A palavra obstáculo, em sânscrito, antaraya, significa literalmente ‘interpor-se’ ou ‘ficar no meio’. Os obstáculos podem aparecer sob roupagens muito diferentes, tanto físicas quando psicológicas. No entanto, a maior parte dos obstáculos pertence ao último tipo.
Patañjali menciona nove obstáculos no Yoga Sutra:
‘Doença, inércia, dúvida, negligência, preguiça, volubilidade, equivocação, inconstância e instabilidade são os obstáculos’. I:30.
A Shiva Samhita adverte:
‘De fato, há muitos obstáculos, quase intransponíveis, na prática do Yoga. No entanto, o yogi deve persistir no sadhana correndo os riscos, até mesmo quando sua vida estiver em perigo [lit., quando ‘a vida estiver [escapando] pela garganta’ (pranaih kanthagatair api)]’. III:47.
Esses obstáculos são verdadeiras usinas de turbilhões mentais, que impedem o progresso na prática. Não obstante, eles fazem parte do caminho, e devem ser aceitos, em primeiro lugar, para poderem ser transcendidos. Essas diferentes listas de obstáculos que aparecem nos shastras têm como objetivo nos alertar sobre os possíveis desvios e bloqueios que podem surgir na caminhada, tranquilizando-nos ao mesmo tempo ao nos ensinar que os obstáculos são naturais e fazem parte da jornada, e, ainda, encorajando-os para superá-los.
De alguma maneira, os obstáculos são mecanismos naturais de auto-defesa e auto-preservação, colocados em movimento por nosso subconsciente para nos proteger dos eventuais desequilíbrios que a prática possa produzir se não for feita corretamente.
No entanto, essas defesas naturais se tornam de fato obstáculos intransponíveis quando nos fazem abandonar a prática (podem surgir pensamentos como ‘isso é não para mim’, ou ‘não nasci para fazer essa prática’), ou ainda quando a presença do obstáculo passa a ser ignorada (‘acho melhor evitar a meditação, pois não tenho paciência’).
A questão, chegando neste ponto, é que cada um de nós deve resolver o que significa exatamente chegar ao ponto em que ‘a vida escapa pela garganta’. Cada um deve perceber onde termina o esforço e começa o exagero. É sempre desejável levar a prática adiante, superando os obstáculos que surgirem ao longo da caminhada.
Não obstante, precisamos usar o bom-senso e pedirmos ajuda para percebermos honestamente se a prática que estamos fazendo é a mais adequada para nós mesmos, se é a prática que está nos fazendo bem, se nos ajuda e nos aproxima do objetivo final de todo Yoga, que é a libertação dos condicionamentos e o conhecimento da verdade sobre nosso próprio ser. Eis aí que o papel e a presença de um mestre tornam-se essenciais.
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Olá, você poderia explicar com mais clareza o trecho: “De alguma maneira, os obstáculos são mecanismos naturais de auto-defesa e auto-preservação, colocados em movimento por nosso subconsciente para nos proteger dos eventuais desequilíbrios que a prática possa produzir se não for feita corretamente.”?