O que é o navaratri?
Navaratri é uma festa muito popular na Índia e, como toda celebração hindu, tem um simbolismo rico. São nove noites (nava = nove + ratri = noite) dedicadas às três devīs (deidades femininas) principais: Durgā, Lakṣmī e Sarasvatī.
Durgā é uma forma feroz e destruidora de Pārvatī, a esposa de Śiva. Contam as Purāṇas que Durgā surgiu da união de todas as forças dos devas (deidades) que individual e coletivamente não puderam vencer o demônio Mahisāsura, que em forma de búfalo oprimia deuses e homens.
Ela é representada montando um tigre ou um leão, tendo oito, dez ou doze braços, cada um empunhando uma arma. Durgā é forte, destemida e implacável, conseguindo destruir qualquer tipo de asura.
Os Devas simbolizam nossa natureza superior e nossas tendências positivas, e, os Asuras, nossa natureza inferior e nossas tendências negativas.
Devas e asuras estão em conflito permanente (as exigências da natureza inferior contra as aspirações da superior) e muitas vezes os Devas precisam unir suas forças para conseguir vencer.
Mahisāsura simboliza o pior inimigo: a ignorância, o ego. Para destruí-lo, só mesmo “a união de todos os Devas” (tendências positivas), ou seja, a Mãe Durgā, a força e a coragem de acabar (vairāgyaṁ ou desapego) com todos os apegos e desejos.
O veículo de Durgā, tigre ou leão, representa o “ego domado”, ou seja, no seu devido lugar, a serviço dos Devas (forças positivas), despojado de sua arrogância e orgulho e investindo com a beleza da força.
Lakṣmī simboliza a riqueza em todos os níveis, especialmente a espiritual. Contam as Purāṇas que ela surgiu do Oceano de Leite: os Devas e Asuras fizeram uma trégua para, num esforço conjunto, bater o Oceano de Leite e resgatar o amṛtam (néctar da Imortalidade). Escolheram uma montanha (Manthāra) para servir de batedor e o “rei” das serpentes (Vāsuki) para servir de corda.
Devas de um lado, asuras de outro, começa a batedura, que “produz” muitas coisas interessantes, bonitas e poderosas, dentre elas Lakṣmī.
O Oceano de Leite representa a mente sáttvica, que, quando “batida” (durante o questionamento, etc.), “produz” riqueza espiritual (valores positivos, discernimento, concentração, etc.), que culmina no Conhecimento do Eu.
Sarasvatī representa a Sabedoria, a meta de toda busca espiritual. Seu nome literalmente quer dizer “Aquela que dá a essência (sara) do nosso próprio Ser (svā)”.
É representada com quatro braços, segurando numa das mãos uma mālā (colar de contas ou sementes) e numa outra um manuscrito dos Vedas. Com as outras duas mãos toca uma vīṇā (instrumento musical).
Veste um sāri branco e está sentada numa rocha ou lótus, à beira de um rio. Seu veículo é o cisne ou pavão. O sāri branco simboliza a pureza do conhecimento, e o lótus também.
O fato de estar sentada na rocha mostra que a sabedoria é a base sólida onde o sábio se senta relaxado enquanto a vida (o rio) passa com todos os seus acontecimentos.
A mālā e os Vedas representam os meios para se atingir a Sabedoria: o estudo das escrituras (escutar o ensinamento e refletir sobre ele) e a meditação.
A vīṇā simboliza todas as artes, ofícios, estudos e todo tipo de conhecimento, e também a devoção, ou seja, o relacionamento com o Criador.
As nove noites dedicadas às Devis representam a escuridão da ignorância que precisa ser “destruída” e “transformada” em dia luminoso. O primeiro passo é atacar os desejos e apegos. Por isso, Durgā é invocada nas três primeiras noites.
Depois dessa “luta”, dessa “limpeza”, começamos a “produzir” nossa riqueza espiritual, simbolizada pela veneração à Lakṣmī nas três noites seguintes, e só então poderemos chegar à sabedoria que Sarasvatī representa, sendo por isso venerada nas três últimas.
Navarātri culmina com o décimo dia, chamado Vijayadasāmi (“dia da vitória”), ou Vidyārambha (“início do conhecimento”), quando um boneco é queimado ou lançado ao mar, simbolizando a destruição do ego.
Durante as nove noites, cada etapa simboliza uma vitória na direção da Meta, e o nascer do décimo dia representa a vitória final, a luz do conhecimento que acaba com a escuridão da ignorância.
॥ हरिः ॐ ॥
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Visite aqui o site do Vidyā Mandir – Centro de Estudos de Vedānta e Sânscrito, da professora Gloria Arieira. Extraído do Informativo Vidyā Mandir de outubro de 1989, do Vidyamandir – Centro de Estudos de Vedanta e Sânscrito, Rio de Janeiro, e digitado por Cristiano Bezerra.
॥ हरिः ॐ ॥
Lindo artigo de Glória sobre navaratri.
Obrigada