O Hatha Yoga permite muita flexibilidade e liberdade em termos de investigação pessoal. Isso talvez não atraia pessoas em busca de uma doutrina salvadora, mas pode ser útil para quem não tem receio de assumir a responsabilidade pelo seu próprio crescimento pessoal. Também são dignas de menção, como motivações para esta prática, a adaptabilidade e a abordagem não-dogmática, bem como a instrumentalidade e a capacidade de responder às necessidades de cada pessoa de maneira personalizada e eficiente.
Extensa e interessante entrevista com o casal Ângela e Pedro Kupfer conduzida em 2014 pelo professor de Yoga e blogger Humberto Meneghin, do blog Yoga em Voga.
Quando comeceia a praticar não existia algo chamado “carreira de professor de Yoga”. Meu professor era engenheiro agrônomo e dava aula nas horas vagas, por devoção ao seu guru, Swāmi Satyānanda, que se tornou a minha referência em termos de Yoga por muito tempo. A ideia do professor de Yoga nos moldes que se compreende atualmente é algo novo, que deve ter surgido nas últimas décadas.
As práticas do Hatha Yoga não se limitam a condicionar o físico para que possamos nos sentar com mais conforto para meditar ou para que possamos dormir melhor ou render mais no trabalho. O verdadero objetivo está em dissolver as couraças de tensão sutil, que determinam tanto as limitações do movimento do físico como os padrões mentais automâticos que regulam uma boa parte das nossas vidas.
Antes de começar, cabe o pensamento: nós precisamos mesmo deste tipo de discussão? É este tema realmente relevante para a vida de Yoga? Hoje em dia vemos muitos “profissionais” do Yoga focados em prosperar e totalmente refratários à ideia de olhar com compromisso e sinceridade para o Yoga que afirmam ensinar e praticar. Este tipo de conversação pode nos desviar, de fato, do tema central, que é a liberdade.
Estamos acostumados a ouvir e aceitar sem maiores questionamentos que o Haṭha Yoga, de origem tântrica, é bem mais recente e está completamente separado dos sistemas anteriores a ele, como o Yoga de Patañjali, o Jñāna Yoga, o Karma Yoga, o Mantra Yoga, etc., como se esses sistemas pertencessem a um universo totalmente diferente do contexto em que o Haṭha nasceu. Mas a coisa não é bem assim.
Não há um "fim" no caminho do Yoga, como pode haver, por exemplo, quando você se dedica à tarefa de construir uma casa. Você começa pelo alicerce, segue pelas paredes, termina com o telhado e a pintura e depois pode descansar. Não acontece exatamente desse jeito com o Yoga. Olhar para o Yoga como uma meta a ser atingida pode criar um estado de ansiedade. Já vi pessoas permanentemente tensas por acharem que o Yoga iria lhes dar uma certa experiência de êxtase ou paz, mas isso é uma ilusão.
Éramos idealistas e tínhamos a certeza de que o Yoga poderia mudar o mundo, tornar a sociedade humana um lugar mais amigável e o ser humano um bicho menos brutal. Pessoalmente, mantenho essa convicção ainda hoje, não mais aplicada à sociedade como um todo, senão a alguns indivíduos que estejam prontos e desejem dar esse passo.
Esta entrevista sobre o novo momento que o Yoga está vivendo em nossa sociedade fez parte do trabalho de pesquisa da jornalista Marcela Buscato, da revista Época. Compartilhamos aqui com nossos amigos e leitores seções da mesma que não foram publicadas nesse semanário, esperando que gostem e desfrutem.
Se eu, como jornalista, achar que Yoga é ginástica, o que possa escrever ou dizer sobre ele estará permeado por essa ideia. Não acho que a mídia como um todo esteja equivocada, nem que esse erro seja proposital: ela está apenas amplificando um erro de visão que é lugar comum na nossa sociedade.
O mantra é um recurso usado não apenas nas práticas meditativas do Yoga, mas também em muitas religiões, tanto orientais como ocidentais. O ser humano descobriu muito tempo atrás o poder transformador do som. A música em geral, e os mantras em particular, têm a potencialidade de levar o psiquismo humano a locais insuspeitados de paz e tranquilidade.
O Yoga propõe uma vida na qual ação e contemplação caminhem juntas. Como não escolhemos nem a época nem o lugar onde nascemos, precisamos nos adaptar à situação em que estamos vivendo, mantendo o estado de paz. Essa arte de viver em paz em meio das mais diversas circunstâncias chama-se kshanti, em sânscrito.
Esta entrevista foi concedida ao professor Carlos Eduardo Barbosa, criador do portal de estudos de Yoga e sânscrito www.yogaforum.org
A palavra Tantra significa tecido, urdidura, expansão do conhecimento. Tantra é o nome de uma escola de filosofia indiana, que propõe a visão da continuidade entre o Ser e a Natureza