Começando, Pratique

Sádhana

Para ver, meus olhos são o sādhana. Para ouvir, meus ouvidos são o sādhana. E, para a iluminação, qual é o sādhana? Iluminação quer dizer autoconhecimento. Qual é o sādhana para o conhecimento? O sādhana para o conhecimento é aquilo que nos traz esse conhecimento.

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Há uma palavra muito popular hoje em dia entre as pessoas “espirituais”. Essa palavra é sādhana. O quanto essa palavra é compreendida e o que ela significa para cada pessoa, nós não sabemos. Mas o fato é que ela atrai muita gente, que a usa com orgulho, dizendo “eu me dedico ao sādhana”.

Porém, em sânscrito, a palavra não aponta nessa direção “espiritual” apenas. Sādhyate anena designa algo que é conquistado através de algum meio, e que não pode ser conseguido por nenhum outro.

Se você veio para aqui de carro, o carro foi seu sādhana. Quem veio de avião teve uma aeronave como sādhana. Dependendo do que você quer realizar, você escolhe um sādhana. Quando um cirurgião faz uma cirurgia, o instrumentista sabe exatamente o que ele precisa a cada momento. Cada necessidade do médico tem um instrumento, um sādhana diferente.

Para ver, meus olhos são o sādhana. Para ouvir, meus ouvidos são o sādhana. E, para a iluminação, qual é o sādhana? Iluminação quer dizer autoconhecimento. Qual é o sādhana para o conhecimento? O sādhana para o conhecimento é aquilo que nos traz esse conhecimento. O ensinamento não é conhecimento “intelectual”. É conhecimento. Há conhecimento direto e conhecimento indireto. Quando você pode verificar algo por seus próprios meios, o conhecimento é direto. Senão, é indireto.

Assim, dizer “conhecimento intelectual” é como dizer “atitude mental”. Ambos são pleonasmos que podemos desconsiderar. Nós somos muito comprometidos com o śravanasādhana, o sādhana de escutar o ensinamento. Não estamos interessados em conhecimento “intelectual”. Estamos interessados em conhecimento. O conhecimento daquilo que é.

O conhecimento daquilo que não é indireto só pode ser direto. Se a gente diz “eu estou confundido”, a palavra confundido é um rótulo grudado em mim. Eu não vivo confundido, no entanto, o tempo todo da minha vida. Posso ter alguma confusão em relação a algum assunto, mas essa não é minha natureza.

A confusão tem solução. Essa solução é o conhecimento. Assim, quando você vem e senta aqui para ouvir o ensinamento, você não está acumulando conhecimento “intelectual” ou conhecimento indireto. De fato, você não está acumulando nada. No melhor dos casos, talvez, você esteja se livrando de coisas. O conhecimento é mais uma correção da visão. Portanto, escutar o ensinamento é chamado sādhana. Um sādhana para corrigir o erro fundamental.


Tradução de Pedro Kupfer.

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Swāmi Dayānanda Saraswatī (1930-2015) ensinou a sabedoria tradicional do Vedanta por cinco décadas, na Índia e em todo o mundo. Seu sucesso como professor é evidente no sucesso dos seus alunos: mais de 100 deles são agora Swāmis, altamente respeitados como estudiosos e professores.

Dentro da comunidade hindu, ele trabalhou para criar harmonia, fundando o Hindu Dharma Acharya Sabha, onde chefes de diferentes seitas podem se reunir para aprender uns com os outros.

Na comunidade religiosa maior, ele também fez grandes progressos em direção à cooperação, convocando o primeiro Congresso Mundial para a Preservação da Diversidade Religiosa.

No entanto, o trabalho de Swāmi Dayānanda não se limitou à comunidade religiosa. Ele é o fundador e um membro executivo ativo do All India Movement (AIM) for Seva.

Desde 2000, a AIM vem trazendo assistência médica, educação, alimentação e infraestrutura para as pessoas que vivem nas áreas mais remotas da Índia.

Havendo crescido em uma pequena vila rural, ele próprio entendeu os desafios particulares de acessar a ajuda enfrentada por pessoas de fora das cidades. Hoje, o AIM for Seva estima ter ajudado mais de dois milhões de pessoas necessitadas em todo o território indiano.

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3 respostas para “Sádhana”

  1. Muito bom!!! Eu, que sou professora, sei bem que ” O conhecimento é mais uma correção da visão”.Swami Dayananda Saraswati.

  2. Nesse último Yoga pela Paz, Swami Digambar, falando sobre Raja Yoga, comentou sobre a diferença do praticante e do sádhaka.
    O praticante teria uma “prática” de yoga num determinado momento a fim de pegar do yoga o que ele desejasse para si que o yoga pudesse lhe proporcionar.
    Sendo assim, se no momento de sua “prática”, algum amigo lhe chamasse para o cinema, ele trocaria aquela por este. Assim, ele segue sustentando sua representação que tem sobre o que é o yoga a fim de lhe satisfazer.
    Pontuando que definição é uma coisa e representação é a imagem que fazemos dessa coisa, na maioria das vezes tendo nossos condicionamentos de fundo. Tenho pensado nisso ultimamente, ainda mais em relação ao yoga, que tem muitas representações diferentes.
    Já o sádhaka tem uma visão mais ampla e conhece o que é o yoga, sendo portanto mais perseverante e entendendo que o yoga é uma fuidez de eventos da vida do qual ele se entrega para alcançar a meta.
    Fazendo o link aqui com esse texto, de quanto o yoga é compreendido ou não, assim como o uso da palavra sádhana, se o sádhana é o meio que pode ser usado para se chegar a algum lugar, o conhecimento do que é o Yoga, para além das representações que temos é o sádhana para o sádhaka. O conhecimento como sádhana da Realização.
    Grata por este texto. Me ajudou nas reflexões que venho fazendo sobre o papel que o professor tem de transformar as representações que o praticante(ajudado pela mídia e afins) tem sobre o yoga. Namaste!
    Om namah shivaya!
    Pati.

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