessas  três palavras transmitem da maneira mais clara o ensinamento de Śaṅkara.

Essa visão está alicerçada no visão ancestral da Chāndogyopaniṣad, um antigo texto do século XV antes da nossa era. Nessa Upaniṣad, o grande ṛṣi Uddālaka Āruṇi ensina o seu filho Śvetaketu:

“Sábio e instruído filho meu, durante seus estudos, chegou a perguntar por Aquilo que não pode ser ouvido, mas graças ao que a audição é possível? 

“O que é Aquilo que não pode ser visto, mas que torna possível a visão? O que é Aquilo que  não pode ser conhecido, mas torna possível o conhecimento?”

Pasmo e indeciso, Śvetaketu permaneceu em silêncio. O pai respondeu-lhe: “Conhecendo um único fragmento de argila, todos os objetos feitos de argila podem ser conhecidos. Conhecendo uma única pepita de ouro, todos os objetos feitos de ouro tornam-se conhecidos. 

“A diferença entre dois objetos feitos de ouro está apenas nos nomes e formas. Em verdade, todas as jóias são apenas ouro, assim como todos os potes são feitos de argila. Conhecendo o ferro através de uma tesoura, conhece-se tudo o que é feito de ferro. Essa é a instrução”. 

Os nomes e formas são apenas noções. A argila é a realidade subjacente graças à qual os potes existem. O ouro é a realidade subjacente devido à qual todos os ornamentos têm existência.

Na primeira ilustração, o sábio usou a parábola do pote de argila para representar o mundo. O universo é composto de miríades de objetos, onde cada um deles é uma forma diferente de algum material. O pote é uma forma da argila. O ornamento é uma forma do ouro. 

Argila e ouro são substâncias, matéria. Porém, o pote ou a joia não são substâncias. Eles são apenas nomes e formas, namarūpaḥ. O pote não tem existência independente da argila, do material com o qual ele é feito. O pote é apenas uma forma circunstancial da argila. 

Suponhamos que a argila da qual o pote é feito pese 200 gramas. A forma do pote acrescenta alguma coisa ao peso da argila? Na verdade, este objeto é apenas argila. Nada mais. 

Assim, nomes e formas são apenas conceitos, ideias. Esses nomes e formas não têm existência independente do material com o qual são feitos. Da mesma maneira, diz o sábio Uddālaka Āruṇi, a existência do universo depende da presença do Ser Ilimitado.

Ele pergunta ao filho: “Consegue me dizer, querido filho, o que é Aquilo que, sendo conhecido, permite o conhecimento de tudo?”

O menino responde: “Infelizmente, meus mestres não me instruíram a esse respeito, pai. Você pode me ensinar, por favor?”

“Certamente, filho. Toda a Criação é apenas Realidade. Essa Realidade é a Consciência. Essa Consciência é existência absoluta. O Ser é aquele Incomparável. Dele surgiu o Cosmos, e então ele entrou em cada ser vivente e objeto inanimado. Não existe nada que não derive da Consciência. Ela é a essência de tudo. Ela é a verdade, o Ser Puro. E você, Śvetaketu, é Isso”.

O Ser Ilimitado, Brahman, é a realidade subjacente na qual o inteiro universo existe. Essa notável visão não é uma questão de fé cega, mas algo que precisa e merece ser bem compreendido.

No Advaita Vedānta, o ensinamento que mostra que Brahman é o substrato  graças ao qual o Universo inteiro existe, não é um dogma que você deva aceitar ou uma doutrina na qual você deva acreditar.

Esse ensinamento deve ser compreendido. Essa Realidade deve ser reconhecida. Para isso, você não precisa apenas dar um voto de confiança ao ensinamento, mas igualmente usar a sua própria compreensão e entendimento.

Por exemplo, considere esta faca: faca é um nome e forma para o aço. Assim, a faca é apenas um nome e forma circunstanciais do metal. O aço é a realidade subjacente. No entanto, o aço, por sua vez, é um nome e forma de elementos como ferro, carbono, manganês, fósforo, níquel e outros. 

Esses elementos da tabela periódica, por sua vez, são igualmente apenas nomes e formas. O ferro, o carbono e demais, são nomes e formas de átomos, que por sua vez são nomes e formas de prótons, nêutrons e elétrons, que por sua vez são compostos por misteriosas substâncias chamadas quarks, que são as partículas elementares que constituem a matéria.

Talvez a ciência nunca consiga encontrar uma substância indivisível fundamental que seja a base de todas as formas da matéria, de todos os nomes e formas. Talvez a ciência possa ainda descobrir formas cada vez mais sutis e diminutas da matéria.

Em qualquer caso, nenhuma dessas formas pode existir sem um substrato fundamental que seja a realidade subjacente em tudo e em todos. 

A faca não existe sem o aço. O metal não existe sem as moléculas.  As moléculas não existem sem os átomos. Os átomos não existem sem prótons, nêutrons e elétrons. Estes não existem sem os quarks.

Baseando-nos nesse raciocínio, aliado a profundas meditações e insights, os antigos sábios perceberam que Brahman é essa realidade fundamental, esse substrato fundamental graças ao qual o universo de nomes e formas existe.

Satya e Mithyā

Voltemos ao ensinamento de Śaṅkarācārya acima mencionado: brahma satyaṃ jaganmithyā: “O Ser é Verdade, satyaṁ. O Universo é Relativo, mithyā”. Brahman é a realidade subjacente devido à qual tudo existe. Śaṅkara usou a palavra mithyā para indicar que o mundo consiste apenas de nomes e formas, namarūpas.

Isso significa que, por assim dizer, o mundo é “menos real” que Brahman, no sentido que a existência do universo depende totalmente da presença do Ilimitado. O pote é uma forma da argila. A faca é uma forma do aço. 

A existência dessas formas depende do material com a qual elas são feitas. Esses materiais, por sua vez, existem independentemente da forma que eles assumem. Os materiais existem independentemente do pote ou da faca.

A existência do pote depende da presença da argila. A argila existe independentemente da presença da forma chamada pote. A não é B, mas B é A: a argila não é o pote, o pote é a argila. Podemos dizer assim que a argila é “mais real” que o pote.

Nesta metáfora, o pote é o universo, e a argila é Brahman, o Ilimitado. O pote é mithyā, a argila é satyam. A existência do pote depende da presença da argila. A existência da argila independe da forma que ela assuma. Se o pote se quebra, a argila continua existindo.

Brahman é satyam, absolutamente real. Existe, independentemente do universo. O pote representa o mundo, jagat. Esse mundo é mithyā. É dependente da presença do Ser. O mundo é menos real do que o Ser, pois depende da presença dele para existir.

Mithyā é definido como adisthāna ananyatvam: aquilo que, para existir, depende da presença de outra realidade subjacente, como nos exemplos do pote ou a faca. Portanto, mithyā não é falso nem irreal, mas aquilo que depende da presença do real, satyam, para existir.

Os perigos da não compreensão 

Infelizmente algumas pessoas não compreendem corretamente o ensinamento jaganmithyā, e afirmam que o mundo é ilusório. A palavra ilusão é uma maneira muito parcial e equivocada de traduzir mithyā. Ilusão é algo inexistente, e não podemos dizer da maneira alguma que o mundo seja inexistente.

O pote não é ilusório. A faca não é ilusória. O pote é uma forma que depende da argila para existir. A faca é uma forma que depende da presença do aço para existir. Assim, você pode ver aqui que mithyā é um termo muito sutil, que indica um nível de realidade que depende de outra presença para existir.

Agora que compreendemos satyam e mithyā, voltemos para a questão original: o bhakti seria incompatível com o ensinamento não-dual? Considere isto: o oleiro que fez o pote ou o ferreiro que fez a faca não são ilusórios. São pessoas tão reais quanto as suas obras.

Da mesma maneira, a Inteligência que criou o universo não é ilusória. Īśvara não é uma ilusão. É tão real quanto o mundo que você vê aqui à sua volta. Īśvara é tão real quanto a criação, as galáxias, estrelas, montanhas e oceanos. Īśvara é tão real quanto você e eu. 

Evidentemente, as estrelas, a lua e tudo o mais, incluídos você e eu, são apenas nomes e formas, namarūpaḥ. Todos esses nomes e formas dependem da presença de Brahman, o Ilimitado.

Sattatraya: os Três Níveis da Realidade

Para explicar isto mais claramente, Śaṅkarācārya mostrou-nos que há três planos de existência, denominados conjuntamente sattatraya: a realidade absoluta, a realidade empírica e a realidade projetada. Elas são chamadas, respectivamente, paramārthika, vyavāharika e prātibhāsika.

Prātibhāsika, a realidade projetada é, por exemplo, a realidade dos nossos sonhos, ou a realidade que vemos através dos sentidos, que por vezes nos enganam, como quando vemos que o sol “deita” no horizonte (quando em verdade é o planeta que gira), ou quando confundimos uma serpente com uma corda. 

O mundo onírico se esvai no momento em que você acorda. A “realidade” das nossas percepções subjetivas se esvai quando compreendemos os mecanismos pelos quais o universo opera. Essas experiências pertencem à ordem da realidade projetada.

Já o mundo que você experiencia quando está acordado pertence ao nível da realidade empírica, vyavāharika. Esse mundo exterior não é projetado pelos nossos próprios pensamentos, como quando sonhamos, mas é a criação de Īśvara, a inteligência ilimitada graças à qual as coisas existem.

Īśvara está para a criação da mesma maneira que você está, como criador, para o mundo dos seus sonhos. Diferentemente da realidade projetada, prātibhāsika, a realidade empírica depende por sua vez da presença da realidade absoluta, paramārthika.

Baseando-nos nisso, podemos dizer que a realidade empírica é mais real que a realidade projetada, e igualmente podemos afirmar que a realidade absoluta é mais real que a realidade empírica.

Desde essa perspectiva mais elevada, não há mundo exterior, nem Īśvara como criador desse mundo e nenhuma individualidade como você ou eu. Apenas existe Brahman não-dual. É como, desde a perspectiva da argila, não existisse o pote, mas apenas a argila. 

Não obstante, é de suma importância compreender que estes três níveis de realidade não são mutuamente excludentes, mas coexistem em todas as nossas experiências. Em um nível, isto é um pote, mas noutro nível, apenas argila. Ambos são simultaneamente verdadeiros.

Quando você vê o sol “descer” no horizonte, o que realmente acontece é que o horizonte se move para cima. Assim, é uma ilusão de ótica achar que o sol deita no horizonte. Essa ilusão pertence ao nível da realidade projetada, pratibhasika satta

O sol, por outro lado, não é uma ilusão, mas pertence ao nível da realidade empírica. No entanto, a existência do sol no plano empírico, assim como a existência de tudo o mais, depende da presença de Brahman, a realidade absoluta. 

Portanto, os três níveis de realidade estão presentes o tempo todo em todos os lugares, simultaneamente. Śaṅkara nos ensinou isto da maneira que possamos navegar cientes desses três planos da existência para evitar as confusões e as aflições que derivam delas. 

Assim, é um erro pensar que os objetos que criamos num sonho sejam tão reais quanto os objetos do plano empírico, como o pote ou a faca. Igualmente, é errado pensar que esses objetos do mundo tenham existência real, separada da presença de Brahman.

Voltando à questão original…

Devoção e não-dualidade são compatíveis? É fundamental compreender que  tudo aquilo que pertence a um nível de realidade não pode afetar ou interagir com as coisas dos outros níveis.

Se você está com sede durante um sonho, não poderá saciá-la com aquele  copo de água que você deixa do lado da sua cama. A sede pertence ao nível de realidade projetada, enquanto que a água pertence ao plano empírico.

Para saciar uma sede onírica, você precisa de água onírica. Para saciar uma sede empírica, você precisa de água desse plano de realidade. Sonhar que você bebe de um córrego não sacia a sua sede real.

Apenas coisas que pertençam ao mesmo plano de realidade podem interagir umas com outras. Esse princípio é válido igualmente para a realidade absoluta.

Problemas reais não se resolvem negando-os

Problemas empiricamente reais, como por exemplo a pobreza, a fome ou as doenças não podem ser resolvidos adotando a perspectiva absoluta ou alegando que eles não são “reais” ou que não existam de verdade.

Desprezar os problemas do mundo dessa maneira é uma terrível distorção do ensinamento não-dual. Mesmo que a pobreza, a fome ou as doenças não sejam tão reais quanto a realidade absoluta, elas não deixam de afetar o mundo e as pessoas. Você não pode negar o fato que elas produzem terrível sofrimento para a humanidade.

Os problemas do mundo coexistem com a presença de Brahman, mas em níveis diferentes. Um não nega o outro. Assim, os problemas do mundo não podem nem devem ser ignorados e, ao mesmo tempo, não diminuem a completude que é Brahman, no plano absoluto.

Agora, a que plano de realidade pertence Īśvara? Se Īśvara fosse mais real ou menos real do que o mundo empírico, então qualquer tipo de interação seria impossível. Īśvara não seria capaz de organizar a criação nem de aplicar as leis naturais que são o seu próprio corpo.

Īśvara é a criação 

Por outro lado, a natureza, Īśvara, não é uma ilusão, assim como o oleiro que fabricou o pote tampouco é ilusório. portanto, Īśvara é tão real quanto a própria criação, pois ele é a criação

Assim, concluímos que Īśvara e jagat, o mundo, pertencem ao mesmo plano empírico da realidade. No entanto, algumas pessoas rejeitam esta visão, perguntando “como é que Īśvara não pertence ao plano do absoluto, Brahman?”

Brahman é a realidade subjacente graças à qual o universo existe, e igualmente é a realidade que dá existência ao próprio Īśvara. Assim, podemos dizer que Īśvara é uma forma de Brahman, uma “incorporação” do Ilimitado. Brahman é nirguṇa, pura existência, sem atributos nem qualidades de qualquer espécie. 

Īśvara, por seu lado, possui sim atributos e qualidades, na forma das leis naturais, da inteligência que governa o tempo e o espaço. Nesse sentido, podemos dizer que Īśvara seja o ser supremo, toda a inteligência, todo o conhecimento, toda a glória, mas sempre dentro da realidade empírica. 

Por outro lado, você não pode conceber Brahman, nem imaginá-lo, nem visualizá-lo, nem fazer um desenho dele, pois Brahman não tem atributos de quaisquer tipos. Mas você pode, certamente, relacionar-se com um namarūpaḥ, um nome-e-forma que aponte para ele através dos atributos circunstanciais que ele assume enquanto Īśvara, em alguma das suas múltiplas formas. 

Portanto, dizer que Īśvara não é tão real quanto Brahman não significa “rebaixar” Īśvara. Pelo contrário, é uma poderosa afirmação do fato de que Īśvara é tão real quanto todas as criaturas que dele derivam. 

Nesse sentido os ṛṣis do passado compreenderam que a prática devocional pode ser extremamente útil na espiritualidade. Assim, sabiamente incluiram estas práticas aparentemente dualistas no ensinamento, que podem nos levar para a compreensão da mais elevada verdade. 

॥ हरिः ॐ ॥

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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