Qual é a causa material do Universo? Qual é a causa instrumental?
Uma tonelada de ouro é usada para fazer milhares de ornamentos. Isso implica que não há mudança real no ouro. Ele permanece o mesmo, só muda de forma.
Uma “adição”, que em verdade não é uma adição, ou é uma adição subjetiva, foi o que permitiu a mudança do estado da barra de ouro nos ornamentos feitos com ela.
A pulseira não serve ao mesmo propósito da corrente. Cada objeto possui sua própria realidade, seu próprio uso. O que o anel faz, a pulseira não pode fazer.
O que a pulseira faz, o colar não pode fazer. Cada ornamento, cada objeto tem seu propósito e lugar. E todos são ouro.
Essa transformação, essa “adição”, implica as capacidades do ourives que transforma a barra em anel, pulseira ou corrente. Assim, há uma causa instrumental envolvida nesse processo.
O conhecimento e a habilidade são precisos para que haja transformação. Além do ourives, que é a causa instrumental dos ornamentos, é necessária a presença do ouro, que é a causa material deles.
O ourives não faz as joias a partir do próprio corpo. Quando você compra a corrente e leva para casa, você não leva o ourives, mas leva junto com a corrente o ouro do qual ela é feita. Você paga pelo ouro, pelo peso do ouro, não pela forma da joia.
Quem fez esta flor? Tem uma agradável fragrância. Se você não tivesse o sentido do olfato não poderia reconhecer ou apreciar o perfume dela.
Se não houvesse perfume, você não sentiria nada, mesmo que seu sentido do olfato funcione perfeitamente.
Para qualquer criação, deve haver um artífice capacitado com o conhecimento e a habilidade para executar essa criação. No caso da natureza, Īśvara é esse artífice.
A criação é inteligentemente arranjada, desde o átomo à celula, da célula ao organismo.
A terra é como uma bailarina, rodopiando sobre seu próprio eixo ao mesmo tempo em que segura todas as coisas através da lei de gravidade.
O sol é o pai e a mãe da terra, pois também segura o nosso planeta em sua órbita. O sol também se move. Tudo se move.
Isso é Īśvara, a inteligência que mantém as coisas juntas, a criação coesa. Kṛṣṇa significa “aquele que atrai”. Atrair, aqui significa colocar junto, manter coeso.
Definitivamente, há conhecimento, jñānam, poder e força, śakti, juntos nessa manifestação que é o mundo.
Īśvara é, então, todo o poder e toda a inteligência da criação. E donde vem a criação? Qual é o material com o qual o universo é feito? Seria Īśvara como um padeiro que faz seus chapatis pegando a farinha de um saco? Qual é a causa material da criação?
Īśvara é diferente do ourives ou do padeiro. A razão disso é que ele é ao mesmo tempo a causa instrumental, a inteligência, e a causa material da criação.
Inteligência e matéria não são coisas diferentes, no caso da criação, assim como quando você sonha e cria um universo a partir do seu próprio pensamento.
Os teólogos já dizem que Deus criou o mundo do nada. Ora, do nada, nada pode vir. Como é que você vai criar algo a partir do nada. Do nada, nada vem.
O todo não pode ter derivado do nada. Isso contradiz o mais elemental princípio da causalidade, a lei de causa e efeito. É absurdo pensar assim.
Portanto, podemos concluir que este algo tenha derivado de outro algo, como diz o mantra que vimos anteriormente. Mesmo que os teólogos afirmem o contrário.
Eles tem o direito de dizer o que lhes der na telha. Īśvara não requer um material diferente ou separado do seu próprio conhecimento para fazer o universo.
A matéria não existe separada do conhecimento da matéria. Matéria é palavra e significado, é nome e forma. É namarūpaḥ. E esses namarūpas são Īśvara, como já vimos. Por isso é que o mantra diz pūrṇamadaḥ pūrṇamidam: a causa é plenitude, o efeito é plenitude.
Tudo que o há é dado por Īśvara. Seu corpo é dado, o mundo é dado. Os papéis que você representa na vida são dados. Tudo é dado. Você não nasceu do pecado original, nem de Adão e Eva.
Os sete bilhões de pessoas deste planeta não nasceram de Adão e Eva. Você nasceu dos seus pais, e seus pais não pecaram quando fizeram você. Eles, aliás foram associados de Īśvara na criação.
Seus pais têm a inteligência, assim como você a tem, para construir um corpo humano inteiro a partir do conhecimento implícito nos seus próprios corpos.
A ciência está até agora tentando explicar como funciona o cérebro humano, dentre outras tantas manfiestações da inteligência criativa de Īśvara.
O conhecimento para que o cérebro exista é expressão de Īśvara. E, para que seu cérebro funcione, seus pais foram essenciais. Foram, dizemos, associados de Īśvara nessa criação.
É por isso que o Veda diz que a mãe e o pai são altares de adoração. Os pais, assim, são caminhos de Īśvara para que as crianças nasçam.
Unidades são conjuntos
O corpo humano é um conjunto de diferentes partes incrivelmente combinado e arranjado: ossos, músculos, veias e artérias, órgãos, e cada um desses elementos por sua vez é constituído por outros elementos menores ainda.
Śaṅkara diz manasapi acintyam: uma mente muito criativa é chamada acintyam.
E a corporeidade pertence a quem? À célula, aos diferentes órgãos que o compõem? Não. A corporeidade é um atributo de saccidānanda. O DNA é um atributo de saccidānanda.
O organismo inteiro é um atributo de saccidānanda. As leis naturais são atributos de saccidānanda. Todas as forças são atributos de saccidānanda. Assim, saccidānanda é o conhecimento dos namarūpas.
“No início era o verbo”, e o verbo é Jagat, tudo o que está aqui. “O verbo” é Īśvara, saccidānanda. No início havia conhecimento. E na criação há conhecimento.
Tudo o que está aqui é Īśvara. No início havia conhecimento, e agora há conhecimento. Não-manifestado no início. Manifestado depois.
Quando você parte a semente de uma figueira, o que você vê? Uma árvore pequena? Não, nada disso; mas o potencial da árvore está contido na semente.
Dadas as condições adequadas de nutrientes e tempo, a árvore cresce a partir daquela informação recolhida na semente.
Árvore não-manifestada no início. Manifestada depois. E isso é conhecimento. Esse é o exemplo que Uḍḍalaka Aruṇi dá para seu filho Śvetaketu na Chāndogyopaniṣad.
A criação é inteligentemente arranjada. Em termos de realidade, o universo é mais uma manifestação do que uma criação propriamente dita. É por isso que os cientistas fogem da palavra criação, já que ela está atrelada às religiões e às peculiares maneiras em que elas explicam isto.
Nós usamos a palavra sânscrita śṛṣṭiḥ, manifestação. Se eu estou aqui é porque devo ser a causa, não o efeito dessa manifestação.
॥ हरिः ॐ ॥
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Swāmi Dayānanda Saraswatī (1930-2015) ensinou a sabedoria tradicional do Vedanta por cinco décadas, na Índia e em todo o mundo. Seu sucesso como professor é evidente no sucesso dos seus alunos: mais de 100 deles são agora Swāmis, altamente respeitados como estudiosos e professores.
Dentro da comunidade hindu, ele trabalhou para criar harmonia, fundando o Hindu Dharma Acharya Sabha, onde chefes de diferentes seitas podem se reunir para aprender uns com os outros.
Na comunidade religiosa maior, ele também fez grandes progressos em direção à cooperação, convocando o primeiro Congresso Mundial para a Preservação da Diversidade Religiosa.
No entanto, o trabalho de Swāmi Dayānanda não se limitou à comunidade religiosa. Ele é o fundador e um membro executivo ativo doAll India Movement (AIM) for Seva.
Desde 2000, a AIM vem trazendo assistência médica, educação, alimentação e infraestrutura para as pessoas que vivem nas áreas mais remotas da Índia.
Havendo crescido em uma pequena vila rural, ele próprio entendeu os desafios particulares de acessar a ajuda enfrentada por pessoas de fora das cidades. Hoje, o AIM for Sevaestima ter ajudado mais de dois milhões de pessoas necessitadas em todo o território indiano.
Gratidão por seu texto, cada palavra, tantos ensinamentos.
Gratidão a sua generosidade de escrever e distribuir conhecimento
_/☆\_ Shantih