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As Muitas Faces da Deusa

Parvati é também chamada Śakti (a Poderosa), Ambikā (a Mãe Querida), Gaurī (a Dourada, devido à cor do trigo maduro, com o qual a fertilidade de deusa está associado) e Lalītā Tripurasundarī (a Brincalhona, Bela dos Três Mundos), dentre outros.

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Pārvatī, a Deusa da Montanha, tem muitos nomes. Mais de mil, listados no Lalītā Sahasrānama, que faz parte da Brahmāṇḍa Purāṇa. Dentre eles, os mais conhecidos são Kālī (a Devoradora do Tempo), Durgā (a que Elimina o Sofrimento), Mātājī (a Reverenciada Mãe), Śyāma (a Negra, destruidora da ignorância existencial), Annapūrṇeśvarī (a Deusa do Alimento Puro) e Maheśvarī (a Grande Deusa). 

É também chamada Śakti (a Poderosa), Ambikā (a Mãe Querida), Gaurī (a Dourada, devido à cor do trigo maduro, com o qual a fertilidade de deusa está associado) e Lalītā Tripurasundarī (a Brincalhona, Bela dos Três Mundos), dentre outros.

Uma manifestação de Pārvatī que a aproxima de Iemanjá, a Virgem do Mar, é Akhilāṇḍeśvarī, a Senhora Infinita, que é reverenciada no litoral sul da Índia como a Deusa das Águas. Outra forma da Deusa é Gāyatrī, a personificação do célebre mantra do Ṛgveda.

São também manifestações de Pārvatī as deusas Sarasvatī e Lakṣmī. Respectivamente, elas representam a sabedoria e a beleza. Os consortes dessas formas divinas do são Brahmā e Viṣṇu, da mesma maneira que Pārvatī aparece como esposa de Śiva na Trimurti (trindade).

Um aspecto interessantíssimo de Pārvatī é que, em sua união com Śiva, o casal aparece como Ardhanarīśvara, o Andrógino, ou a união e transcendência ao mesmo tempo de todas as dualidades, simbolizada pelo masculino e o feminino.

Essa transcendência das dualidades aparece também na imagem de Śiva como o primeiro professor de Yoga, Dakṣiṇamūrti, que contém em suas representações os símbolos femininos que identificam Pārvatī: suas imagens apresentam um brinco feminino na orelha esquerda e um masculino na direita.

O nome mais engraçado da Deusa é Umā, que significa “Ah Não!”. A mãe de Pārvatī exclamou isso quando soube que sua filha querida iria dedicar-se às práticas de austeridade, segundo a narração a Śivapurāṇa

Pārvatī é a reencarnação de Satī, cuja história ouvimos associada ao mito de Vīrabhadra. Ela representa o próprio poder de Śiva. 

Aspectos da Deusa

Ela é tanto a deusa benevolente e maternal que acolhe e alimenta, como a ferocidade, a força encarnada, e a capacidade de destruir a ignorância e o egoísmo da maneira mais contundente.

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Mātā Mātā Durge | Akhilāṇḍeśvarī Kālī |
Annapūrṇeśvarī Durge | Ādi Paraśaktī Devī ||

Mãe, Mãe Durgā, Senhora do Universo e do Tempo,
Deusa do Alimento Puro e da Força Suprema
que Remove o Sofrimento, ó Durgā, abençoe-nos.

A profunda conexão que Pārvatī tem com a maternidade e a sexualidade feminina não limita o feminino nem esgota o seu significado. Pārvatī é manifestada também como Durgā, que é forte e capaz sem comprometer sua feminilidade. 

Ela se manifesta em todas as atividades, das águas às montanhas, das artes aos guerreiros inspiradores, da agricultura à dança. Os numerosos aspectos de Pārvatī refletem a visão de que o feminino tem manifestações múltiplas e variadas, pois o gênero não é uma condição que possa definir ou limitar a Consciência Ilimitada.

Pārvatī Como Durgā

Durgā é uma manifestação especial de Pārvatī. Seu mito é assim: A história da deusa Durgā Kālī está narrada num Śāstra chamado Devī Mahātmyam. A Grande Deusa é criada pelos poderes de Brahmā, Viṣṇu e Śiva, junto com todos os demais devas, as forças da natureza.

Ela encarna a totalidade dos poderes divinos, nossas virtudes e força interior, para combater e aniquilar o búfalo-demônio, Mahīśasura, que representa o egoísmo e a ignorância. É por isso que Durgā é igualmente chamada Mahīśaśuramardiṇī, ou a Vencedora de Mahīśasura.

Pārvatī como mãe de Gaṇeśa e Skanda

Pārvatī é vista como a mãe de dois deuses amplamente venerados na Índia: Gaṇeśa e Kartikeya. O culto deste último está mais presente no sul, enquanto que o do primeiro abrange todo o sub-continente, sendo muito forte no estado de Maharashtra, cuja capital é Mumbai.

Gaṇeśa

Uma vez, Pārvatī queria intimidade, mas não tinha ninguém que pudesse protegê-la e impedir que alguém entrasse acidentalmente na casa. O convívio com os gaṇas, o exército de coribantes, duendes, fadas e demais seres sobrenaturais que configuram o exército de Śiva, não era fácil para a yogiṇī, que estava acostumada à solidão dos grandes picos nevados.

Conseqüentemente, ela criou a imagem de um menino com pasta de açafrão que havia preparado para limpar o seu corpo e com o seu próprio prāṇa, infundiu o alento da vida nele. Foi assim que Gaṇeśa nasceu. Pārvatī pediu ao menino que impedisse que alguém entrasse na casa e Gaṇeśa obedientemente seguiu as ordens da mãe. 

Depois de um tempo, Śiva voltou e tentou entrar na casa. Gaṇeśa o deteve. Śiva ficou furioso, e sem saber quem era esse menino, perdeu a paciência e cortou-lhe a cabeça com o seu tridente. Quando Pārvatī saiu do banho e viu o corpo sem vida de seu filho, ficou extremadamente zangada. 

Ela exigiu que Śiva restaurasse a vida de Gaṇeśa imediatamente. Śiva fez isso colocando no corpo de Gaṇeśa a cabeça do primeiro ser vivo que passou pelas imediações. Esse ser vivo era um filhote de elefante. Dessa maneira nasceu a deidade com cabeça de elefante, que foi nomeada Senhor dos Gaṇas.

É por isso que Gaṇeśa é o chefe do exército de Śiva e o Senhor do Karma: ele é o comandante das hostes que colocam os obstáculos no nosso caminho para que podamos aprender e crescer através deles. Outro nome de Gaṇeśa é VIghneśvara, que significa justamente Senhor dos Obstáculos.

Skanda

Skanda, também chamado Murugan, Kartikeya e Kumāra, é o deus da guerra. Mas essa não é uma guerra entre nações ou tribos: é a velha guerra interna, que se trava no íntimo de cada pessoa entre a tendência a nos deixar levar pela indulgência dos sentidos ou fazermos um esforço em direção ao autoconhecimento. 

Um dia, Pārvatī estava a brincar com seu filho, Skanda. Em meio ao jogo, explicou para ele como todos os seres e todas as coisas estão intrinsecamente ligadas pela lei do karma. Como era muito criança, ele não compreendeu o alcance das palavras da mãe. Foi brincar no mato e passou por um lago onde havia uma multidão de flores de lótus.

Sem pensar muito, rasgou uma pétala de uma das flores. Quando voltou para casa, viu que Pārvatī tinha um grande arranhão na face. Não conseguiu deixar de conectar os dois eventos, e aprendeu a lição quando a mãe disse-lhe: “O que você fizer ao ambiente, meu querido filho, você faz a mim, pois eu não sou apenas a sua mãe. Sou a Mãe Natureza”.

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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