A volta à casa
तदा द्रष्टुः स्वरूपेऽवस्थानम् ॥ ३ ॥
tadā draṣṭuḥ svarūpe’vasthānam ॥ 3 ॥
Então, aquele que vê se estabelece em sua própria natureza.
tadā = então, somente depois
draṣṭuḥ = possesivo de draṣṭṛ, “aquele que vê”, o Ser, a Consciência Testemunha
svarūpa = em sua própria natureza. Literalmente, “sua própria forma”
avasthānam = estabilidade, estado de consciência
O sábio Patañjali nos ensina que o natural (svarūpa) do ser humano é o próprio Yoga. A palavra svarūpa, que significa literalmente “sua própria forma”, define a volta para casa, o reconhecimento de si mesmo como alguém livre de limitações.
É importante lembrar que Yoga não é um estado de consciência nem uma experiência ou o fruto de uma experiência, mas uma atitude, uma forma de estar, de viver.
Nesse reconhecimento, o yogin repousa em sua própria natureza. A realização advém quando o yogin deixa de se deixar arrastar pelos vṛttis, movimentos da psiquê.
Uma vez que a pessoa se vê livre dessas flutuações e o apego aos frutos delas, essa identificação. Esse é o objetivo do Yoga, chamado kaivalya ou libertação, por Patañjali. Como já vimos, essa palavra é a que dá título ao quarto e ultimo capítulo do Yogasūtra.
Neste sūtra, ao mesmo tempo em que o sábio nos explica o que acontece em nirodha, a cessação da identificação com os pensamentos, também define e limita o propósito do Yoga.
Esse propósito, segundo Patañjali, é assumir o que somos ou, usando suas palavras, nos estabelecer “na nossa própria natureza”. Noutras palavras, voltarmos para casa. Lembrarmos quem somos. Assumir a nossa própria natureza, que é de paz e plenitude ilimitadas.
A palavra draṣṭṛ, que significa literalmente “aquele que vê”, aponta para o Ser, que será chamado Ātma e Puruṣa nos sūtras subsequentes.
Para compreender quem é, o yogin precisa deixar de lado a identificação com os conteúdos mentais, os pares de opostos como atração e aversão, e os julgamentos limitadores.
Vigília distraída ou vigília lúcida?
Passar da ignorância existencial (avidyā) para aquilo que é o “natural” (svarūpa) é o primeiro passo. Adquirir a capacidade de permanecer na própria natureza, o segundo. Isso significa passar da vigília distraída (vyutāna citta) para a vigília lúcida (nirodha citta).
Como exercício preliminar, para compreender como viver essa vigília lúcida, o praticante explora nas práticas os diferentes graus de meditação e samādhi. Kaivalya significa literalmente “isolamento”.
No entanto, esse termo não se refere a ficar de costas para as realidades da vida, nem a fugir dos próprios problemas. A palavra isolamento não aponta para uma experiência nem para um estado de consciência, mas para a capacidade de separar-se dos próprios medos, crenças, condicionamentos.
Esse é o terceiro e último passo, no qual a identificação com os vṛttis simplesmente desaparece, ao invés de ficar temporariamente suspensos (nirodha), como nos estágios anteriores.
Esse estágio final da prática é abordado no último capítulo desta obra chamado justamente de Kaivalyapāda ou “Caminho da Libertação”.
॥ हरिः ॐ ॥
+ sūtras de Patañjali aqui
Veja aqui um interessante
manuscrito do Yogasūtra em árabe
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Querido, o que quer dizer: ॥ हरिः ॐ ॥ ao final do texto, por favor?!
॥ हरिः ॐ ॥ é Hariḥ Oṁ, a saudação dos yogis.
Significa “[O Conhecimento do] Ser (Oṁ) remove (Hariḥ) [o sofrimento]”.
Tudo de bom!
Yoga Energia comtagiante Wagner xavier
Vivenciando yoga Wagner xavier
Sou muito feliz por praticar. Faz parte da minha vida!
Gostei muito da explicação. Obrigada Pedro.