Imagine uma praia. Um lugar praticamente deserto. Mar limpo, ondas fortes quebrando na areia, criando uma espuma branca, como se fosse nuvem… Um céu azul, o sol tornando a temperatura deliciosa.
Garças voando numa dança aérea, tingindo o céu de branco e de liberdade.
Você chega nesta praia, tira os sapatos, e caminha sentindo o calor da areia massageando seus pés e, quando achar que deve, você deita.
Fecha os olhos e respira fundo, uma, duas, várias vezes, e deixa que o corpo se misture com a areia, que se torne areia…
Ouça o barulho das ondas que vem e vão ao sabor do vento.
Ondas vem trazendo paz e vão, levando o cansaço. Vem trazendo saúde e vão, levando as toxinas que você respira, ingere, assiste, pensa…
Ondas vem e você deixa que elas levem seus julgamentos, suas opiniões, suas desilusões.
Deixe que o ar toque sua pele, sinta este prana entrando por todos os seus poros, fortalecendo sua saúde, aumentando a sua imunidade, e deixando seu corpo leve como a garça que voa fazendo acrobacias no ar.
Pense nas pessoas que você ama e envolva-as nessa onda de paz.
Quando o calor do sol tomar conta do seu corpo, você se levanta devagar e anda em direção a água. Molha primeiro os pés, depois as mãos, os pulsos e joga água no rosto. Brinca com a água, pula, grita, dá gargalhadas como quando era criança.
Pense em todas as crianças que não podem brincar e mande esta alegria para elas. Sinta o sal da água penetrando na sua pele e limpando as toxinas que a vida urbana nos obriga a acumular e esfregue-se com esta água pura.
O mar está forte, mas mesmo assim, você entra devagar, furando umas ondas, pulando outras, enfrentando de frente aquelas que são mais fracas.
Às vezes a onda te pega de surpresa e te dá um caldo, mas você se levanta e se diverte com a brincadeira. Entrega-se a ela. Entrega-se ao mar.
E percebe que as ondas são como as adversidades da vida que às vezes nos derrubam, mas mesmo atordoados pelo caldo, nos levantamos e seguimos em frente.
Às vezes, conseguimos mergulhar antes que a onda estoure e assim, evitar que nos machuquemos. Como na vida, quando conseguimos intuir uma situação de risco e nos afastamos dela, poupando-nos de um sofrimento futuro. Outras vezes, recebemos a onda de frente e não caímos. Olhamos e encaramos de peito aberto, mesmo que ela estoure em nossa cara, mesmo que nos derrube, mas tentamos, arriscamos, e muitas vezes envergamos como um bambu, mas não caímos. Vencemos o inimigo de frente, com a cara e a coragem.
Ou outras vezes, quando inesperadamente, vem-nos uma coragem de gigante, de uma fonte que nem sabíamos que existia, e nos dá força para enfrentar as maiores perdas de cabeça erguida, na certeza de que tudo acontece por razões que vão além de nossa mera capacidade de compreender.
E muitas vezes, apesar de a onda ser forte, assustadora, conseguimos nadar em direção a ela e recebê-la em nosso corpo sem que isto nos desequilibre porque de alguma forma sabemos que devemos enfrentar o medo pois só assim podemos crescer. Então mergulhamos, mesmo sem saber o que vamos encontrar e quanto mais fundo entramos, mais o medo se afasta. Medo tem medo da coragem da gente….
No fundo do mar, não há mais ondas, há apenas um doce balanço e o silêncio. A paz…
Ao nos entregarmos ao mar, todas as resistências se quebram e nos tornamos mar. Sentindo a água tocar a nossa pele, temos certeza que somos como ela, e sabendo que nossa essência é a mesma da água, paramos de nos enxergar pequenos e de ter medo dela.
Tornando-nos mares, tomamos consciência de nossa força e plenitude e paramos de nos identificar com a imagem que víamos de fora, antes de entrarmos até o fundo, de que não teríamos força para encarar sua ondas.
No fundo do mar, não há ondas para nos desequilibrar. Há apenas harmonia…
O mesmo acontece quando descobrimos que somos um com tudo o que existe. Paramos de ver diferenças entre eu e o outro, entre gente e animal, entre o um e o todo.
Ao desaparecerem as diferenças, enxergamos aquele ponto do universo que reside dentro do nosso coração. Aquele ponto onde mora o deus que podemos vir a ser. Aquele ponto onde se esconde o ser completo que sempre fomos e esquecemos.
O mar é nosso espelho e quando olhamos para ele sem julgar, somos capazes de ver deus nele e assim, nos vermos refletidos em deus, que é o mar e que somos nós.
Temos o mesmo DNA do mar. Somos todos ondas do mesmo mar…
E assim, plenos de força e em paz conosco e com os demais, saímos devagar da água, e voltamos à nossa sala de prática, aos nossos deveres, trazendo esta sensação de paz e plenitude para o nosso dia.
Com um sorriso de contentamento no rosto, encerramos a meditação, sabendo que ‘a prática termina aqui, mas o yoga continua…’
Namaste!
Tereza é yogini. Vive, estuda, escreve e pratica em São Paulo. Dirigiu e produziu, em parceria com Daisy Rocha, o documentário Caminhos do Yoga, filmado na Índia em 2003.
Gostei muito do texto e pretendo coloca-lo em minhas aulas…..Obrigada
namastê
Gostei da mentalização. Mas não classificaria este exercício como meditação e sim relaxamento e descontração…
Costumo a dar este tipo de exercícios em minhas aulas e gostei muito da indução.
Parabéns!
Namastê!
Essa mentalização me deixou completamente relaxada. Gostei muito…vou me aprofundar nessa leitura.
Foi pura emoção ler a meditação sobre o mar/nós.Amo o mar e me sinto profundamente feliz em vê-lo todos os dias.Sempre falo com ele e agora tenho mais motivos para isto.A leitura foi maravilhosa e deixou-e com a alma bem mais calma.
Puro e perfeito o que você escreveu.Deus alargue suas fronteiras.Beijo.Elzi.
Gostei, Teresa. Pessoalmente tenho fascínio pelo mar e adoro as mentalizações desse tipo. Gostei muito da analogia que vc faz entre a entrega ao mar e a auto-entrega, ou Ishvara Pranidhana.
Namastê!