Uma lenda sobre o nascimento do sábio conta que Viṣṇu Narāyaṇa, Aquele que Sustenta o Universo, descansava sobre a serpente de mil cabeças, Ādiśeṣa, também chamada Ananta, a Infinita, que representa o espaço ilimitado.
Diante de Viṣṇu, Śiva e Kālī estavam a dançar o sagrado tāṇḍava, a dança que marca os ciclos de expansão e dissolução da criação. O deus ficou extasiado com o movimento, o ritmo e a dança do casal divino.
Imediatamente seu corpo começou a vibrar tanto no ritmo da dança que acabou por provocar um enorme peso sobre o corpo da serpente. No final da dança, Ādiśeṣa perguntou a Viṣṇu o que tinha acontecido. Ao ouvir sobre a dança sagrada, o deus-serpente ficou interessado em aprendê-la, para dançar para ele.
O deus ficou impressionado com a devoção da serpente e disse-lhe que Śiva iria abençoá-lo e que nasceria em sua próxima encarnação como alguém que iria enriquecer a humanidade com sua sabedoria.
Ādiśeṣa começou imediatamente a especular sobre quem seria sua mãe. Ao mesmo tempo, uma yoginī imensamente sábia, chamada Goṇikā, estava desejando ter um filho para transmitir-lhe a sabedoria do Yoga. Assim, ela prostrou-se perante Sūrya, o deus-sol, fazendo-lhe a única oferenda que conseguiu, um pouco de água, pedindo-lhe um filho.
Vendo a cena desde céu, Ādiśeṣa soube que ela era a mãe que procurava. Quando Goṇikā estava fazendo a oferenda, ficou maravilhada ao ver uma pequena serpente que se materializou em suas mãos e começou momentos depois a adquirir forma humana.
Ādiśeṣa, já como bebê humano, prostrou-se diante dela e suplicou-lhe para que o aceitasse como filho. Acolhendo-o, Goṇikā o chamou Patañjali, que significa “aquele que caiu do céu durante a oferenda”. Pata significa “caído” e añjali, “oferenda”. Quando o menino cresceu, aprendeu com a sua sábia mãe o Yoga, que deixaria registrado no Yogasūtra.
Goṇikā é uma das Muitas Mestras de Yoga
Esta é uma das muitas histórias da tradição do Yoga que apresentam mulheres como yoginīs e mestras (gurvīs, em sânscrito) e que evidenciam o importante papel que elas sempre tiveram ao longo da história.
Na vasta literatura do Yoga, elas aparecem ora como estudantes ou alunas, como é o caso de Maitreyī no diálogo sobre o amor da Bṛhadāraṇyakopaniṣad, ora como mestras, como é o caso de Sulabhā ou da própria Goṇikā.
Se quiser saber mais sobre o importantíssimo papel representado pela mulher no Yoga antigo, recomendamos a leitura deste texto: Yoga: Proibido para Mulheres?
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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