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Trabalhando com Yoga

Quando comeceia a praticar não existia algo chamado “carreira de professor de Yoga”. Meu professor era engenheiro agrônomo e dava aula nas horas vagas, por devoção ao seu guru, Swāmi Satyānanda, que se tornou a minha referência em termos de Yoga por muito tempo. A ideia do professor de Yoga nos moldes que se compreende atualmente é algo novo, que deve ter surgido nas últimas décadas.

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Trabalhando sobre si mesmo, trabalhando com Yoga

1 – Pedro, o que levou você ao Yoga? Como era vista a carreira de professor de Yoga quando começou a dar aulas?

Comecei a praticar há mais de 30 anos, buscando “a realização do Oṁ”, segundo havia lido num livro do filósofo Alan Watts, um dos primeiros interlocutores entre as filosofias de Oriente e Ocidente. Pareceu-me algo nobre a que dedicar a vida e aqui estou, ainda dedicado à tarefa, e fascinado com os resultados desse processo até o presente momento.

Naquela época não existia algo chamado “carreira de professor de Yoga”. Meu professor era engenheiro agrônomo e dava aula nas horas vagas, por devoção ao seu guru, Swāmi Satyānanda, que se tornou a minha referência em termos de Yoga por muito tempo, até achar meu próprio mestre, Swāmi Dayānanda. A ideia de ser professor de Yoga nos moldes que se compreende atualmente é algo novo, que deve ter surgido ou se consolidado nas últimas décadas.

2 – O que o Yoga pode oferecer de mais importante para o ser humano?

Mokṣa, a libertação, que é o objetivo final de todas as formas de Yoga. Liberdade dos condicionamentos, da escravidão sensorial, das misérias existenciais, dos karmas e sentimentos indesejáveis, entre outros.

Existem muitos termos sânscritos para definir esse objetivo, que é ao mesmo tempo a meta do Yoga: nirvaṇa (“sem [identificar-se com os] desejos”), mokṣa (“libertação”), samādhi (“grande concentração”), kaivalya (“isolamento [dos condicionamentos e medos]”), e outros.

Da mesma forma, existem muitos meios diferentes para realizar essa meta, assim como muitas visões diferentes sobre os caminhos a serem percorridos. O Haṭha Yoga é um desses caminhos.

trabalhando

3 – Muitas pessoas acreditam que o Yoga é uma forma de atingir a paz e o relaxamento e obter maior flexibilidade. O que você tem a dizer sobre isso? Donde veio este conceito? Porque o Yoga foi deturpado e transformado em algo diferente?

Na migração do Yoga desde seu berço até o Ocidente alguns conteúdos foram ficando diluídos e acabaram por se perder. Hoje em dia, muita gente entende que Yoga seja apenas um método para o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida.

Embora pessoalmente ache que essas pessoas têm direito de afirmar tal coisa sobre o Yoga, já que esta palavra significa coisas diferentes para pessoas diferentes, devemos igualmente lembrar que, na origem, o Yoga sempre serviu ao propósito mencionado acima, a libertação.

Uma das causas dessa diluição e transfiguração pode ter sido a necessidade do mercado de encontrar soluções fáceis para os problemas derivados do modo de vida contemporâneo.

4 – Ansiedade e depressão são alguns dos maiores males deste século. Seriam estes provocados pelo fato do ser humano ter se afastado da sua essência? Como o Yoga enxerga isto?

Os problemas do ser humano sempre foram os mesmos, desde a época das cavernas até a atualidade. Pelo menos, é isso o que demonstra o trabalho do filósofo Jean Gebser. Uma das maiores referências do Yoga, o livro sagrado que é a Bhagavadgītā, expõe a forma em que o Yoga ajuda o príncipe Arjuna, uma pessoa que sofre de depressão aguda.

A solução que valeu naquela época, milênios atrás, continua válida nos dias de hoje. Essa solução chama-se Karmayoga, ou o Yoga da Vida, e consiste em compreender o nosso lugar na Ordem Maior e agir em consequência, compreendendo que não somos ilhas, não estamos sós, nem o mundo é aquele lugar hostil que nos contaram.

Em suma, o Karmayoga nos permite viver livres, em harmonia com o mundo e com o dharma, trabalhando e vivendo em paz. ॥ हरिः ॐ ॥


 ॥ हरिः ॐ ॥

Entrevista concedida a Patrick Gomlevsky
+ sobre trabalho com Yoga aqui

॥ हरिः ॐ ॥

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Uma resposta para “Trabalhando com Yoga”

  1. acho que o papel do prof. orientador. facilitador de yoga tem assumido várias facetas….. Sendo para ajudar, melhorar e aperfeiçoar o Ser em cada um acho que já estará cumprimento uma bela missao.

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