O sorriso de Kṛṣṇa é um lindo mistério a ser desvendado. Já faz muitos anos que ouvi por primeira vez o mantra “entrego, confio, aceito e agradeço”, dos lábios do incrível e saudoso professor Hermógenes.
Lembro que, ao ouvir por primeira vez essas quatro palavras juntas, tive a mesma sensação de maravilhamento que senti noutras oportunidades, ao ouvir ensinamentos transformadores da boca dos mestres realizados que tive a oportunidade de conhecer.
Uma das grandes virtudes desses mestres é que eles podem transmitir a visão transformadora do Yoga através de palavras simples que não apenas ficam na memória mas tocam profundamente o coração. Hermógenes é esse tipo de mentor, difícil de se encontrar.
Lá se vão quase duas décadas desde o momento em que escutei por primeira vez estas palavras numa palestra que ele deu num espaço de Yoga em Florianópolis. E muitas outras vezes as ouvi é li noutros lugares.
E sempre elas tiveram (e continuam tendo) o mesmo peso, a mesma carga, a mesma promessa de que as coisas podiam ser mais do que pareciam, de que a vida não devia ser só aquela cilada da qual era preciso ser um ninja para poder sair.
Penso que as quatro palavras do aforismo tenham o mesmo peso. E mais peso ainda têm a união delas nessa ordem específica, pelo que revelam. Bom, o convite que recebi foi para refletir sobre a terceira das quatro palavras: aceitação.
Aceitação, no contexto do Yoga, é um valor muito bonito e transformador. Aqui, a palavra significa algo diferente daquilo para o que ela aponta por exemplo quando aceitamos aqueles termos de uso do computador que jamais lemos.
Aceitar não é, por outro lado, cultivar a resignação sôfrega de quem não consegue manter a equanimidade ou tende a se colocar como vítima das circunstâncias.
Sem ser o professor Hermógenes, e distando muito da sua sabedoria, atrevo-me a dizer que quando escolheu a palavra aceitação quis apontar para a virtude de manter o contentamento e o astral altos; não apenas quando as coisas estão fluindo da maneira que desejamos ou esperamos, mas igualmente quando a vida nos coloca aqueles inevitáveis desafios.
Aceitar situações das quais gostamos, ou aquelas que nos surpreendem agradavelmente é muito fácil. Aceitar coisas que nos são indiferentes tampouco implica algum desafio especial.
Agora, penso que a palavra aceitação esteja nesta frase justamente para nos lembrar de como lidar de maneira equânime com os obstáculos que vão nos ensinar alguma coisa.
Digo isto pois é fato que se as coisas só fluírem para nós na forma do conforto e da facilidade, não aprenderemos nunca nada. Aprendemos através dos desafios, das limitações e das dificuldades.
Como diz um ditado das gentes do mar, que ouvi do meu irmão, cuja casa é um veleiro: “mares calmos não fazem bons marinheiros”.
Porém, esse aprendizado não precisa ser sôfrego. É possível enfrentar desafios, com um sorriso nos lábios e paz no coração. É possível relaxar e apreciar do mar tormentoso como ele é.
Kṛṣṇa, no campo de batalha, sorri
Foi isso o que Kṛṣṇa ensinou o príncipe Arjuna à beira do campo de batalha: sem perder o sorriso nem a calma, apesar da trágica guerra fratricida que estavam vivendo.
O sorriso de aceitação surge da apreciação da ordem maior, de que nela, há um lugar para cada pessoa, para cada coisa e circunstância. A aceitação equânime implica, a priori, compreender a diferença entre o que podemos e o que não podemos mudar.
E, alegremente, nos ajeitar dentro dessas situações, aceitando as pessoas e as coisas como são, vivendo conscientes e aplicando essa visão libertadora a cada momento.
Com o sorriso de Kṛṣṇa.
॥ हरिः ॐ ॥
https://www.yoga.pro.br/sobre-o-maha-mantra/
Aqui, Swāmi Dayānanda fala sobre o Mahamantra
Aqui há um lindo texto sobre Śrī Kṛṣṇa por Swāmi Dayānanda
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Jejum verbal campista
Que lindo. Gratidão.
“Um doloroso choro
Recebe a dor que chega nessa casa de hóspedes que herdei.
Dantes, essa dor reinava sozinha, sem a dona da casa por perto
Ficava o tempo que queria e passava a chamar-se sofrimento.
E indiferente a dona e aos outros hóspedes…
Tomava conta de tudo! Agora,
Um contentamento inexorável por trás,
Olhando e adorando aquilo tudo, sinto.
Que prazer é esse que chegou agora?
Nem bateu na porta….já estava e não vi ou dormia?
De repente, Essa dor vai encontrando seu lugar na minha hospedaria,
E envergonhada , Entrega sua vontade de reinar ao verdadeiro
Rei do recinto, Que Aceitou sua visita.
Sakshi mostra seu lado fanfarrão Quando Krishna sorri!
E a Mente, a dona da hospedaria,
Nele Confia quando De dolorosas
As lágrimas tornam-se Gozozas E
Agradece por todos conviverem em seus lugares.”
Modificada um pouquinho com a inspiração desse belo texto, e mesmo distando também da grandiosidade poética do mestre Hermógenes, compartilho meu depoimento poético que traduziu um dia, uma experiência real.
Namaste!
Hari Om!
Lindas e lúcidas suas palavras. Obrigada pela partilha!
Que coisa linda…estou passando exatamente por tudo isso. E vc não imagina como suas linhas me tocaram. Harih Om