Práticas de Yoga para Recuperação Pós-Histerectomia e Durante a Quimioterapia
A histerectomia é uma cirurgia feita para remover o útero e, em alguns casos, outros órgãos reprodutivos. É um procedimento comum, geralmente realizado para tratar doenças como miomas, endometriose, cânceres ginecológicos e prolapso uterino.
A recuperação de uma cirurgia de histerectomia e o enfrentamento da quimioterapia associada com o câncer ginecológico que muitas vezes vem junto com ela, podem ser processos muito desafiadores, que exigem cuidados especiais com o corpo e a mente.
A prática do Yoga pode ser uma aliada poderosa no processo da recuperação dessa cirurgia e dos efeitos secundários da quimioterapia, pois traz benefícios tanto em nível físico quanto em nível emocional e mental.
Para quem passa por esses desafios, o Yoga oferece algumas práticas restauradoras muito eficientes, que podem ajudar no alívio de sintomas, promover a recuperação e ajudar no fortalecimento do sistema imunológico, sempre respeitando as limitações e necessidades de cada corpo.
1. Consulte o seu Médico Antes de Começar
Antes de iniciar qualquer prática de Yoga após uma histerectomia e/ou durante o tratamento de quimioterapia, é essencial obter a autorização do médico responsável. A condição de cada pessoa é única e o profissional de saúde poderá dar orientações específicas sobre o que é seguro e adequado.
Não recomendamos, de maneira alguma, iniciar as práticas sem a aquiescência e o acompanhamento do médico que responde pelos cuidados .
2. Pratique Āsanas Suaves e Restauradores
Durante a recuperação, é recomendado começar com posturas suaves e restauradoras, mesmo nos casos de mulheres que já tenham experiência prévia com a prática de Yoga antes da cirurgia.
O foco, no início, deve ser em fazer alongamentos suave, leves e sem esforço, bem como em promover posturas que trabalhem a mobilidade articular e o relaxamento profundo.
Āsanas muito intensos ou que exigem um grande esforço devem ser evitados, pois o corpo ainda está se recuperando e pode não estar pronto para atividades mais exigentes.
O mesmo vale para a prática de prāṇāyāmas muito vigorosos, que envolvam por exemplo retenções prolongadas com os pulmões cheios ou vazios, bem como as práticas de técnicas como mūlabandha ou aśviṇīmudrā (ativações contínua e ritmada do assoalho pélvico): essas práticas devem ser evitadas até o médico considerar que o pós-operatório foi concluído com sucesso.
Alguns āsanas eficientes e úteis:
- A postura do cisne, hamsāsana: esta postura, sentando sobre os calcanhares, deitando sobre as coxas e estendendo os braços à frente, ajuda-nos a alongar a musculatura ao longo da coluna vertebral e a relaxar o quadril, os braços e ombros, proporcionando uma sensação de conforto e segurança. Recomenda-se permanecer nela por dez respirações longas.
- A basculação pélvica de joelhos, biḍalāsana: esta é a série dos movimentos do gato, na qual fazemos flexões e extensões da coluna que ajudam a aliviar a rigidez e a melhorar a mobilidade. Repetimos esse movimento dez a doze vezes, associando a extensão da coluna com cada inspiração e a flexão com cada expiração. Respiramos de maneira lenta e consciente.
- O āsana da ponte, setubandhāsana: com foco em abrir o peito e fortalecer os glúteos e a região lombar, a postura da ponte pode ser realizada de forma suave para aumentar a força da parte inferior do corpo sem sobrecarregar a área abdominal. Consiste em elevar o quadril a partir da posição deitada de costas no chão, com os pés paralelos. Permanecemos na postura por 10 respirações longas e profundas, na medida do possível.
- A postura do pombo, de costas, suptakapoṭāsana: esta posição permite relaxar profundamente a região lombar e o quadril. É feita deitado com a lombar no solo, cruzando a perna esquerda sobre a direita, passando o braço esquerdo pelo espaço entre as coxas, e entrelaçando os dedos das mãos na tíbia direita. Depois devemos repetir o mesmo para o outro lado. Respirar lentamente 10 ciclos para cada lado é o quanto basta.
- A torção deitada, suptavakrāsana: com as costas no chão, esta postura consiste em juntar e flexionar as pernas e o quadril, e trazê-las alternadamente para ambos os lados, com os joelhos unidos e próximos ao tronco. O ideal é permanecer nesta torção durante 10 respirações lentas para cada lado.
- Postura com as pernas na parede, viparītakaraṇī mudrā : deite de costas no solo e deixe as pernas confortavelmente estendidas na vertical, ao longo de uma parede, com os calcanhares apoiados nela. Permaneça respirando profundamente nessa posição, entre 10 e 15 ciclos.
3. Respiração Alternada, Nāḍīśodhāna Prāṇāyāma
A respiração é um dos pilares do Yoga e pode ser uma ferramenta poderosa para lidar com os efeitos colaterais indesejáveis da quimioterapia, como a fadiga, a ansiedade e a falta de apetite.
A prática do nāḍīśodhāna prāṇāyāma, exercícios de respiração polarizada e expansão da vitalidade, pode igualmente ajudar a reduzir o estresse, aumentar os níveis de disposição e energia e trazer uma sensação de equilíbrio.
Tente o Prāṇāyāma de Respiração Alternada:
- Sente-se confortavelmente, de preferência em um ambiente tranquilo.
- Inspire profundamente pela narina esquerda nariz, expandindo o abdômen, e expire lentamente pela direita.
- Depois, inspire pela direita, troque de narina e expire pela esquerda.
- Faça isso 10 vezes por cada lado.
- Você pode introduzir breves pausas com os pulmões cheios, mas evite reter a respiração por um período muito prolongado.
- Concentre-se no ritmo da respiração, fazendo com que ela se torne mais profunda e relaxante.
- Aqui você encontra mais detalhes sobre este prāṇāyāma.
- Aqui temos uma prática de nāḍīśodhāna guiado:
4. Foco no Relaxamento e Alívio do Estresse e da Pressão Emocional
O estresse emocional e físico pode ser um desafio significativo durante o tratamento de quimioterapia e a recuperação pós-cirúrgica. A prática de Yoga restauradora, associada a técnicas de relaxamento, pode ser útil para reduzir a tensão muscular, melhorar o sono e proporcionar um momento de pausa mental.
Experimente um Yoganidrā:
- Deite-se confortavelmente no tapete de Yoga, com os braços ao longo do corpo e as palmas das mãos voltadas para cima.
- Feche os olhos e leve sua atenção para a respiração, permitindo que ela se torne lenta e tranquila.
- Permaneça nesta postura por 5 a 10 minutos, se possível, para proporcionar um descanso profundo.
Aqui e aqui você encontrará diversas opções para praticar essa técnica de relaxamento consciente em aulas guiadas, gravadas por Pedro Kupfer.
5. Prática Regular e Cuidado com os Limites
Embora a prática de Yoga possa ser muito benéfica, é fundamental respeitar os limites do seu corpo e praticar de forma gradual. Comece com sessões curtas, de 10 a 15 minutos, e aumente a duração conforme for se sentindo mais confortável. Caso sinta dor ou desconforto, interrompa a prática imediatamente e descanse ou faça um yoganidrā.
A consistência é mais importante do que a intensidade. Mesmo que você não consiga praticar por longos períodos, pequenas sessões diárias podem ser extremamente benéficas.
6. Prática de Meditação
O Yoga recomenda práticas meditativas que podem resultar profundamente relaxantes desde os pontos de vista emocional e mental.
Aqui você encontra uma playlist de práticas guiadas pelo Pedro com muitas opções de temas e extensões variadas dessas vivências meditativas.
Aqui, por exemplo, você pode fazer a prática da meditação da expansão:
7. Fortalecimento do Sistema Imunológico e Bem-Estar Emocional
Além de fortalecer o corpo, a prática de Yoga pode auxiliar na melhoria do estado emocional, algo essencial durante a quimioterapia. Técnicas de meditação e mindfulness ajudam a cultivar uma atitude positiva e resiliente, fundamentais para o enfrentamento do tratamento.
A prática de posturas como viparītakaraṇī mudrā, com as pernas na parede, é excelente para ajudar a promover o fluxo sanguíneo e estimular a circulação, enquanto a meditação guiada pode proporcionar alívio do estresse e melhorar o foco da mente.
8. Atenção à Alimentação e Hidratação
Ao longo do processo da quimioterapia, a alimentação e a hidratação adequadas são essenciais. O Yoga pode ser uma prática complementar ao cuidado com o corpo, mas é importante lembrar que a nutrição adequada e o consumo de líquidos também são fundamentais para a recuperação e o bem-estar geral.
Conclusão
O Yoga, com suas posturas suaves, técnicas de respiração e práticas de relaxamento, pode ser um excelente complemento no processo de recuperação após uma histerectomia e/ou durante a quimioterapia.
Sempre de acordo com a orientação médica e a ajuda e o acompanhamento de um(a) instrutor(a) competente, é possível adaptar as posturas de forma que respeitem as necessidades do corpo em cada fase do tratamento, promovendo o equilíbrio entre corpo e mente.
Ao praticar Yoga de forma consciente e gentil, é possível encontrar alívio para o corpo e conforto emocional durante essa jornada desafiadora em direção à cura. Boas práticas!
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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