Este é o segundo estágio da meditação Ajapajapa, também chamada Sohaṁ.
Ela tem como objeto o som natural da respiração e inclui ainda visualizações e a prática de kecarīmudrā e ujjayī prāṇāyāma.
॥ हरिः ॐ ॥
Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Inspire profundamente e repita o mantra Oṁ durante em três fôlegos: Oṁ, Oṁ, Oṁ.
Espinha ereta. Cabeça na vertical. Mãos em jñānamudrā, nos joelhos. Boca e olhos fechados. Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado.
Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude e estabilidade.
Faça uma rotação da consciência por cada uma das partes do corpo: cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.
Localize e elimine deliberadamente quaisquer tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo.
Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável.
Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões. Consciência total no corpo físico denso: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele.
Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atentividade ou afetar o corpo.
Permaneça absolutamente estável: faça kayasthairyaṁ. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha (1/2 minuto em silêncio).
A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração. Permita-se ser respirado pelo ar.
Permaneça como observador imóvel do processo respiratório. Seja testemunha (1 minuto em silêncio).
Faça kecarīmudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta.
Mantenha o kecarī até o final da prática (1/2 minuto em silêncio). Agora, faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sonora.
Respire sem esforço, mantendo a glote elevada, mas descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta (1/2 minuto em silêncio). Faça este som suave o tempo todo (1/2 minuto em silêncio).
Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo do ar.
Associe o mantra so com a inspiração, e o mantra haṁ com a exalação. Não perca nenhuma respiração.
A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada exalação, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são uma coisa só. So ao inspirar, ham ao exalar. Perfeita sincronia (3 minutos em silêncio).
Agora, deixe de repetir o mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao exalar, ouça o haṁ.
Este som sempre existiu, existe agora e existirá até a exalação final. Haṁ so, haṁ so.
O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.
Consciência contínua e intensa no mantra da respiração. Consciência total (3 minutos em silêncio).
Tome consciência da suṣumṇānāḍī, o canal energético que conecta o cakra básico com o cakra do intercílio.
Visualize-o como um tubo luminoso entre o cóccix e o intercílio, entre o mūlādhāra e o ājñacakra (1/2 minuto em silêncio).
Ao inspirar visualize esse tubo de energia preenchendo-se de luz e energia. Ao exalar, visualize que a energia volta para a base da coluna (3 minutos em silêncio).
Desperte a experiência do canal psíquico: ao inspirar, a consciência e o prána ascendem do cóccix ao intercílio, passando pelos cakras ao longo da coluna. Ao exalar, a consciência e a energia voltam para o cóccix.
Continue assim (1 minuto em silêncio). A cada inspiração, repita mentalmente so e acompanhe a passagem da energia pela coluna, chegando ao intercílio.
A cada exalação repita mentalmente haṁ, e sinta a energia descendo até a base da coluna. A respiração, o prāṇa e o mantra são uma coisa só (3 minutos em silêncio).
Agora concentre-se unicamente no som. O som da respiração é muito mais que o ‘eco’ mental que acontece quando se repete uma palavra muitas vezes.
É uma ferramenta transformadora, que se reflete no estado de espírito em que você está agora (3 minutos em silêncio).
Sinta o mantra ecoando na consciência. Observe o espaço interior onde o mantra ecoa. Observe o intervalo entre o haṁ e o so.
Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe esses espaços onde aparece o vazio.
Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo.
Desvincule-se do seu pensamento. Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece (3 minutos em silêncio).
Deixe a respiração suave e espontânea. Preste atenção ao som interno. Não interessa que o produz: não é necessário sabê-lo.
Perceba essa vibração e a consciência movendo-se dentro dela. Deixe que a consciência venha para dentro e observe a respiração.
Veja como você percebe a inspiração e a expiração, sem controlar nada (1 minuto em silêncio).
O simples fato de estar observando a respiração já muda o seu ritmo. A consciência está totalmente concentrada no fluxo do ar.
No instante em que termina a exalação e começa a inspiração não há passado, nem futuro: apenas presente puro (1 minuto em silêncio).
Perceba a expansão da consciência ao inalar: talvez fique limitada ao corpo ou ao espaço pessoal; talvez, se estenda além do eu.
Ao exalar, na contração do pulso prânico, volte ao espaço interior do corpo ou a algum ponto concreto nele (1 minuto em silêncio).
Enquanto isso mantenha o ujjayī prāṇāyāma, o percurso da passagem psíquica por cada cakra, e o mantra do prāṇāyāma. Perceba como afloram pensamentos à consciência.
Mas conserve o foco de atenção na mente. Veja como ela é diferente da consciência. Perceba a natureza dos pensamentos que afloram à consciência: agradáveis ou não.
Conserve este principio básico para poder manter a mira na consciência, porque ela contém aspectos que lhe permitirão indagar mais.
Mas lembre que a psiquê é apenas uma sequência de pensamentos. Nada mais. (2 minutos em silêncio).
Ao sentir a mente internalizada e tranqüila, cesse o mantra, concentre-se no ājñacakra e observe.
Faça bhrūmādhyadṛṣṭi (3 minutos em silêncio). Neste momento, externalize a mente.
Encerre esta prática e permita que aos poucos o seu pensamento flua através dos sentidos e as experiências sensoriais.
Tome consciência das experiências da mente, do corpo e do ambiente. Externalize a mente. Externalize os sentidos.
Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática de ajapajapa finaliza aqui. Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ.
॥ हरिः ॐ ॥
Como praticar a meditação Ajapajapa?
O texto acima pode usar-se como modelo de elocução. Você estuda a técnica e grava a sua própria voz, lendo pausadamente (uma frase a cada quatro segundos, aproximadamente).
Considere respeitar os tempos que aparecem sugeridos entre parêntesis (ou reduzindo-os proporcionalmente).
Outra opção é fazer pequenos grupos de meditação com seus amigos, onde cada um pode usar os textos como orientação para dar a prática para os outros.
Se você for professor de Yoga, poderá igualmente usar essa prática da meditação sohaṁ nas suas aulas, tomando o cuidado de escolher a técnica mais adequada para cada pessoa ou grupo.
॥ हरिः ॐ ॥
Extraído do livro Yoga Prático
Pratique os outros dois
estágios da meditação ajapajapa:
Ajapajapa, Estágio 1
Ajapajapa, Estágio 3
॥ हरिः ॐ ॥
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Vivenciando armonia na meditação Wagner Xavier