A consciência testemunha, sakshi em sânscrito, é uma noção chave para entender como funciona o Yoga. O yogi deve manter uma atitude totalmente equânime e imparcial perante qualquer pensamento, emoção ou sensação. Exercer a consciência testemunha significa desprender-se e desidentificar-se das próprias vivências, sejam estas positivas ou negativas. Significa ficar consciente da separação que existe entre o ser profundo e o que acontece dentro ou fora da pessoa. Exercer a consciência testemunha é manter uma atitude de atenção plena em tudo, sem envolver-se com nada. É aceitar os conteúdos da própria mente sem julga-los. É desenvolver a qualidade de estar presente em tudo sem se deixar arrastar pela voragem dos acontecimentos:
‘O atman é o conhecedor supremo, testemunha daquilo que se move e do que permanece fixo. É sattva, sem qualidades, e não conhece nem a felicidade nem a infelicidade. Dev?, deve-se dirigir o esforço a esta fonte da consciência pura.’
Kaulajñana Nirnaya, Vishatitamah Patala, 3-4.
Se a vida fosse uma peça de teatro, sakshi seria ao mesmo tempo o ator e o espectador, aquele que tudo de tudo participa, tudo vê, mas com nada se envolve, nada julga, pois conhece a transitoriedade das coisas. Em poucas palavras, sakshi é a capacidade de manter a equanimidade em todas as circunstâncias. É ter presente que tudo passa, e ficar ciente disso 24 horas por dia.
Por isso não convém dizer ‘eu faço Yoga’, pois em verdade, você não ‘faz’ Yoga. Ele já está feito! Você ‘desliza’ para o estado de Yoga (união), em certos momentos. Por exemplo, quando consegue ficar totalmente consciente da sua respiração. E, se quiser transcender mesmo, chegar ao samadhi, deverá manter esse estado constantemente. A ‘prática’, a técnica em si, funciona apenas como um catalisador que acelera este processo. A técnica é o que você usa enquanto a intuição não vem.
Isto tem a ver com você, com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo.
Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver um filme sobre uma linda praia, tendo a oportunidade de ir pessoalmente dar um mergulho nas águas transparentes, e depois deitar na areia morna, sentindo o sol na pele e bebendo uma água de coco sob uma palmeira. São coisas diferentes, concorda? Cultivar a posição do observador é fundamental para a prática mas, paradoxalmente, funciona unicamente desde que esse observador seja parte ativa do processo, ou seja, observe, estude e analise, mas que o faça estando dentro da experiência.
O Yoga serve para lembrar. O yogi deve estar consciente a cada momento da existência, assim como você acabou de fazer. A cada inspiração e exalação. O verdadeiro significado de estar vivo só pode experimentar-se quando se está totalmente consciente. Consciente de cada respiração, cada pensamento, cada ato. Tempo, espaço e pensamento não são mais prisões, mas campos da expressão do ser. A verdadeira origem, a fonte do ser, está além do tempo, além do espaço e além do pensamento. A experiência dessa fonte nos dá o conhecimento absoluto, livre de objetos, tempo e memória.
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos
Uma das principais coisas que busco durante a prática das posturas no Yoga é o estabelecimento de um estado de presença pleno. Por esta razão este é um tema que me interessa muito e sobre o qual busco um aprofundamento. Se possível, gostaria de conhecer mais fontes sobre o assunto.
Olá Pedro, gostei muito desse texto, me ajudou muito! Teria alguma recomendação de leitura complementar deste assunto?